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Multidões, alegria, entusiasmo

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Portugal sorriu com o sorriso do Papa Bento XVI. Quatro dias intensos, com uma mensagem de verdade e um apelo à missão foram algumas das indicações que o Santo Padre deixou pelas passagens em Lisboa, Fátima e Porto de 11 a 14 de Maio, numa das visitas mais participadas e marcantes do seu pontificado.

 

 

O nosso país vive momentos difíceis de crise, conturbados ainda por algumas notícias que abalam a vida da Igreja, mas a vinda de Bento XVI não esmoreceu os fiéis portugueses, que quiseram saudar de perto o Santo Padre. Muitas foram as pessoas que não perderam a oportunidade de ver o Papa de perto, e mesmo os menos abertos, em avaliação final, certamente mudaram em algo a sua perspectiva, com a alegria contagiante de Bento XVI, juntamente com a mensagem actual e esclarecedora do caminho.

Depois de ter passado por Lisboa, o Santo Padre dirigiu-se para Fátima, e no caminho, o helicóptero fez um desvio para sobrevoar rapidamente o Santuário de Cristo Rei. Ali o Pontífice foi saudado por cerca de mil crianças da Diocese de Setúbal, que acenaram com lenços brancos e desenharam no chão as palavras «bem-vindo». Depois da mensagem ao Santuário, no dia anterior, este foi também um momento de grande significado foi para a Diocese sadina.

 

Fidelidade à Igreja

 

Eram imensos os peregrinos que chegaram a Fátima vindos a pé de suas casas, num peregrinar já habitual, mas que este ano tinha um sabor diferente, e a chegada de Bento XVI à Cova da Iria foi de apoteose, com milhares de pessoas na rua e outras tantas pelo recinto mariano. Pouco depois, houve o seu primeiro encontro, que aconteceu com os sacerdotes e diáconos, religiosos e seminaristas na celebração das vésperas.

Bento XVI pediu fidelidade a todos, e desejando que «neste Ano Sacerdotal, já a caminho do fim, uma graça abundante desça sobre todos para viverem a alegria da consagração e testemunharem a fidelidade sacerdotal alicerçada na fidelidade de Cristo. Isto supõe, evidentemente, uma verdadeira intimidade com Cristo na oração, pois será a experiência forte e intensa do amor do Senhor que há-de levar os sacerdotes e os consagrados a corresponderem ao seu amor de modo exclusivo e esponsal», disse.

O Sumo Pontífice disse ainda aos sacerdotes que «a fidelidade à própria vocação exige coragem e confiança, mas o Senhor quer também que saibam unir as forças; sendo solícitos uns pelos outros, sustentando-vos fraternalmente. Os momentos de oração e estudo em comum, de partilha das exigências da vida e trabalho sacerdotal são uma parte necessária da vossa vida».

Aos seminaristas, o Papa encorajou-os a serem «conscientes da grande responsabilidade que vão assumir. Examinai bem as intenções e as motivações; dedicai-vos com ânimo forte e espírito generoso à vossa formação. A Eucaristia, centro da vida do cristão e escola de humildade e serviço, deve ser o objecto principal do vosso amor. A adoração, a piedade e o cuidado do Santíssimo Sacramento, durante estes anos de preparação, farão com que um dia celebreis o Sacrifício do Altar com unção edificante e verdadeira», referiu.

A terminar, Bento XVI fez a consagração solene dos sacerdotes do mundo inteiro, diante do Santíssimo Sacramento exposto, ao Imaculado Coração de Maria.

Depois deste encontro, o Papa esteve ainda presente na recitação do Terço que antecede sempre a Procissão das Velas. Ali deixou uma mensagem aos peregrinos: «Não tenhais medo de falar de Deus e de ostentar sem vergonha os sinais da fé, fazendo resplandecer aos olhos dos vossos contemporâneos a luz de Cristo, tal como a Igreja canta na noite da Vigília Pascal que gera a humanidade como família de Deus», disse.

 

«Vim para rezar»

 

No dia seguinte, dia 13 de Maio, o ponto alto das celebrações, estavam 500 mil pessoas, vindas de todos os locais do mundo, no recinto do Santuário de Fátima, a receber o Santo Padre. 

Bento XVI referiu, na sua homilia, que veio a Fátima «para rezar, com Maria e tantos peregrinos, pela humanidade acabrunhada por misérias e sofrimento». «Em suma, com os mesmos sentimentos dos Beatos Francisco e Jacinta e da Serva de Deus Lúcia, vim a Fátima para confiar a Nossa Senhora a confissão íntima de que “amo”, de que a Igreja, de que os sacerdotes “amam” Jesus e n’Ele desejam manter fixos os olhos ao terminar este Ano Sacerdotal, e para confiar à protecção materna de Maria os sacerdotes, os consagrados e consagradas, os missionários e todos os obreiros do bem que tornam acolhedora e benfazeja a Casa de Deus», enfatizou.

O Santo Padre pediu que todos os crentes ponham em prática a palavra que escutam, pois só assim serão felizes, pois só «a fé em Deus abre ao homem o horizonte de uma esperança certa que não desilude; indica um sólido fundamento sobre o qual apoiar, sem medo, a própria vida; pede o abandono, cheio de confiança, nas mãos do Amor que sustenta o mundo». «Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída», referiu, pois Deus continua em busca de justos que queiram com Ele trabalhar para fazer caminhar o mundo para Si.

 

Defesa da Família

 

Na parte da tarde de dia 13, na Igreja da Santíssima Trindade, o Papa Bento XVI encontrou-se com as organizações da Pastoral Social, com uma moldura humana de nove mil pessoas ligadas ao sector sócio-caritativo da Igreja. «Cristo ensina-nos que “Deus é amor”e simultaneamente ensina-nos que a lei fundamental da perfeição humana e, consequentemente, também da transformação do mundo é o novo mandamento do amor. Portanto aqueles que crêem na caridade divina têm a certeza d’Ele que a estrada da caridade está aberta a todos os homens», disse o Santo Padre, acrescentando que «o cenário actual da história é de crise sócio-económica, cultural e espiritual, pondo em evidência a oportunidade de um discernimento orientado pela proposta criativa da mensagem social da Igreja».

O Papa destacou ainda o trabalho prestado por estas instituições na sociedade, e no trabalho diário com os doentes e a necessidade de ajudar todos os que pedem auxílio, bem como incentivou a que as «actividades assistenciais, educativas ou caritativas sejam completadas com projectos de liberdade que promovam o ser humano, na busca da fraternidade universal».

Naquela que foi considerada a declaração mais forte do discurso, o Papa exprimiu «profundo apreço a todas aquelas iniciativas sociais e pastorais que procuram lutar contra os mecanismos sócio-económicos e culturais que levam ao aborto e que têm em vista a defesa da vida e a reconciliação e cura das pessoas feridas pelo drama do aborto», referiu o Santo Padre (com direito a saudação de pé por todos os presentes); continuando, referiu que «as iniciativas que visam tutelar os valores essenciais e primários da vida, desde a sua concepção, e da família, fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher, ajudam a responder a alguns dos mais insidiosos e perigosos desafios que hoje se colocam ao bem comum». «Tais iniciativas – declarou – constituem, juntamente com muitas outras formas de compromisso, elementos essenciais para a construção da civilização do amor». 

 

Profetas da Paz

 

Depois deste encontro, o Papa reuniu-se com os Bispos de Portugal, não sem antes ter furado a segurança e ter beijado uma criança, uma episódio que aconteceu várias vezes ao longo da visita.

Bento XVI pediu aos Bispos de Portugal uma maior resposta da Igreja no combate «às situações de graves carências sociais», e que seja promovida «uma cultura e uma espiritualidade de caridade e de paz». «Criem-se e aperfeiçoem-se as organizações existentes, com criatividade para corresponder a todas as pobrezas, mesmo a de falta de sentido da vida e de ausência de esperança», referiu.

Bento XVI destacou o «louvável esforço» feito pela Igreja em Portugal na ajuda a «dioceses mais necessitadas, sobretudo dos países lusófonos», e deixou votos de que as dificuldades, «agora mais sentidas», não deixem esmorecer os Bispos.

«Continue bem vivo no país o vosso testemunho de profetas de justiça e da paz, defensores dos direitos inalienáveis da pessoa, juntando a vossa voz à dos mais débeis a quem tendes sabiamente motivado para ter voz própria, sem temer nunca levantar a voz em favor dos oprimidos, humilhados e molestados», salientou o Papa.

Aos bispos foi ainda pedido que acompanhassem com a maior das solicitudes os seus padres e os movimentos eclesiais, para que brilhe a solicitude dos pastores por estas realidades.

No último dia, nova apoteose no Porto. Numa breve visita, praticamente apenas para a celebração da Eucaristia, cerca de 140 mil pessoas esperavam na Avenida dos Aliados pelo Pontífice, que agradeceu a sua oração e a sua presença, e os incentivou a todos a caminharem na santidade, nem nunca esmorecer. Dali, o Papa seguiria para o Aeroporto Sá Carneiro, onde se encerrou a visita a Portugal.

 

Bruno Máximo Leite

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24 de Maio de 2010