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A Visitação de Santa Maria

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10 de Junho de 1610. Em Annecy, na França, que se passa neste dia?
Um bispo, S. Francisco de Sales particularmente inspirado por luzes divinas, vai ver realizado o seu caro projecto: a Fundação de uma congregação Religiosa feminina. Eis as primeiras Irmãs: São três – Joana de Chantal, Maria Jacqueline Favre e Carlota de Bréchard. Joana de Chantal é a Fundadora. É Domingo da Santíssima Trindade. Desde esse dia, começam vida de Comunidade. Sentiam-se tão felizes! Que suave, que tranquila era a sua vida. Nesta época, existiam já na Santa Igreja muitas Ordens religiosas; agora mais uma? E com que finalidade? Houve quem interrogasse o fundador. O Santo explicou então: “ É para dar a Deus filhas de oração, tão interiores que sejam achadas dignas de O adorar em espírito e verdade.”

 

O Fundador atribui-lhes uma pequena forma de apostolado exterior: A visita aos pobres e doentes. Elas davam à vida interior e à contemplação a melhor parte do seu tempo, não se podendo afirmar que a visita aos pobres tenha sido a sua ocupação essencial. E o título da Congregação? Vai-nos ser explicado pelo santo Fundador: “ As nossas religiosas serão chamadas Irmãs da Visitação de santa Maria. Porquê? Porque este é um mistério escondido porque não tendo na Igreja tanto brilho, nem solenidade como os outros mistérios, o possa ter ao menos na nossa Congregação.”

O tempo vai passando. Em 1616 o número destas religiosas era já muito considerável. Foi-lhes pedido abrirem outro Mosteiro. E foi na cidade de Lyon que se efectua esta Fundação.

E agora vemos, de modo bem patente, que “os caminhos de Deus não são os nossos…” Mas o que há?! Algo especial acontece.

O Cardeal Arcebispo de Lyon ao ter conhecimento do apostolado das Irmãs junto dos doentinhos, exercido na sua cidade, ficou alarmado. O quê? Religiosas na rua a visitar doentes e pobres? Não pode ser! “É que – dizem as Crónicas ele estava convencido que as Irmãs corriam risco…” E, de imediato, proibe tais visitas. É evidente que o Fundador foi, sem demora, posto ao corrente dos acontecimentos. Num grande desejo de conciliar as coisas, o Cardeal Marquemont e o Bispo Francisco de Sales conferenciaram, deliberaram, estudaram o caso. O Cardeal de Lyon pediu ao Santo Bispo que, “houvesse por bem fazer com ele uma santa aliança, à maneira dos antigos bispos, que tinham um só coração e uma só alma, e que, pela recíproca comunicação das inspirações que recebiam do céu, se auxiliavam uns aos outros no desempenho dos seus cargos.” O resultado deste encontro foi maravilhoso: S. Francisco de Sales, o Santo da mansidão e da humildade, sempre inclinado a pensar que o próximo lhe levava vantagem e que tinha luzes mais claras que as suas, anuiu às propostas do Cardeal, que não tardaram a serem postas em execução. O Santo Fundador viu o seu plano desfeito, mas não reagiu; entendeu ser essa a vontade de Deus. Tinha pensado para as suas religiosas, uma vida em Congregação. Achava que teriam motivos mais a propósito para se consevarem em pequenez, em  baixeza… Mas Deus queria que tudo se modificasse… E o Santo ficou contente e o Cardeal de Lyon também. Foi então estabelecida a clausuras para as Irmãs Visitandinas. O título de Congregação desapareceu e foi substituido pelo de Ordem, com Votos Solenes e clausura papal. Nesta Ordem podem ser admitidas pessoas de fraca compleição, jovens ou menos jovens.

Depois de tudo definido e de maneira tão diferente do primigénio pensamento do Fundador, o santo teve estas palavras bem significativas da sua inteira dependência da vontade de Deus: “Eu não fiz o que queria, fiz o que não queria.” E a fundadora e as Irmãs como receberam estas novas directivas, esta mudança nas suas vidas? Os Anais assinalam: “ Deus deu às nossas Irmãs – é a Fundadora que fala – um espírito de inteira submissão à sua Divina Vontade. Da sua bondade recebemos grande disposição e atractivo para viver em clausura, com inteira consolação para as nossas almas.”

                                                       

Mistério da Visitação

                                       

Vejamos a conexão entre este Mistério e o espírito legado pelos Fundadores às suas religiosas: escondimento – Jesus escondido no seio de Maria – é o Mistério da Visitação. Irmãs escondidas na Clausura, apagamento de vida só para Deus. São do Fundador estas exigentes mas consoladoras expressões: Eu quero que as minhas Filhas não tenham outra pretensão a não ser gloriificar a Deus pelo seu aniquilamento.” Isto as faz viver em júbilo, júbilo que não é deste mundo. Só quem tem a graça de o experimentar pode compreender.

Vimos o nascimento e a transformação da Visitação. Vejamos agora a sua projecção no futuro. Ela foi crescendo feliz. À morte do Fundador – 1622 – já existiam onze Mosteiros, e quando a Fundadora deixou este mundo – 1641 – o número das casas desta Ordem ascendia já a 87. Parece que a sua espiritualidade se firmava na medida do seu desenvolvimento! As virtudes básicas deste edifício espiritual – humildade para com Deus e suavidade para com o próximo – fizeram santas muitas Visitandinas. Mas –perguntará alguém – Não são estas virtudes demasiado fáceis ? Levam elas à santidade ? E que nos responde o Evangelho? Apenas que elas são a imitação do Coração de Jesus nosso Deus e Senhor “ Aprendei de Mim que sou manso e humilde de Coração.” E a santa Fundadora lança também este alerta: “ Nós devemos ser as imitadoras e adoradoras dos aniquilamentos do Verbo Encarnado.” É o grande programa que temos de cumprir… Necessário se torna um trabalho sem descanso, um alerta permanente para alcançar a santidade neste caminho Visitandino.

O anseio da Imitação de Cristo neste aspecto, foi caminho, foi preparação para as Revelações do Coração de Jesus, manso e humilde, a uma Visitandina. É uma glória desta Ordem, é santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690). Foi escolhida para espalhar pelo mundo o Amor ao Coração de Jesus. Autêntica Visitandina, soube esconder-se para deixar toda a Glória Àquele de Quem é Apóstolo. Prova da sua Humildade é que, apesar desta devoção ao Coração de Jesus estar espalhada por todo o mundo, muitas pessoas ignoram a quem foi revelada e a quem foi pedido mostrar a toda a gente que Deus é Amor, que Deus é Coração.

E assim se passa também com outras Visitandinas, que tendo sido escolhidas para acender no mundo a chama do apostolado, sob uma ou outra forma, realizam muito, mas mantendo-se sempre no apagamento.É que elas – todas elas – tinham a peito salvaguardar o espírito legado pelos Fundadores. Poderíamos mencionar algumas destas religiosas.

A Madre Maria de Sales Chappuis (1793-1875) religiosa do Mosteiro de Visitação de Troyes, co-fundadora dos Padres Oblatos de S. Francisco de Sales; a Irmã Ana Madalena Rémuzat (1697-1730) religiosa da Visitação de Marselha,  que lançou a devoção aos Escapulários do Sagrado Coração de Jesus, chamados “Bentinhos”; a Irmã Maria do Sagrado Coração de Bernaud (1825-1903) religiosa do Mosteiro de Bourg-en-Bresse, impulsionadora da Hora de Presença. E outras que podíamos citar.

Actualmente a Ordem da Visitação que não pode fazer excepção, está sobre a influência da crise que tem assolado a Igreja no campo vocacional. Mas as Religiosas existentes esforçam-se por conservar o espírito que fez nascer, crescer e frutificar a sua Ordem, e olha o futuro com esperança – audaz esperança, talvez… – olhando Aquele que é Fiel e é Pai.

Esta Ordem  da Visitação está espalhada por quatro Continentes. Graças a Deus vai singrando, rumo à perfeição, rumo à santidade actualmene conta com 156 Mosteiros. Neste Ano Centenário ela exulta louva e adora a Deus, Trindade Santíssima, mistério a que foi particularmente dedicada desde a sua existência de já quatro séculos. E recorda com emoção as palavras do Santo Fundador às primeiras Irmãs Visitandinas naquela memorável dia 6 de Junho de 1610:

“Ide, minhas Filhas em nome do Pai que vos atraiu, Em nome do Filho que vos dirige.

E em nome do Espírito Santo que vos anima.”

 

Irmãs da Visitação – Faniqueira – Batalha

 

 

 

 

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04 de Junho de 2010