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10 por cento de comungantes…

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Segundo o jornal oficial do Santuário de Fátima – ‘Voz da Fátima – na peregrinação aniversária de Maio, presidida pelo Papa Bento XVI, na missa do dia 13 de Maio, terão estado 350 a 400 mil pessoas, tendo comungado 35 mil. Ora, à luz dos dados estatísticos, estes números dão-nos a cifra de dez por cento de comungantes, podendo levar-nos a questionar vários aspectos da nossa pastoral, da valorização da missa e, mesmo, da (possível) banalização/recurso à missa na (nossa) liturgia católica.

 

 

Segundo o jornal oficial do Santuário de Fátima – ‘Voz da Fátima – na peregrinação aniversária de  Maio, presidida pelo Papa Bento XVI, na missa do dia 13 de Maio, terão estado 350 a 400 mil pessoas, tendo comungado 35 mil. Ora, à luz dos dados estatísticos, estes números dão-nos a cifra de dez por cento de comungantes, podendo levar-nos a questionar vários aspectos da nossa pastoral, da valorização da missa e, mesmo, da (possível) banalização/recurso à missa na (nossa) liturgia católica.

De facto, dá a impressão que toda aquela multidão – bem como muitos dos nossos praticantes – parece mais sacramentada do que evangelizada. Pois, mesmo que muitos e muitas possam estar impedidos de participar na comunhão eucarística em razão de várias situações mais ou menos desconformes com as leis canónicas, não deixa de ser preocupante a grande multidão que não estará preparada – valhamos a exigência e o reconhecimento pessoal sem imposição exterior – para sentir-se em comunhão com a Igreja celebrativa.

Um dias destes, em conversa com um senhor Bispo, este referia que, paradoxalmente, tendo diminuído o número de padres, se nota o aumento da quantidade das  missas. Ora, aqui está uma questão a exigir séria reflexão, tanto à hierarquia como aos outros fiéis, pois quem ‘dá a missa’ terá de saber não exagerar na oferta e quem a possa pedir terá de saber enquadrar-se na dimensão comunitária da mesma e não no mero interesse do seu grupo ou sector… mais ou menos assumido.

 

1.Pela missa se pode evangelizar?

O recurso à celebração da eucaristia – com que tantas vezes ocupamos certas actividades das nossas paróquias – não pode ser um factor de menosprezo pela urgente evangelização. Talvez fosse, muitas vezes, mais útil dedicar o tempo da celebração da missa a iniciativas de evangelização, privilegiando a formação à luz da Palavra de Deus, pois aquela se entenderia e seria vivida pelo aprofundamento da própria evangelização.

. Quantas vezes – porque ainda celebramos missa de porta aberta, entrando quem quer e/ou lhe apetece – vemos pessoas à deriva e sem entenderem os ritos, pois não foram (minimamente) introduzidos a eles e até perturbam quem estiver interessado em celebrá-los condignamente.

. Quantas vezes – mais do que seria desejável, sobretudo por ocasião de certas celebrações sociais – o culto do funerário/popular se sobrepõe à dimensão da fé ressuscitada e ressuscitadora. A comunhão como que se empobrece com a presença de ‘descrentes’ em contexto de exigência mínima de comunhão de irmãos em Cristo pela Igreja.

. Quantas vezes faltam os mais básicos sinais da dimensão comunitária para que possa acontecer a força da manifestação do divino em nós e através de nós.

 

2. Da missa nascerá a missão?

Nessa tão bela e profética expressão do Papa João Paulo II: ‘da missa para a missão’ como que sentimos a necessidade de fazer das nossas ‘missas’ oportunidades de compromisso muito mais do que de cumprimento de preceito ou de rotina social sem consequências. Com efeito, não podemos continuar a fazer das nossas celebrações meros espaços de encontro humano – se bem que o sejam também – sem perspectivas de caminhada pessoal, familiar e comunitária.

. Será que todos os celebrantes – tanto clérigos como leigos – estão conscientes destas implicações da missa na suas vidas de cristãos esclarecidos?

. Será que certas celebrações serão (mesmo) manifestações de vida em Cristo ressuscitado ou não passarão de rituais (quase) de morte ou ao sabor do fúnebre?

. Seremos dignos da força de mistério da missa ou, pela nossa falta de fé, condicionamos o poder de Deus, que pretende servir-se de nós, hoje?

 

3. Sinal da comunhão eucarística

Atendendo ao número de comungantes das nossas missas – muitas vezes serão mais de metade da assembleia – deveríamos dar mais frutos de santidade e de comunhão na vida. Com efeito, o ‘pão sagrado’ – corpo e sangue de Jesus na eucaristia – alimenta-nos, cura-nos, salva-nos, purifica-nos… dá-nos nova vida psicológica, espiritual, moral, etc.

Ao recebermos Jesus em comunhão comungamos também os outros naquilo que eles são connosco e para nós. É pela comunhão no Senhor e do Senhor que a nossa vida cristã se pode tornar mais e melhor proposta de amor de Deus em nós e através de nós.

Pela vivência do momento da ‘acção de graças’ da missa – que deveria ser, cada vez, menos barulhenta e mais silenciosa – se pode medir a caminhada de uma comunidade cristã/católica. Mesmo que de forma simples será de incentivar os nossos cristãos a terem um razoável tempo de silêncio após a comunhão, criando condições para que Jesus nos faça sempre melhor Seus sinais na vida de cada dia.

 

A.Sílvio Couto

 

 

 

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04 de Agosto de 2010