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Uma porta aberta a todos

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A Santa Casa da Misericórdia de Palmela é a instituição que se segue. Fomos falar com o atual Provedor, Francisco Cardoso, que nos explicou como aquela instituição serve a população de Palmela preocupada em cumprir as obras de misericórdia, atendendo a todos quantos ali batem à porta.

Com quatrocentos e oitenta e quatro anos de existência, a Santa Casa da Misericórdia de Palmela é hoje, naquela vila, uma instituição de referência que, com o passar dos anos teve que se ir adaptando a uma nova realidade. «Gostaríamos de colaborar e apoiar mais pessoas mas em função daquilo que vivemos, as nossas limitações são muitas. Mas dentro das nossas limitações, como gostamos de dizer, a Misericórdia é uma casa aberta a todas as pessoas e damos apoio como podemos», afirma o Provedor Francisco Cardoso.
Quando se fala em dificuldades ou limitações, Francisco Cardoso diz que estas são sempre de índole financeira, e mais ainda nos tempos que correm. No entanto, é com a ajuda de um novo olhar da população sobre a Santa Casa da Misericórdia que as coisas vão mudando e o apoio pode continuar a ser prestado.
«As pessoas olham, hoje, para as Misericórdias e para as IPSS com outros olhos – diz o Provedor. As pessoas tinham sempre a ideia de que o é privado é sempre melhor que o social. Mas chegaram à conclusão que lá porque o social cobra uma mensalidade menor, não quer dizer que as condições sejam piores. Muitas vezes, para não dizer quase sempre, as condições são sempre superiores ao privado e com menos custos, com uma relação preço-qualidade muito acima. A nossa postura é poder apoiar e aqueles que têm mais possibilidades de pagar, pagam para aqueles que têm menos possibilidades. Tem que ser relação de uns para os outros. Se ninguém pagar nada, não sobrevivemos».

Ambiente familiar é marca da Casa

Sublinha ainda Francisco Cardoso que a Misericórdia de Palmela não tinha a importância para a comunidade que tem vindo a ganhar nos últimos cinco anos. «Hoje a comunidade já olha para Santa Casa de Palmela como uma outra importância. Somos uma porta aberta a todos e todos os dias. Mesmo aqueles que não nos batem à porta e precisam de ajuda, nós vamos à procura deles, sinalizamos esses casos e tentamos resolver esses problemas», indica. 
Com setenta e oito funcionários, a instituição tem noventa utentes no Lar de São Pedro e vinte utentes no Centro de Dia de Aires. Conta ainda com um Centro de Medicina Física e de Reabilitação frequentado por cerca de duzentas pessoas. «Temos acordos com vários organismos e estamos, neste momento, a fazer uma remodelação do espaço para ter outro tipo de condições na área da fisioterapia e reabilitação para dar apoio às pessoas. Esperemos durante o mês de Junho ter tudo resolvido», refere o Provedor.
Para além disto, e desde Novembro do ano passado, são ainda apoiadas cerca de trinta famílias através da Cantina Social, onde são distribuídas cem refeições diárias. «Nós já dávamos este tipo de apoio porque as pessoas batiam-nos à porta. Agora com o acordo com a Segurança Social conseguimos ajudar mais gente», salienta o Provedor.
E acrescenta: «Felizmente, o ambiente nesta casa é muito bom porque as pessoas se conhecem todas umas às outras e tratam-se todas pelos nomes. Há um ambiente familiar. Nós também somos voluntários também aqui estamos de coração, porque gostamos disto».

Acautelar o futuro para continuar a prestar apoio

Sem medo do futuro, o provedor diz que é necessário ultrapassar dificuldades e ir acautelando o futuro para o apoio social nunca acabe: «Não sabemos o que vai acontecer, temos que nos salvaguardar. É preciso irmos ultrapassando as dificuldades e ir fazendo as coisas do dia-a-dia. Temos que tentar fazer as coisas para que algumas coisas sejam mais rentáveis para a rentabilidade ser investida em coisas que não têm rentabilidade. Há umas que têm que dar lucro para aqueles que não têm. Isto não é para dar lucros, é para prestar serviços. E esses serviços à população têm custos que precisam de ser minimizados. Há coisas que dão lucro e esse lucro é para ser investido dentro da própria estrutura».
Apesar disto, a Santa Casa de Palmela tem sonhos e projectos na gaveta. Um deles, diz-nos Francisco Cardoso, é a remodelação da cozinha da instituição. «É uma das coisas que tem que ser feita para podermos criar outra valência, de apoio domiciliário, que é uma coisa que as pessoas procuram e nós não temos. Temos que fazer a remodelação da cozinha para termos outra capacidade para fazermos isso. Mas é um investimento ainda grande e temos que esperar mais algum tempo», comenta.

Cumprir as catorze obras de misericórdia

«Não estamos mal, mas os nossos grandes sonhos passam por tentarmos cumprir sempre as catorze obras de misericórdia, diariamente. Ajudar as pessoas mais necessitadas, todos os que batem à porta, as famílias que têm alguma dificuldade numas situações e tentarmos minimizar. O nosso trabalho é ajudar a comunidade de Palmela e as pessoas que nos batem à porta. E também queremos que a comunidade olhe para a Misericórdia como parceiro que merece a pena», destaca Francisco Cardoso.
É por isso que vão avançando alguns projetos na Santa Casa de Palmela. «Fizemos uma iniciativa para angariar alimentos que distribuímos pela Cáritas. Com a iniciativa arranjámos duzentos e cinquenta quilos de alimentos. Foi uma caminhada solidária pela Serra do Louro e pela Serra da Arrábida, com a participação de cento e cinquenta pessoas. Nestas iniciativas entregamos sempre os produtos a outros e não a nós. Normalmente é sempre para os Vicentinos da Paróquia de Palmela, mas este ano entendemos encaminhar para a Cáritas Diocesana de Setúbal», explica o Provedor.
Recentemente, a Misericórdia de Palmela iniciou a atribuição de bolsas de estudos para o ensino superior a que chamou «Bolsas de Estudo Álvaro Carvalho Cardoso». Diz o actual Provedor que é uma forma de manter vivo o nome de um antigo Provedor e figura de referência em Palmela, do qual já muitas pessoas se iam esquecendo.

Igreja da Misericórdia: monumento de interesse público

Francisco Cardoso fala-nos ainda da importância do apoio do Padre José Maria Furtado, pároco de Palmela e da força da mensagem cristã na instituição: «Geralmente os trabalhadores e utentes já vêm para cá com essa ideia. Quem vem de novo já integra o espírito. As pessoas sabem o que é a Misericórdia, o que é a sua História e a sua componente religiosa».
Assim, todos os sábados à tarde a Eucaristia na vila de Palmela é celebrada na Igreja da Misericórdia, recentemente reconhecida como monumento de interesse público. Depois, no primeiro sábado de cada mês é celebrada Eucaristia na capela do Lar de Idosos e todas as terças-feiras um grupo da Paróquia desloca-se ao Lar para rezar o terço. Há ainda a preocupação de uma peregrinação regular a Fátima.

Disponível para os outros

Recentemente, e para melhorar a imagem da Santa Casa de Palmela junto da população, a mesa administrativa avançou com a edição de uma revista trimestral e que tem o apoio financeiro dos fornecedores.
«Começámos no ano passado, em Agosto porque a Misericórdia fazia muitas atividades e só quem tinha conhecimento eram aqueles que estavam cá dentro. E nós quisemos divulgar isso à comunidade. Entendemos arrancar com esta revista trimestral para mostrar as atividades que fazemos para envolver a comunidade na Instituição. É abrir a Misericórdia à comunidade», afirma Francisco Cardoso.
Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Palmela desde Janeiro de 2007, Francisco Cardoso diz que estar assim, ao serviço daquela Casa é estar disponível e ouvir as preocupações das pessoas.
«Muitas vezes não se consegue resolver os problemas todos mas dá-nos algum orgulho e satisfação poder ajudar as pessoas nas suas dificuldades do dia-a-dia. Não sou profissional da Misericórdia, sou voluntário e tento estar disponível para tratar dos assuntos da Misericórdia e mesmo ao fim-de-semana. Poder colaborar e ajudar o próximo. É a nossa função. Dá-nos muita satisfação ver quando alguns vêm num estado muito debilitado, e ao fim de algum tempo de cá estarem conseguem andar e ganham outra autonomia. É uma satisfação para todos os envolvidos, Os trabalhadores são uns belíssimos profissionais», conclui.

Anabela Sousa

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06 de Maio de 2013