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Em Fátima no meio do povo… reflectindo

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Texto de opinião do Pe. Sílvio Couto

 

Sentindo ainda nos ouvidos, repassando pelo coração, saboreando com a inteligência… as palavras, os gestos, a presença do Papa Bento XVI como que ousamos – sobretudo em Fátima – viver este acontecimento da graça de Deus, que foi a visita papal entre 11 e 14 de Maio, duma forma diferente. Atendendo à nossa condição eclesiástica poderíamos ter estado num lugar previamente reservado, com alguma comodidade e – salvo melhor leitura – assumindo a condição de clérigo nos actos, sobretudo, litúrgicos. Por isso, tudo quanto vamos partilhar fazemo-lo da escolha em estarmos no meio do povo, com a assembleia anónima e ao sabor das mais díspares condicionantes…

* Éramos milhares. Isso parece que afligiu uns tantos, que intentaram até comparar esta multidão com a dos festejos benfiquistas dias antes!

* Temos um chefe… simples, alegre e feliz. Estas vertentes confundiram quantos disseram no passado – da sua cátedra ideológica ressabiada – que Bento XVI era alguém frio e (talvez) sem manifestações de afecto. Já se diz que haverá um Papa antes da sua vinda a Portugal e outro daqui para a frente.

* Manifestamos alma. Foi contagiante ver pessoas de várias procedências sociais misturaram-se para viver a sua fé católica… mesmo que por entre condicionalismos de pormenor.

* Temos futuro. Como foi impressionante constatar a reverência de tantas crianças, muitos adolescentes e bastantes jovens – portugueses e não só – a vibrar com a presença serena do nosso Papa.

 

Apesar destes aspectos luminosos tentamos – um tanto a quente – reflectir sobre outras questões, que nos foram surgindo no decorrer da visita papal… em Fátima:

– As palavras e as emoções estiveram ao vivo na Igreja da Santíssima Trindade no encontro com os padres, diáconos, seminaristas e religiosos/as – numa mistura assaz controlada nos cartões, mas que mais parecia um cocktail incaracterístico – pela oração, a adoração do Santíssimo Sacramento, pela exortação e a consagração ao Sagrado Coração de Maria… feitas pelo Papa.

Disse-nos Bento XVI, na Igreja da SS.ma Trindade, ao final da tarde do dia 12: «A todos vós que doastes a vida a Cristo, desejo nesta tarde exprimir o apreço e reconhecimento eclesial. Obrigado pelo vosso testemunho muitas vezes silencioso e nada fácil; obrigado pela vossa fidelidade ao Evangelho e à Igreja. Em Jesus presente na Eucaristia, abraço os meus irmãos no sacerdócio e os diáconos, consagradas e consagrados, seminaristas e membros dos movimentos e novas comunidades eclesiais».

– Qual foi o povo que se aproximou desta visita do Papa: Um povo simples ou simplório? Um povo indiferenciado ou diversificado culturalmente? Um povo educado ou um algo rude? Um pouco de tudo isto, fomos vendo no grande recinto do santuário de Fátima. De tudo um pouco, tanto pela forma de escuta como no modo de estar à vontade. Com efeito, foi impressionante o respeito na noite em que o Papa Bento XVI rezou o rosário na Capelinha das Aparições. Era grande a comunhão, na noite, com o sucessor de São Pedro. Transparecia um clima de intensa espiritualidade naquele recinto, onde ecoavam as palavras do Papa da ternura – assim se poderia designar Bento XVI – numa simbiose entre o que dizia e o seu intenso olhar… contemplativo.

Disse-nos Bento XVI, antes da procissão das velas, no dia 12, à noite: «No nosso tempo em que a fé, em vastas zonas da terra, corre o perigo de apagar-se como uma chama que já não recebe alimento, a prioridade que está acima de todas é tornar Deus presente neste mundo e abrir aos homens o acesso a Deus».

– Atendendo aos sinais apresentados pelo povo e pelas autoridades, pelos responsáveis da Igreja e pela presença das comunidades/paróquias/movimentos, notava-se que há algo que tem de ser aprofundado… depois desta visita papal.

Disse-nos Bento XVI, na homilia da missa do dia 13: «Com a família humana pronta a sacrificar os seus laços mais sagrados no altar de mesquinhos egoísmos de nação, raça, ideologia, grupo, indivíduo, veio do Céu a nossa bendita Mãe oferecendo-se para transplantar no coração de quantos se Lhe entregam o Amor de Deus que arde no seu. Então eram só três, cujo exemplo de vida irradiou e se multiplicou em grupos sem conta por toda a superfície da terra, nomeadamente à passagem da Virgem Peregrina, que se votaram à causa da solidariedade fraterna. Possam os sete anos que nos separam do centenário das Aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima Trindade».

Estivemos, em Fátima, entre o povo e até fomos dos que não conseguiram comungar, na missa presidida pelo Papa, por falta de hóstias… mas só mais tarde numa celebração em ritmo vietnamita.

Do meio do povo quisemos estar atentos. Assim sejamos todos dignos de prosseguir a nossa caminhada de fé em Igreja católica.

 

A. Sílvio Couto

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24 de Maio de 2010