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A celebridade fugaz

futebol

Estamos a assistir ao campeonato do mundo e simultaneamente vivemos o tempo de crise. Aguardamos com ansiedade os resultados obtidos quer no campo de jogo quer nos gabinetes das reuniões onde se decidem os programas de austeridade e os cortes dos salários.

 

 

Estamos a assistir ao campeonato do mundo e simultaneamente vivemos o tempo de crise. Aguardamos com ansiedade os resultados obtidos quer no campo de jogo quer nos gabinetes das reuniões onde se decidem os programas de austeridade e os cortes dos salários. Precisamos de génios de habilidade que nos dêem vitórias desportivas e que tenham ideias luminosas para apresentarem soluções capazes de recuperação. As expectativas antes dos embates são sempre enormes: dizem com insistência “somos os melhores, vamos ganhar” ou então “serão obtidas vantagens para o nosso país sem grandes males a acompanhar”.

As coisas acontecem. Se num jogo uma jogada feliz, um drible bem feito, um lance de bola resultou e a vitória bate à nossa porta então a exultação explode, os carros buzinam, os comentadores elogiam o herói, as bandeiras são desfraldadas e o felizardo é elevado ao mais alto dos altares. Os companheiros e o treinador são envolvidos na mesma áurea, todas as dúvidas anteriores de pessimismo passam a ser injustas, todos os erros que se apontavam afinal eram decisões correctas, todas as esperanças são agora justificadas. Porém, se no dia seguinte o insucesso surge e a desilusão aparece, o julgamento de toda a massa de aficionados, dos comentaristas, críticos, colunistas, analistas desportivos e “apanhados” da rua

dá uma cambalhota de alto a baixo e chovem as censuras, as desaprovações, as reprimendas, as acusações de estupidez, de casmurrice, de ignorância, de incompetência, de desinteresse, seja do seleccionador, como dos jogadores, dos directores, de todos os responsáveis.

O país encontra-se mal. Quem nos acode? Procura-se alguém que não nos faça sofrer e nos liberte deste lamaçal, desta cova em que caímos. Ouvem-se vozes a gritar:””Eu acudo, eu tenho soluções”. Um diz: “Tiremos a este e demos àquele!”, outro clama: “A mim não me tires nada, nem ao meu amigo, tira sim aos outros”. Levanta a voz um terceiro: “Tiremos então a todos” mas um quarto reclama:”Não a todos porque é injusto”.

Assim, um político num dia alcança glória para uns e cai na desgraça para outros. Tal como um jogador torna-se célebre num dia e cai no esquecimento e reprovação no dia seguinte. Toda a glória é fugaz, todo o valor é fugidiço. O instante da fama é veloz, a poeira do desdém e da frieza cobre depressa. A vida não tem duração, é um momento que passa e a seguir vem outro momento tão rápido como o anterior.

 

P. Manuel Soares

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28 de Junho de 2010