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Dialogar é o caminho da democracia

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«Há um consenso em que o Estado deve ser laico, pois numa democracia o caminho é dialogar. A separação [da Igreja e do Estado] e o laicizar do Estado é uma condição da liberdade religiosa» – afirmou Fernando Rosas, nas jornadas nacionais das comunicações sociais, que decorreram, em Fátima, nos passados dias 23 e 24.

 

           

«Há um consenso em que o Estado deve ser laico, pois numa democracia o caminho é dialogar. A separação [da Igreja e do Estado] e o laicizar do Estado é uma condição da liberdade religiosa» – afirmou Fernando Rosas, nas jornadas nacionais das comunicações sociais, que decorreram, em Fátima, nos passados dias 23 e 24.

Estas jornadas tiveram por tema – ‘República – comunicação – Igreja’ foram oportunidade de reflectir sobre o relacionamento da Igreja católica e da I República, por ocasião do centenário da revolução republicana, a comemorar no dia 5 de Outubro.

Embora o tema tem tido uma razoável abordagem histórica, concretamente, ‘o poder da comunicação social no início do século XX’ e a relação ‘República – Igreja’ na comunicação, este tema pode servir-nos para a reflexão sobre alguns aspectos subjacentes a este século da vida portuguesa.

Servimo-nos de expressões usadas nas jornadas para tentarmos abordar aspectos da nossa vida nacional.

 

Recatolização da sociedade

Esta espressão foi usada por D. Carlos Azevedo (um dos intervenientes nas jornadas) para caracterizar uma das visões da Igreja do tempo da I República, por vezes em confronto com várias tendências do movimento republicano, pois «a Igreja não atacou a república, limitou-se a defender-se».

Quando estamos a viver esta efeméride, torna-se importante perceber o que aconteceu há cem anos, detectando certas feridas mal cicatrizadas e cuidando em aceitarmos todos – Igreja católica e Estado – as reais responsabilidades sem medos nem ressentimentos.

De facto, temos, como Igreja, de abandonar a tendência em pretendermos fazer de conta que havia, naquela época, unidade de acção e consistência na prossecução dos objectivos em Igreja católica. Ainda hoje temos de saber respeitar as diferenças… mesmo na perspectiva de leitura daquilo que aconteceu, tanto na I República como aquilo que acontece agora.

Precisamos de ter capacidade de discernimento para sabermos ser cristãos de corpo inteiro, assumindo as nossas vitórias e sarando as nossas feridas pessoais e colectivas… pois, por vezes, os nossos ‘inimigos’ estão dentro dos quadros da Igreja.

 

Laicização da República

Notou-se, há cem anos atrás, a substituição dos intuitos da Igreja pelo Estado. Segundo Fernando Rosas, «a república entendia a passagem de súbdito [da monarquia] para a condição de cidadão» da república. No entanto, ainda na visão deste historiador, «a república cometeu um erro mortal: permitir que a laicidade do Estado se transformasse numa questão religiosa».

Com efeito, certos mentores, ainda hoje, da mentalidade republicana quase transformam o Estado num novo deus com regras (as leis) e preceitos inatacáveis… porque legitimados pela votação popular e aprovados no santuário do Parlamento. Nalgumas situações certas forças partidárias como que sentem-se arautos de uma democracia sem fé – sobretudo sem laivos de cristianismo – pública e/ou publicitada.

Ainda nestas jornadas da comunicação social se percebeu que Fernando Rosas precisou, pelo menos meia dúzia de vezes, de se dizer ‘ateu’, como se estivesse a auto-convencer-se ou que tivesse necessidade de se desculpar perante um público crente, mas não desprovido de inteligência e, por isso, com o mínimo de compreensão para com a diferença (religiosa) do palestrante… sem religião.

Será que é preciso neutralizar o Estado para que este seja igual para todos os cidadãos? Por que têm alguns sectores das (ditas) esquerdas a necessidade de enfatizar o laicismo do Estado, quando o Estado laico é suficiente para nos entendermos na diversidade?

 

Basta de fantasmas. A democracia, de facto, constrói-se em diálogo sem excelências nem minudências, mas antes fazendo-nos todos – crentes cristãos ou não – cidadãos iguais em direitos e deveres… diante do Estado e perante Deus!

 

António Sílvio Couto

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04 de Outubro de 2010