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Perseguição e discriminação na primeira pessoa

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A vida dos cristãos no Paquistão é marcada pela “perseguição e discriminação”, denunciou em Lisboa o Bispo Auxiliar de Lahore, D. Sebastian Shaw.
Em entrevista à Agência Ecclesia, o prelado assegurou que “na última década e meia” vários grupos islâmicos fundamentalistas têm vindo a “criar problemas”.

 

“A tolerância acabou”, afirma, considerando que a religião é “usada de forma errada”, para prejudicar os cristãos, mesmo na sua vida profissional. No Paquistão, os cristãos são pouco mais de dois milhões numa população de 175 milhões de habitantes, na sua esmagadora maioria muçulmanos. Segundo D. Sebastian Shaw, esta minoria pobre é muitas vezes associada ao “Ocidente”, o que só aumenta a discriminação.

“Nós, paquistaneses cristãos, trabalhamos pelo Paquistão, servimos o país”, assinala.

Uma das grandes ameaças à liberdade religiosa é a lei anti-blasfémia, a qual estabelece que qualquer ofensa por palavras ou actos contra o Alá, Maomé ou o Corão, denunciada por um muçulmano e sem necessidade de testemunhos ou provas adicionais, pode determinar o julgamento imediato e a condenação à prisão de qualquer pessoa.

O prelado visita Portugal, até 21 de Outubro, a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

A passagem pelo nosso país pretende dar relevo ao extremismo e o aumento da violência contra a Igreja Católica no Paquistão, que se somam aos dramas do terrorismo e da crise humanitária provocada pelas recentes cheias.

O Bispo auxiliar de Lahore diz que as inundações do último Verão permitiram uma resposta conjunta entre cristãos e muçulmanos.

Independentemente da “fé e da religião”, a Igreja Católica ajudou todos os que se lhe dirigiram, estando disponível para “partilhar o fardo” da reconstrução com o governo, agora que muitos regressam às suas terras de origem para passar o Inverno.

As cheias de 2010 foram as maiores na história do país asiático e afectaram dez por cento da população do país e uma área do tamanho da Inglaterra. Cerca de 1,9 milhões de casas foram destruídas e 1700 pessoas morreram.

D. Sebastian Shaw deixou uma palavra de agradecimento especial ao povo português que “imediatamente deu ajuda” numa situação de emergência, permitindo distribuir comida, roupa e medicamentos em muitos locais.

A herança portuguesa na Igreja paquistanesa está patente na influência que muitos habitantes de Goa tiveram no país vizinho, onde ainda hoje se encontram Bispos com os apelidos Lobo, Pinto, Rodrigues ou Saldanha.

O Bispo auxiliar de Lahore espera que estes laços não desapareçam e sirvam para apoiar uma Igreja perseguida pelo medo, a violência e o extremismo numa sociedade em que se “tornou difícil falar de religião” em público e onde o silêncio é a solução encontrada para evitar “conflitos”.

“Pedimos aos jovens que procurem viver a fé, dando testemunho dela, sem procurar polémicas”, conclui D. Sebastian Shaw.

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26 de Outubro de 2010