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A servir sorrisos em Corroios

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«Servir um Sorriso» às pessoas mais carenciadas através da distribuição de alimentos e roupas. É este o projecto que a associação «Ao Encontro de um Sorriso» tem colocado em prática desde há um ano em Corroios. No passado dia 23 de Dezembro estivemos na sede do Agrupamento de Escuteiros onde, 3 vezes por semana, funciona o «Sorriso».

 

 

A noite caiu já há algumas horas e o termómetro marca cinco graus. Está frio, mas à porta da sede do Agrupamento de Escuteiros 585 Corroios estão já algumas famílias que aguardam o início da distribuição de alimentos. Lá dentro, os voluntários, que hoje são maioritariamente dirigentes escutistas, vão organizando a comida que vai chegando. Cada um, com o seu próprio carro, já esteve nas pastelarias, restaurantes e estabelecimentos comerciais que colaboram com o «Sorriso» para irem buscar os excedentes de comida.

Para além do comércio local, há também voluntários que, em nome individual, contribuem para este projecto confeccionando algumas refeições quentes. A divulgação que este projecto tem tido ultimamente nos vários órgãos de comunicação social levou a um acréscimo no número de voluntários.

Diz Ângela Sá, actual Chefe de Agrupamento de Corroios e responsável pelo turno das sextas-feiras, que «as pessoas ficaram mais sensibilizadas para uma necessidade que muitas vezes até lhes passa ao lado», e conta a história de uma voluntária recente: «Houve uma senhora que viu na televisão a reportagem, foi à procura de contactos, veio cá falar connosco, explicámos-lhe o projecto e ela disponibilizou-se para fazer, quer fosse à sexta quer fosse noutro dia, uma grande porção de sopa e uma refeição quente para distribuirmos. É uma senhora que vem de Pinhal de Frades. Não mora propriamente aqui ao lado, ainda faz uns quilómetros para ajudar. Felizmente ainda há muita gente boa».

 

Uma nova pobreza

 

Pouco passa das 23h. Está já na hora de iniciar a distribuição de alimentos. Excepcionalmente, nesta quadra festiva, a distribuição foi transferida para quinta-feira. Por ordem de chegada, os nomes vão sendo registados pelos voluntários e, uma família de cada vez, vai entrando para levar o que houver.

Quem ali chega para pedir comida vem já devidamente identificado pela associação «Ao Encontro de um Sorriso». São pessoas pobres. Os antigos pobres que vêm muitas vezes de ambientes familiares sem qualquer estrutura, mas também os novos pobres. «Vem aqui muita gente como nós. Que tinham, até há pouco tempo, uma vida mais ou menos organizada e de repente, ou porque perderam o emprego ou porque lhes aconteceu algum azar, tiveram que vir aqui pedir comida. Às vezes ouvimos dizer ‘aquela pessoa vai ali toda bem vestida, de certeza que não precisa’. Mas isso não é bem assim. As pessoas já tinham roupas boas antes de se verem nesta situação. Não faz sentido deitarem as roupas boas para o lixo e vestirem-se com roupas rotas», dizem alguns dos dirigentes que ali estão ao serviço.

E a Chefe de Agrupamento conta-nos uma das histórias que mais a marcou: «Vem cá um senhor que tinha uma vida perfeitamente normal mas teve um acidente grave e esteve muito tempo internado. A família aproveitou e enquanto ele esteve doente, tiraram-lhe todos os bens e todo o dinheiro que ele tinha. Tiraram-lhe tudo. No entanto, é um senhor muito humilde, extremamente bem-educado e que está sempre pronto para nos ajudar quando nós precisamos».  

Quando a comida não chega

 

«Infelizmente os restaurantes hoje não puderam dar muita comida já confeccionada», diz Ângela Sá. Apesar de nunca ter faltado comida para os utentes do «Servir um Sorriso», a Chefe Ângela confessa que por vezes é difícil: «Quando há pouca comida raciona-se mais um pouco. Muitas vezes recorremos aos nossos armazéns das equipas de animação para ir buscar leite e outras coisas que sobram das nossas actividades. Tentamos assim colmatar, dentro do possível, quando há menos alimentos».

Hoje há alguma sopa, pão, bolos, frutas, legumes, leite e iogurtes. Mas não só. Com a noite de Natal à porta, cada um dos Lobitos do Agrupamento, com idades compreendidas entre os seis e os dez anos, em vez da habitual troca de presentes, levou um bem alimentar para oferecer ao «Sorriso». Uma forma de consciencializar os mais novos do serviço ao outro.

Nesta noite, há ainda presentes dados pelos Escuteiros para as crianças destas famílias mais desfavorecidas. «Para nós, católicos, o Natal tem um sentido. Para algumas destas famílias, o Natal é mais uma festa. Oficialmente, o “Sorriso” entregou ontem os presentes mas nós, Escuteiros, também quisemos dar presentes e minimizar um pouco mais as dificuldades desta quadra para os mais pequeninos», explica Ângela Sá.

 

Servir o próximo

 

Naturalmente, para além da comida, há também sempre uma palavra, um abraço, um sorriso para os utentes: «Servimos o próximo e servimos sorrisos. – diz Ângela Sá – É agradável sair daqui em todas as sextas-feiras com o sentido de missão cumprida, sabendo que fizemos aquilo que pudemos por quem mais precisa. Cada vez mais se fala em crise e não se sabe o dia de amanhã. Hoje estou eu a ajudar mas não sei se no futuro vou eu precisar do mesmo tipo de ajuda».

Já depois de tudo arrumado, os voluntários reúnem-se para se aquecerem com um chá no bar da sede dos Escuteiros. Hoje, a reunião é aquecida com um presente de uma senhora que ali vai muitas vezes buscar comida. Um postal de Natal com uma mensagem de gratidão por todas as vezes em que o «Sorriso» lhe deu algum conforto. Um presente que deixa todos os voluntários com um sorriso no coração.

No final desta noite, 26 famílias foram para casa mais aconchegadas. Uma média de 80 refeições por noite é que o «Sorriso» proporciona. Para tentar ainda dar mais conforto a estas famílias mais desfavorecidas, no dia 25 de Dezembro à tarde os voluntários deste projecto estiveram também a distribuir alimentos com o que foi sobrando da noite de consoada de muitas pessoas.

 

Anabela Sousa

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28 de Dezembro de 2010