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A NÃO INDIFERENÇA DOS BISPOS

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É evidente para todos os cristãos que a Igreja não pode pôr-se de parte quando toda a sociedade geme. O país anda assustado, teme dificuldades, vê o horizonte negro. Tal como S. Paulo em certo naufrágio no Mar Mediterrâneo se sentia solidário com todos os companheiros embarcados e apresentava as suas soluções, cautelas, esperanças e encorajamentos embora não sendo ele o responsável pelas decisões, assim a Igreja não se inibe de falar e actuar numa situação crítica como a nossa. O seu ponto de vista é apresentado enquanto participante da sociedade portuguesa envolvida e preocupada mas não como responsável e determinante das decisões políticas e sociais.

 

 

Os Bispos, enquanto pastores, isto é, responsáveis pelas comunidades cristãs, sublinham particularmente dois pontos de orientação para toda a sociedade e um terceiro particularmente dirigido aos cristãos que compartilham a sua fé. A toda a sociedade portuguesa propõem como apoios para o caminho difícil que vai trilhar dois princípios indispensáveis: a prioridade ao bem comum e o realismo em ver claro a situação para agir com eficácia.

O “bem comum” é um intento que exige capacidade e esforço em realizar um programa de medidas eficazes que resulte na melhoria do bem estar do conjunto dos cidadãos. É preciso ter uma visão do conjunto, da totalidade ou maioria da população, ampla e larga, não apenas reduzida a uma classe, um grupo, uma casta ou categoria de indivíduos ou famílias. Não só os funcionários públicos mas também os particulares, não só os trabalhadores mas também os incapazes, não só os sadios mas também os doentes, não só os inteligentes e os mais protestadores mas também os mais simples, os calados e infelizes. O bem comum não comporta exclusões, não elimina inferiores ou insignificantes, não rejeita nem esquece quem não fala nem tem poder. Os Bispos por esta expressão “bem comum” incluem todos os cidadãos.

Falam eles também em “realismo” que reforçam com o adjectivo: “grande realismo”. Opõem esta ideia a “utopias” ou seja, a ideias grandiosas e imaginativas de sociedades perfeitas sem sofrimento, sem ofensas a direitos, sem quaisquer desigualdades humanas, de automatismos, de justiça, de total eliminação do egoísmo. Defensores de sociedades perfeitas, de filosofias e estratégias de absoluta igualdade, de métodos belicistas, guerreiros e revolucionários em ordem a objectivos fantasiosos e idealistas não têm lugar actualmente na nossa sociedade. Realismo significa partir do que existe, da situação concreta, do que se vive, das limitações e muros que nos cercam. Os sonhos não fazem parte agora da programação a cumprir.

Para os cristãos, os Bispos têm uma palavra mais exigente porque mais profunda com raízes no Evangelho. A nossa atitude não é simplesmente a aceitação das restrições impostas, da distribuição obrigatória, do cumprimento rigoroso e consciente de uma lei igual para todos. É-nos pedido mais, tanto como se fosse para a nossa família, para o nosso irmão ou irmã em aflição. Pedem-nos os Bispos o sentimento e o gesto que nasce no coração e se acalenta na fé: o amor fraterno que significa o ir para além do obrigatório, às vezes do que se pode, por causa do irmão, por causa de Jesus Cristo. Não é a lei da sociedade que nos obriga a tanto mas a lei do Evangelho. No nosso caso, é uma verdadeira utopia do coração a que a Palavra de Jesus dá realismo, torna efectiva porque sabemos que nunca ficaremos esmagados nem desamparados. Amar o nosso próximo segundo o Evangelho é partilhar sem medo o que é nosso, o que cada um de nós é. Ficaremos então mais ricos e mais fortes.

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02 de Julho de 2011