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O BARULHO DAS LUZES

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A recente nomeação dos novos membros do Governo, feita em razoável sigilo, trouxe à baila um nome que poucos ou nenhuns haviam alvitrado para a pasta das Finanças.
Um país jornalístico a dar palpites sobre quem iria para que cargo, com dezenas ou centenas de nomes sugeridos e fundamentados e este economista apenas foi referido, fugazmente, no “Semanário Económico” sem qualquer menção especial e sem nenhuma convicção.

 

(Se o leitor, neste momento, pensa que o escriba se esqueceu que o texto é dirigido ao jornal diocesano e não a um jornal económico ou político, não tenha receio que já procuraremos dar sentido ao caminho).

Ora, uma vez conhecido o nome do novo Ministro das Finanças, ainda por cima Ministro de Estado, todos, realço todos, opinaram no sentido do brilhantismo deste homem, do curriculum impressionante e da mais-valia que a sua experiência profissional e internacional trariam para o exercício de um cargo que todos consideravam o mais relevante, a seguir ao do Primeiro-Ministro. Não se encontrou uma voz dissonante na área e muitos diziam ser um nome de tal maneira bom que talvez fosse por isso que nunca teria sido pensado.

Para muitos – como este vosso servidor – que desconheciam quem era a personagem, a curiosidade agudizou-se. As fotografias conhecidas apresentavam um pequeno homem sem características especiais, com um sorriso simples e envergonhado e a tomada de posse revelou alguém que ninguém repararia numa sala, não fosse o cargo que havia sido nomeado.

Uma leitura atenta de algumas notas biográficas agora conhecidas, revelam um homem de sumptuoso brilhantismo, brilhantismo esse apenas comparável à discrição.

E porquê falar, nesta sede, do Ministro das Finanças? Porque é um bom exemplo – nos dados que são conhecidos – de como no mundo, tantas vezes, tantas coisas, andam ao contrário.

O que, em regra, releva e confere elogios, é a exposição mediática, a imagem ou a eloquência. Um indivíduo de gabarito tem que aparecer na televisão, tem que ter boa imagem e, fundamentalmente tem que ter boa imprensa. Ninguém é reconhecido exclusivamente pelo que fizeram, pela obra realizada e não pela forma como parece, pelo modo como aparece. Como é que um indivíduo que não é conhecido de 99,9% da população portuguesa, que não opina em todo o lado, que até é uma fraca figura, pode, de um dia para o outro, ser Ministro de Estado e das Finanças e, para cúmulo, ser elogiado por todos aqueles que sabem quem ele é?

Por outro lado, quem é que, tendo o curriculum que agora se conhece, aceita deixar o reconhecimento relevante e bem pago, para se sujeitar ao pior emprego que Portugal tem para oferecer nos próximos quatro anos?

Eu não conheço o Dr. Vitor Gaspar. Não sei sequer se é católico ou mesmo cristão. Só sei o que li, só constato o que vi e é sobre esta imagem que agora temos que me debruço. Debruço-me para o estudar e dissertar mas fundamentalmente debruço-me em vénia, para enaltecer 50 anos de vida construída estruturadamente, fora da ribalta pública, mas na crista da onda da competência o que, aliada à abnegação de assumir esta missão, traz-nos um conjunto de valores que são herança e são já legado para este mundo surdo com o barulho das luzes onde gostamos, tantas vezes, de nos dissolver.

 

Rui Pinto Gonçalves

Chefe Regional

 

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02 de Julho de 2011