comprehensive-camels

Bilhete Postal

dom manuel

Caro Alfredo,

Escrevo-te do Corvo, a “Ilha do Silêncio”, substituindo mais uma vez o pároco que rumou à América, em gozo de férias. O Corvo envolvido na majestade do mar, na imensidade dos espaços, na eloquência dos velhos vulcões e visitada caldeira, é um oásis de paz

Caro Alfredo,

Escrevo-te do Corvo, a “Ilha do Silêncio”, substituindo mais uma vez o pároco que rumou à América, em gozo de férias. O Corvo envolvido na majestade do mar, na imensidade dos espaços, na eloquência dos velhos vulcões e visitada caldeira, é um oásis de paz. É um convento de clausura, de portas abertas. Aqui, Deus palpa-se; aqui, Deus cheira-se; aqui, Deus está e, como nos princípios, passeia e fala connosco.

Disseram as crónicas que os Corvinos não deram importância à visita do Presidente Cavaco. Compreendo. Nascidos e vivendo no silêncio, o interesse deles é que não os incomodem.

Não sei porquê – se calhar, até sei – mas o Corvo faz-me lembrar a nossa Arrábida, também ela feita de beleza, de silêncios e de mistérios. Esboça-se um movimento no sentido de vir a ser declarada Património da Humanidade. Muito distraídos terão andado os responsáveis, para que o não tivessem feito já. A Arrábida é um colosso de majestade, de segredos, de apelos, de experiências sempre arrebatadoras.

Então, faça-se justiça. Já!

Agora, um ar de (pouca) graça.

Para chegar ao Corvo, tomei um avião no Porto às 08H30, para chegar a Lisboa pelas 09H30. Aqui, esperei três horas pelo avião que me levaria até à Horta. Já na Horta, depois de quase duas horas de espera (por sinal, muito agradáveis pelo encontro de pessoas amigas) rumei ao meu Corvo, a minha “Terra Prometida”. Pelos motivos atrás apontados (!) não houve música nem foguetes, mas senti-me na minha terra e na minha casa. Esta é um assombro de comodidade e de asseio. Lendo, pensando e escrevendo, vou aproveitando espaços muitos para poisar os meus olhos na bela Ilha das Flores, aqui a duas braçadas.

Só agora chego ao que queria: em Lisboa, também para distrair a espera, dirigi-me a uma Confeitaria e disse: “Queria um café”. Atalha-me, pronto, o simpático brasileiro: «Queria, e agora já não quer?». E depois, já na minha mesa e também com dois jornais, tendo em conta a pobre sorte do meu país, dei comigo a pensar em três formas do verbo querer: quererei, quero, quereria. Até há pouco, todos mantinham a sua força. Tenho muito medo de que, num futuro que para muita gente já começou ontem, a forma de a usar seja a de quereria  

.  

Mt.º Ded.º

+ Manuel

Partilhe nas redes sociais!
08 de Novembro de 2011