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Espiritualidade

CNE

Já aqui se explicou que o Corpo Nacional de Escutas tem, na sua génese, inscrita a missão de formar cristãos. Criado no contexto da Primeira República, quando a educação católica estava fortemente comprometida, este movimento surge como forma de educar na Fé jovens que, de outra forma, não seria possível formar. Já havia escutismo em Portugal, pelo que se entende que, sem formação cristã, o CNE se esvazia de significado.

A atualidade da proposta do CNE é manifesta na necessidade de levar Cristo a jovens que, de outra forma, não O conheceriam. No início do século passado, porque era proibido, hoje porque são muitas as famílias que optam por não oferecer formação cristã aos seus filhos. Convidar jovens a integrar o CNE é, também, oferecer-lhes uma via de desenvolvimento espiritual que não é proporcionada no seio da família. Este desígnio é tão mais importante e atual quanto sabemos do contexto materialista sobre o qual se formam algumas personalidades na sociedade contemporânea.
Se a proposta é atual, é também fortemente desafiante. Nem sempre o CNE tem tido sucesso nesta proposta educativa, porque a “concorrência” com as famílias é forte. Acolher jovens cujas famílias não são católicas obriga a clareza, a desafiar as próprias famílias e a trilhar um caminho que não conduza a que os jovens abandonem a Igreja nos dias em que não estão com os seus agrupamentos ou quando terminam a sua caminhada escutista.
Para que haja sucesso, o programa educativo do CNE oferece três vias complementares. Em primeiro lugar, propõe-se que os jovens descubram e conheçam a doutrina católica. Não se pode querer que alguém atinja patamares elevados de desenvolvimento espiritual sem conhecer a doutrina a que submete a orientação da sua vida. Este caminho de conhecimento passa por uma caminhada que, no Lobito, é de admiração da natureza como obra do Criador e que culmina, no Caminheirismo, com a apreensão do significado das Epístolas de Paulo e das suas viagens como modelo de conversão de vida e de escolha de caminhos. Sem conhecimento, não há tomadas de opção conscientes. O trabalho a desenvolver tem de ser diferenciado e em articulação estreita com as famílias e as catequeses. A diferenciação justifica-se por acolhermos aqueles que, na família, têm prática de falar de Cristo e aqueles que nada conhecem. Tratar todos por igual é fechar os olhos a uma diferença que é das maiores riquezas do escutismo enquanto portal de evangelização.
Para além da descoberta da Fé, é fundamental que haja vivência da Fé, que se traduz num aprofundamento do conhecimento e numa disponibilidade para viver o dia-a-dia como cristão. A prática da partilha, dos momentos de oração e contemplação, da canção de louvor, da integração ativa nos momentos fortes da vida da Igreja são fundamentais para que cada jovem tenha a experiência de Cristo. Sem vivência, não há desenvolvimento. Se o percurso a oferecer se ficasse pelo conhecimento, estaríamos a formar jovens com um grau de cultura geral acima dos seus colegas de escola, mas sem oportunidade de experimentar Jesus e de, assim, assumir e optar. É no campo, nos momentos de oração partilhada, no silêncio que a noite oferece, no aconchego à volta da fogueira, na celebração campal, na oração da manhã quando o dia desperta, na relação de amizade que estabelece com o Assistente, que estamos a oferecer aos jovens a oportunidade de se deixar tocar por Jesus. Na peregrinação que organizamos, na celebração jovem, no encanto da vigília de oração e na Promessa celebrada condignamente, no acampamento internacional em que os convidamos ao diálogo inter-religioso, deixamos que Deus toque no coração dos jovens escuteiros, levando-os a ter a fundamental experiência de Cristo.
Finalmente, o desenvolvimento espiritual dos jovens é feito através da oportunidade de serviço que lhes é proporcionada. Caberá a cada escuteiro a tarefa de levar Cristo a outros, de dar testemunho cristão junto dos novos escuteiros, na comunidade paroquial, na escola e em casa. Espera-se que quem cresça escuteiro atinja um nível de desenvolvimento em que deixa de dizer que é católico porque é escuteiro, mas que perceba que é, antes de mais, católico. Para tanto, temos de criar oportunidades de evangelização, mostrando aos jovens que é possível fazê-lo, que é possível dar exemplo de compromisso cristão em todas as dimensões da sua vida.
Nada disto se faz sem se abrir as portas aos jovens e sem que os adultos entendam a necessidade permanente de formação.

João Costa (Chefe Regional)

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06 de Fevereiro de 2012