Estamos na paróquia do Seixal, uma comunidade cristã com quase trezentos anos de história. A Igreja, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, fica ali mesmo junto ao estuário do Tejo, em pleno centro histórico da sede do município. Tem, desde 2009, um novo pároco, o Padre Marco Luís, que nos recebeu e nos deu a conhecer um pouco da realidade paroquial.
«Desde o dia que cheguei à Paróquia do Seixal apontei como linha orientadora a oração, formação e missão, que se reflete nos encontros dos próprios grupos paroquiais e nas opções da comunidade paroquial», afirma o Padre Marco Luís. Apesar de sentir que é um longo caminho a percorrer, «rezar, formar e evangelizar» é a prioridade apontada pelo sacerdote que dá o exemplo do que já acontece nas catequeses.
«A adoração do Santíssimo Sacramento por dois volumes da catequese em cada Domingo, a recitação de uma dezena do terço no fim de cada sessão de catequese, iniciando as crianças na oração de petição, intercessão, ação de graças, só é possível porque antes de mais acontece com os seus catequistas com a ajuda do prior», explica.
Um dos maiores desafios da comunidade do Seixal, considera o pároco, é a implicação das famílias no caminho de fé que pedem para os seus filhos fazerem na paróquia. «Isso implica tantas vezes uma dificuldade mas também uma oportunidade evangelizadora», afirma o prior.
Dificuldades e desafios
Há cerca de um ano, D. Gilberto dos Reis, Bispo diocesano, esteve em visita pastoral na paróquia do Seixal. Diz o Padre Marco que «o perigo dos cristãos‘ self-service’ foi um dos perigos apontados pelo Bispo de Setúbal – e continua– A mobilidade própria dos nossos dias, e bastante acentuada desde há muito nesta zona pastoral, faz com que por vezes não se lancem raízes numa comunidade paroquial de forma estável».
Mas as dificuldades da Paróquia, que se revelam ao mesmo tempo de safios para a comunidade, não se ficam por aqui. A desertificação do centro histórico do Seixal e a «aparente» ausência de projetos por parte do poder local para aquele espaço, a necessidade da revisão dos limites paroquiais sentida há anos pela comunidade paroquial e anteriores párocos e a necessidade de restauros na Igreja face a uma comunidade com poucos recursos económicos, são alguns dos desafios apontados pelo Padre Marco Luís.
Comunidade a crescer
«Estou no Seixal há dois anos e meio. A Paróquia tem respondido positivamente aos apelos de Nosso Senhor através do prior e também é verdade que sinto os apelos de Deus através de muitos que me estão confiados. Temos crescido enquanto comunidade paroquial», garante o sacerdote.
Quando chegou à Paróquia, o pároco diz que existia a catequese, a Ajuda Fraterna (grupo de ação caritativa), o coro sénior, o Agrupamento de Escuteiros 253 (marítimos) e casais ligados a duas equipas de Nossa Senhora.
Neste momento, já existem na comunidade, mais duas equipas de Nossa Senhora, a Legião de Maria, o grupo de jovens Caminho de Vida, o coro juvenil, os zeladores da Igreja e a Catequese de Pais. No próximo período quaresmal, confirmou ainda o pároco, vai iniciar na paróquia a Vida Ascendente (movimento cristão de reformados) e também um grupo de oração da Comunidade Shalom.
Oportunidade evangelizadora
Os grandes momentos da vida da Paróquia são, diz o Prior, «os momentos com Jesus, em cada Domingo, nas solenidades, na festa da padroeira Nossa Senhora da Conceição e nas festas de São Pedro, com quem queremos viver muito unidos no Ano da Fé que se aproxima». Mas as festas de São Pedro que ocorrem anualmente no final de junho, como festas de sede de concelho que abrem todas as outras festas que se seguem, são vistas pela Paróquia como uma oportunidade de evangelização.
A Igreja aberta até à meia-noite com zeladores, além do habitual todo o ano, em que só fecha à hora de almoço, a noite paroquial com a dinamização no adro da Igreja, o tríduo de São Pedro com oração e formação na Igreja e a cuidadosa preparação por parte de toda a comunidade paroquial do dia de S. Pedro, de forma especial a procissão solene, são algumas das formas em que a Paróquia concretiza essa oportunidade evangelizadora.
O combate à crise de fé
De resto, o pároco do Seixal, que é também assistente regional do Corpo Nacional de Escutas, diretor do serviço pastoral do Ensino Superior de Setúbal, e um dos padres dinamizadores do A3 Jovem, refere de forma perentória que a crise de fé da sociedade atual só se combate com uma vida de oração intensa.
«Não nos enganemos com ‘pseudo-estratégias’. Os fiéis, as paróquias têm de ter vida de oração intensa que seja motor para dar razões da fé e impulso missionário. Depois quer-me parecer que ‘o tecido eclesial’ é muito frágil. Estamos em tempos de profundas mudanças. Tenho dúvidas que ‘super paróquias’ ou até ‘super dioceses’ deem enquadramento necessário aos nossos fiéis se não for enquanto ’comunidade de comunidades’, com laços mais estreitos na oração e na entreajuda fraterna», afirma o Padre Marco.
Projetos sociais
Para além desta crise de fé, há ainda a crise económica dos nossos dias. Com uma ação social organizada, a Paróquia do Seixal tem ajudado cerca de setenta famílias. «No universo de cerca de 2300 eleitores que a freguesia tem é bastante», refere o sacerdote que realça o importante trabalho dos membros da Legião de Maria junto dos doentes e dos idosos.
Depois de no ano passado ter iniciado a dinamização da partilha de bens alimentares por parte da comunidade paroquial, nas Eucaristias do terceiro Domingo de cada mês e de forma mais solene no Natal e Páscoa, a Paróquia avançou com novos projetos este ano: um banco de roupa e um banco de farmácia.
Está ainda em perspetiva uma loja social mas este é um projeto que, diz o Padre Marco Luís, «tem como principal dificuldade à sua concretização a ausência de espaço», apesar da existência de dois pequenos centros paroquiais.
«Instrumento dócil nas mãos de Deus»
No Seixal há pouco tempo, apenas desde setembro de 2009, o Padre Marco Luís, que só depois de três anos de sacerdócio foi chamado a ser pároco, diz que, o responsável de uma comunidade paroquial, na linha do Concilio Vaticano II, «é o fazedor de comunhão que tem de discernir, trabalhar muito mas rezar ainda mais».
«Sinto que no levar as pessoas a terem amor a Jesus na Santíssima Eucaristia, no ministério da Reconciliação, guiados pelo amor maternal de Nossa Senhora, na perseverança e fidelidade à Igreja está o centro de tudo. O primeiro desafio é o de ser instrumento dócil nas mãos de Deus», sublinha o sacerdote.
«Por outro lado – diz o Padre Marco Luís – as perseguições e incompreensões fazem-me compreender que sou discípulo que sigo os passos do mestre Jesus. Dou graças a Deus pela feliz experiência que é ser pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Seixal, pois não há igual».
Anabela Sousa