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Morrer e nascer

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O número de seres humanos no mundo aumenta mas esse aumento não é nivelado em todas as zonas do planeta. Há países e continentes em que a natalidade progride rapidamente, outros há que definham e estão em decadência de nascimentos. A população mundial está a desequilibrar-se.

No nosso país atingiu-se um ponto em que morre-se mais do que se nasce. O número de bebés nascidos num ano não compensa o de óbitos no mesmo ano. Significa este facto menos gente nova, mais gente velha, ou seja, envelhecimento da população, insuficiente renovação juvenil. É esta situação preocupante? Implica este facto consequências danosas? Esta é uma questão que, às vezes, inquieta os políticos, mas também a Igreja, os sociólogos, os demógrafos, os economistas.
Há cinquenta anos atrás nasciam em Portugal em média anual 200 mil crianças, hoje verifica-se uma diminuição para cerca de 100 mil. A taxa da idade dos falecidos tem vindo a crescer, isto é, morre-se mais tarde. Contudo, compreende-se o receio dos casais em terem filhos: o desemprego cresceu, a segurança social é menos sustentável, o desejo de gozar a vida sem compromissos é mais forte. O instinto de paternidade é assim muito combatido e contrariado. Como há outras regiões e países em que a tendência não é de diminuição e decadência mas de crescimento e aumento da população é muito provável que se assista a um assédio destes aos lugares menos populosos. A emigração é, portanto, um fenómeno para continuar. Outros preocupam-se com a sustentabilidade da Segurança Social para garantir as ambicionadas pensões, subsídios de doença ou de desemprego. Na verdade, se não houver quem desconte como podem outros receber: trata-se de uma roda de alcatruzes: enquanto uns enchem outros esvaziam. Há ainda quem se aflija com o desvanecimento progressivo até à extinção do próprio país que a certa altura perderá a sua individualidade para ser inteiramente absorvido por alguma outra potência mais forte. Enfim os medos multiplicam-se.
Em certa época na França, o governo assustou-se de tal modo com este problema da “desnatalização” e da perda da sua identidade nacional que ofereceu às famílias com terceiro nascimento ou mais fortes incentivos financeiros. Um certo número delas enriqueceu com esses apoios generosos, pois puseram-se a procriar com gosto e proveito; mas muitas outras continuaram com a mesma contenção pois não se deixaram seduzir pela minhoca, isco ou engodo. Assim o Estado desistiu e o engodo dos filhos numerosos esfumou-se. Em Portugal que vamos fazer? Não há dinheiro para dar, não há trabalho para oferecer, não há esperança para encorajar, não há generosidade que prevaleça. De facto, só uma nova ordem, só uma nova sociedade, só um novo mundo mais responsável e consciente pode desenhar caminhos mais corretos.

Pe. Manuel Soares

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27 de Fevereiro de 2012