Uma boa amiga que se afastou da Igreja no final da adolescência dizia-me esta semana, meio a sério meio a brincar, que ficou sempre com a ideia de que a Quaresma é um período deprimente e algo sufocante.
Quaresma é Felicidade
Uma boa amiga que se afastou da Igreja no final da adolescência dizia-me esta semana, meio a sério meio a brincar, que ficou sempre com a ideia de que a Quaresma é um período deprimente e algo sufocante. Eu sugeri que o mal foi nunca ter chegado à Páscoa, mas fiquei sobretudo a pensar que há trabalho a fazer com os jovens para que os tempos litúrgicos sejam vividos em plenitude e para que não se construam imagens assentes em modelos impostos por quem nunca viveu a experiência quaresmal, tendo apenas passado por este período de forma ritualizada.
É preciso apresentar aos jovens a Quaresma como percurso. Oferecemos-lhes, e preparamos em conjunto com eles, uma caminhada de conversão, que culminará na alegria da Páscoa. Essa caminhada é um percurso de preparação e terá de ser desafiante para não ser vazia. O desafio que colocamos aos jovens implica que eles tomem consciência de que há metas a cumprir e que este projeto específico “dá trabalho”. Vejamos alguns aspetos de uma quaresma jovem:
O desafio de parar – Estamos na época em que tudo flui a uma velocidade alucinante. Os jovens, em particular, correm da escola para diversas atividades, saem com amigos, precisam de estar sempre online, os SMS não param de chegar… Ter tempo para Deus implica saber parar. Parar e deixar que o silêncio esteja presente, pois é no silêncio que Deus fala. Qualquer adolescente normal estranha, hoje, o convite a parar. Não sabe o que fazer se não tiver uma máquina à mão. Pode até sentir-se inútil. Temos de os preparar para isso e de os fazer ver o valor da paragem e do retiro como instrumento de crescimento.
O desafio de refletir – De nada serve parar, se não formos convidados a pensar. Ao jovem retirado, devem ser oferecidos instrumentos para guiar a sua oração. Na era do conhecimento, temos tanta informação disponível, que se pode tornar difícil a reflexão sustentada. É, assim, hoje, desafiante ser convidado a pensar. Na adolescência, em particular, é importante que o jovem não se deixe seduzir pelos que querem pensar por ele, pelos que lhe negam a liberdade de refletir.
O desafio de abdicar – A Quaresma é tempo de renúncia. Renunciar não é um mero exercício de abnegação e de sacrifício, que perde sentido se não for convertido em transformação. Viver com menos, dizer não a algumas coisas é importante para entendermos que o que temos vale mais se for colocado ao serviço dos outros. Este é o caminho de transformação quaresmal que podemos oferecer aos jovens – pega no teu tempo e no que tens e dá. Renuncia a algum comodismo e entrega-te aos que precisam de ti.
O desafio de pedir perdão – A Quaresma é também uma estrada de humildade. Quem para, reza e renuncia é obrigado a ver-se também nas suas fraquezas. Também aqui os cristãos sabem que o perdão não é sinónimo da cultura da culpa – como às vezes nos dizem, mas sim sinal da alegria que existe em conseguir avaliar o que não presta, deitar fora o que temos de mau e recomeçar o caminho com um sorriso. A humildade de pedir perdão é condição para a alegria de olhar para a vida com um sorriso. Aos escuteiros, pedimos inúmeras vezes que avaliem as suas atividades e projetos. Falta-nos mostrar que o pedido de perdão não é diferente do trabalho de avaliação que os habituamos a fazer, embora a recompensa seja bem melhor.
O desafio da esperança – Só faz sentido caminhar, quando há um destino. A Quaresma faz sentido, porque, no fim, há a alegria da Páscoa. Caso contrário, não passa de uma caminhada inútil e desprovida de sentido. Se a Quaresma for vivida como verdadeira preparação para a Páscoa, será uma caminhada de renovação interior, de limpeza do que não presta, mas com um fim maior em vista. Será, assim, um caminho que se faz com propósito.
A nós, adultos responsáveis por crianças e jovens, cabe-nos mostrar que a Meta justifica o caminho, mas que o caminho é necessário para chegar à Meta. Se o fizermos, estamos, certamente, a formar jovens que crescem sabendo que a Quaresma é caminho de Felicidade.
João Costa (Chefe Regional)