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Brincar, descansar, trabalhar

carnaval veneziano  1

As actividades humanas são variadas e ninguém pode reduzir a sua vida ao exercício de uma única. Quando alguém diz, muito convencido, que só sabe ou só lhe interessa trabalhar, não fala verdade, não é possível; ou outro que afirme não querer mais nada senão ficar parado e nada fazer, trata-se de uma brincadeira. Não somos pedras nem somos máquinas, não somos apenas cérebros pensantes nem somente braços e pernas que se mexem. O nosso ser vivo é tudo isso e activa-se em todos os sentidos.

Antes de começar a Quaresma em que agora estamos mergulhados, os activos políticos, arrastando consigo parcelas populares, lançaram-se numa discussão que deu para rir acerca do que fazer no dia de carnaval: vamos brincar ou vamos trabalhar, vamos descansar ou vamos passear, vamos aproveitar a festa para ganhar ou participar nela para gastar? E cada um fez as suas contas, consultou a sua ideologia, perguntou ao chefe o que fazer e, ao sair da cama nesse dia, tomou a sua decisão. Afinal, algum caminho teria de tomar. No fim, os jornalistas perguntaram a uns e a outros o que fizeram, pediram explicações para o que cada um fez, puseram na balança o que se ganhou e o que se gastou e cada um leu o que quis, perguntaram a muita gente quem teria ganho e todos responderam: fomos nós.
Volto ao princípio: é preciso variar o nosso exercício e, certamente, trabalhar, brincar e descansar são três actividades importantes e indispensáveis. Mas, tenhamos atenção, não para todos igualmente: uma criança tem mais necessidade de brincar que um adulto; um idoso precisará mais de descansar que um jovem activo; uma família que quer pagar a sua casa esforçar-se-á mais em poupar do que em gastar, um país em crise preocupa-se em saber o que é produzir e o que é desperdiçar. Um opina: se formos brincar outros virão ter connosco e pagam a brincadeira e assim nós ganhamos; outros contestam: se paramos o trabalho a produção diminui e assim vendemos menos e ganhamos menos. Uns dizem: quanto mais gastarmos mais damos a ganhar para também estes gastarem e nós ganharmos; outros pensam: se todos gastarmos menos mais poupamos e mais temos para pagarmos o que devemos. Que fazer então? Trabalhar mais ou pararmos mais para mais protestar? Fazer mais festa para chamar mais gente a vir brincar connosco e pagar a festa? É mais proveitoso mais carnaval e menos trabalho ou mais trabalho e menos carnaval? Estes contrastes ou, se quisermos, dilemas não são brincadeira mas opções sérias que teremos que fazer, não pensando cada um em si mas pensando no conjunto para decidirmos bem porque uma decisão boa – isto é, equilibrada e justa – é proveitosa para todos.

Pe. Manuel Soares

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06 de Março de 2012