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Exigência numa Paróquia multicultural

miratejo

No limite da vigararia do Seixal, mesmo junto à vigararia de Almada, encontramos uma paróquia com apenas seis anos, mas com uma vida imensa. Miratejo/Laranjeiro é, nas palavras do pároco, Padre José Pinheiro, uma paróquia multicultural que aprecia a exigência da fé e que cresce a cada ano que passa.

Estamos na primeira sexta-feira da Quaresma e ao chegarmos ao cartório paroquial da Igreja dedicada à Sagrada Família, no Miratejo, cheira a sopa. O motivo? Uma proposta de caminhada quaresmal comunitária que o Padre José Pinheiro lançou à comunidade e que teve adesão numerosa e imediata.
«Aqui, a comunidade responde muito bem à exigência da fé e, por isso, desafiei os paroquianos a juntarmo-nos na Igreja todas as sextas-feiras de Quaresma para jantar. É um jantar singelo composto por uma sopa, uma peça de fruta e uma carcaça com o preço de referência de três euros. Depois de comermos a sopa, vamos todos fazer a via-sacra. O dinheiro que reunimos reverte para o grupo sócio-caritativo da paróquia e assim juntamos a oração, a abstinência e a esmola», explica o pároco.
Este é apenas um dos muitos exemplos apontados pelo Padre José Pinheiro que caracteriza esta comunidade cristã e que demonstra o sentido de pertença a Jesus. A par disto, o pároco de Miratejo/Laranjeiro diz que aquela é uma paróquia multicultural e muito aberta ao que é diferente.
«As pessoas começaram a vir para esta zona quando saíram de África nos anos setenta, e por isso grande parte da primeira população de Miratejo veio de África. Depois, continuou nos anos oitenta e noventa. É uma população que tem mundo, que conhece outras realidades culturais, que está habituada a conviver com outras religiões e que não tem paciência para a intolerância», afirma o sacerdote.
É nesta perspetiva que os olhos do pároco vão além da comunidade. «A Paróquia são todas as pessoas que vivem nesta área geográfica e todos eles são chamados a conhecerem Jesus – sublinha o Padre José Pinheiro – Portanto, sejam muçulmanos, ateus, evangélicos, sejam o que forem, todos eles são os meus paroquianos. Todos eles! Todos são queridos por Jesus e todos me estão confiados. São quase como se fossem uns paroquianos anónimos. Eles não têm consciência mas são meus paroquianos».

Anunciar Cristo ressuscitado

Para chegar a todos os paroquianos e se fazer presente no meio de uma paróquia tão diversificada, a comunidade sai muitas vezes para a rua, para expressar publicamente a sua fé. «É uma Paróquia que tem a semana santa com uma experiência muito visível. É uma riqueza que eu já herdei, a tradição da celebração da Semana Santa na rua», refere o pároco.
Começando com a via-sacra pública, na sexta-feira antes do Domingo de Ramos, passando pela procissão do Encontro (em conjunto com Corroios) no Domingo de Ramos, e a procissão do enterro do Senhor na Sexta-feira Santa, o Padre José Pinheiro introduziu, no ano anterior duas iniciativas novas: a procissão de Cristo Ressuscitado pelas ruas de Miratejo a seguir à missa do Domingo de Páscoa e as visitas pascais.
«Nós sentimos a necessidade de anunciar Cristo Ressuscitado. Depois de uma Semana Santa tão forte e com sinais públicos de fé tão fortes, faltava anunciar a Cristo Ressuscitado. Convidei a Fanfarra dos Bombeiros do Seixal para a procissão e organizámos grupos de leigos para em duas horas corrermos centenas de casas», esclarece.

Formar agentes evangelizadores

Naturalmente, numa paróquia tão alargada e tão diferente, a evangelização é uma preocupação do sacerdote. Mas, considera o Padre José Pinheiro que a comunidade, para poder evangelizar, tem que ter agentes evangelizadores devidamente formados, e por isso presta muita atenção à formação de adultos.
«É impossível que o pároco seja o único evangelizador. Esta paróquia tem força evangelizadora porque tem muitos leigos que se dedicam ao trabalho na Igreja e à evangelização. Temos um cuidado muito grande com a formação humana dos paroquianos, principalmente aqueles que são catequistas, chefes de escuteiros e que têm responsabilidades enquanto educadores. Simultaneamente, com esta formação humana, a formação espiritual, com o objetivo de formar agentes para a Nova Evangelização», afirma.
Neste âmbito, os leigos são convidados a frequentar a Escola da Fé, o curso geral de Catequese e outras propostas formativas que vão surgindo na diocese, bem como a integrarem-se em movimentos como os Convívios Fraternos ou os Cursilhos de Cristandade.
Ao serviço da evangelização, o Padre José Pinheiro coloca também os meios de comunicação. Não só com o esforço de manter a página web da paróquia, http://paroquiamiratejo.weebly.com sempre atualizada, mas também no esforço de distribuição semanal do boletim paroquial para lá das portas da Igreja, em todas as caixas de correio.
Na comunidade é feito também um trabalho de formação junto dos pais das crianças da catequese e dos escuteiros, por isso há um grupo de adultos que se reúne à hora da catequese para que os pais também possam fazer a sua formação doutrinal e se preparem para os sacramentos.

Comunidade generosa com os pobres

Coma crise económica instalada em Portugal, a comunidade Miratejo também tem sentido o agudizar dos problemas sociais. De oitenta famílias apoiadas, o grupo sócio-caritativo passou a apoiar mais de trezentas famílias, o que se traduz, de acordo com o Padre José Pinheiro, em mais de um milhar de pessoas apoiadas. «Esta é uma zona muito carenciada muito atingida pelo desemprego. Numa família estruturada com quatro e cinco filhos, basta um estar desempregado que se torna dramático e as pessoas ficam logo em carência», afirma o pároco.
No entanto, a falta de capacidade logística para dar uma resposta em termos alimentares, está a fazer com que a Paróquia rejeite alguns pedidos de ajuda. «Não temos capacidade para responder. É gravíssimo. Nós, num ano, subimos mais de100 famílias e todos os dias chegam duas a três famílias a pedir ajuda. Agora estamos a começar a recusar porque não temos capacidade», explica o pároco.
Ainda assim, a Paróquia consegue dar resposta em termos de roupa e iniciou recentemente um novo projeto semanal: o banco de farmácia. Diz o Padre José Pinheiro que, com o plano de emergência social, foi aberta esta hipótese desde que se respeitassem três condições: que fossem distribuídos gratuitamente os medicamentos, que fossem distribuídos com a apresentação de receita médica, e que tivesse uma pessoa licenciada em farmácia à frente do banco de farmácia. «Nós respeitamos isso e temos tido uma adesão imensa das pessoas a dar, e a pedir», refere.
Apesar de tudo, o prior confessa que as pessoas não têm deixado de ajudar a Igreja masque, pelo contrário, as ofertas têm crescido e todos os meses é feita uma recolha de alimentos nos ofertórios das missas de sábado e domingo. «As pessoas são sempre muito generosas – comenta o pároco – E os escuteiros, de dois em dois meses fazem recolha nos supermercados locais para trazer para a paróquia».

Acordar a comunidade para Jesus

Por outro lado, a comunidade tem investido na Pastoral da Saúde e desenvolvido um largo trabalho junto daqueles que estão doentes e sozinhos em casa. «Uma das coisas que fizemos no dia mundial do doente foi uma oração pelos doentes, porque nem todos podem receber a unção dos doentes. A proposta foi que as pessoas dessem os nomes das pessoas doentes e fizemos uma lista enorme onde podia entrar toda a gente. Nesse dia, 15 minutos antes da missa dominical, foram lidos todos os nomes das pessoas porque quem íamos rezar especialmente naquela Eucaristia», contou-nos o sacerdote.
No seio da paróquia de Miratejo / Laranjeiro, o Padre José Pinheiro sente que a grande tarefa é «criar condições e estruturas na paróquia que deem mais visibilidade à comunidade no seio da Paróquia».
«Há aqui um trabalho grande de aproximar mais as pessoas a Jesus e é um grande desafio porque há tantas pessoas que vivem, completamente a ignorar Deus nomeio da cidade, que vivem sem olhar para esta dimensão espiritual da sua vida. O Papa fala-nos numa anestesia espiritual. A cidade está anestesiada espiritualmente e a minha grande missão na comunidade, como pastor, é acordar a comunidade para a verdade de Jesus Cristo, uma verdade que liberta, e estruturara comunidade com pessoas porque a riqueza da comunidade são as pessoas, são os agentes que temos capacidade para gerar, agentes felizes que sejam alegres que sintam pertença porque só dessa forma é que podemos evangelizar», conclui o Padre José Pinheiro que está desde 2008 naquela paróquia.

Ana Bela Sousa

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06 de Março de 2012