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Amanhã não trabalhamos (uma parábola)

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A mudança de professor estava a causar grande furor na turma. Ao verificar o atraso em que a turma se encontrava na matéria que deveria ser aprendida até ao exame e, sobretudo, nos hábitos de estudo muito deficientes daqueles alunos, o professor teve uma conversa séria com a turma propondo uma mudança radical e certamente exigente a partir daquele momento e durante dois anos até aos exames para impedir o “chumbo” tão previsível.

Os alunos perante as cores negras apresentadas pelo professor resignaram-se ao plano de recuperação e aceitaram, mas alguns, mais “reguilas”, não assinaram o acordo, sabendo contudo que não havia outro remédio, dado o atraso em que se encontravam.
O professor pediu ajuda a alguns colegas já habituados a estas situações e com eles ficou estabelecido um plano especial que incluía mais tempo de aulas, maior volume de TPC, corte de tempos livres, eliminação de feriados ou tolerâncias que já eram tradicionais como nos finais e começos de períodos, ou discussão de futebol nas segundas-feiras, partilhas de bolos de anos durante as aulas, e não marcação de faltas nas “pontes” de feriados e domingos. Tudo isto tinha de acabar para recuperar o perdido.
O tempo das “vacas magras” começou então. No princípio os rapazes e raparigas não se deram conta do que estava a mudar e continuaram com os seus pequenos privilégios e costumes antigos: conversas nas aulas, uso do telemóvel, faltas dos TPC. O professor chamou a atenção e as notas dos testes e chamadas começaram a baixar. Os protestos começaram a surgir: “stôr, está a ser injusto comigo, nunca tive estas notas”, “stôr está a exigir muito trabalho em casa, tenho outras actividades”, “stôr nem sequer já podemos falar nas aulas, só pede atenção, atenção, atenção”, “stôr está a caminhar muito depressa, não podemos aguentar este ritmo, não estamos habituados”, ao que o professor respondia: “Não combinámos que era preciso recuperar, não dissemos que seriam dois anos de muito trabalho, ou não querem ter êxito nos exames?” ao que alguns responderam: “Nós queremos é ter notas para passar”, “nós queremos continuar como antes sem estas exigências”. Perante a insistência do professor em exigir mais trabalho, alguns alunos fizeram uma proposta singular: “malta, para que ele saiba com quem está a tratar, amanhã ninguém traz os TPC feitos – é uma greve geral ao estudo. Na aula seguinte todos vamos faltar. Temos de defender os nossos direitos de lazer, de descanso, de brincadeira e de conversa”.
A greve geral ao estudo não foi tão geral como os organizadores desejavam. Alguns rapazes e raparigas pensaram em casa com os seus pais concluindo que deste modo nunca passariam o ano escolar. Assim, resolveram trabalhar nesse dia. Outros pais, porém, concordaram com os filhos e diziam-lhes que se fizessem tudo o que os professores queriam passariam a viver sempre debaixo das suas ordens e perderiam todos os direitos. Ora estes eram justamente os que menos sabiam e piores notas tinham.

Pe. Manuel Soares

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03 de Abril de 2012