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Vida nova

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Com uma vista privilegiada sobre a baía do Seixal, encontramos, na Arrentela, a Igreja Paroquial dedicada a Nossa Senhora da Consolação. Uma comunidade com séculos, que remonta aos finais do século XV, está, desde há quarenta e três anos, confiada ao Padre David Pinho Esteves. Em Setembro passado recebeu também, enquanto vigário paroquial, o Padre Daniel Nascimento. Foi com eles que falámos para ficarmos a conhecer um pouco mais desta comunidade.

Desde que chegou à Paróquia da Arrentela, há quarenta e três anos, o Padre David Esteves diz que muita coisa mudou. Num local de elevado crescimento populacional, o pároco revela que sempre fez um esforço para que a Igreja acompanhasse esta evolução.
«Isto hoje não é hoje a mesma coisa e eu tive que me ir adaptando aos tempos. Quando cá cheguei era uma Paróquia com cerca de dez mil habitantes, que incluía as atuais paróquias de Fernão Ferro e de Pinhal de Frades e a recém-construída Igreja da Torre da Marinha. No espaço que me estava confiado e onde só havia uma Igreja existem, agora, quatro. Eu sou prior da Arrentela mas tenho algo a ver com outras Paróquias», afirma.
Construir novos templos, diz o Padre David, sempre foi uma grande aventura entregue nas mãos de Deus, muito por causa dos encargos financeiros que acarretam. Mas, quando chegou à Arrentela, o sacerdote confessa que existiu uma aventura maior: «A Igreja estava toda a cair e tínhamos até medo de entrar. A primeira coisa que fiz foi restaurá-la e pô-la em condições de funcionar. Como é que consegui? Fui professor de Religião e Moral, ganhava a minha vida como professor, e todo o dinheiro ia para as obras de restauro da Igreja. A comunidade acabou por se entusiasmar e foi dando também algum dinheiro».

A presença entre os pobres

Pari passu, com a edificação da estrutura física da Paróquia, o Padre David revela que a comunidade desde sempre tem tido uma grande preocupação com o aspeto social. Uma inquietação de onde nasceu o Centro Paroquial há cerca de quarenta anos e que hoje, num tempo de crise, em colaboração com os grupos sócio caritativos da comunidade, apoia cerca de seiscentas e cinquenta famílias.
«Esta paróquia é muito rica no aspeto social – salienta o prior – há aqui muita gente dedicada aos mais pobres. O Centro Paroquial tem várias valências e assegura o salário de oitenta funcionários mas, na comunidade, a Associação ‘Dá-me a tua Mão’ e a Caritas desenvolvem um trabalho voluntário formidável junto daqueles que mais precisam. Temos feito, todos os meses um peditório, em géneros ou em dinheiro, e as pessoas ajudam bastante, apesar da crise».
É através desta atenção à realidade humana que o Padre David assegura que a comunidade também pode evangelizar: «Naturalmente que através do apoio social queremos, não só ajudar quem precisa, mas promover uma elevação das pessoas apoiadas. Como cristãos, temos que estar despertos também às necessidades de aprofundamento da fé. A partir do apoio social, há muita gente que se aproxima».
Neste âmbito, o pároco garante que sempre existiu um cuidado com a evangelização através dos diferentes espaços que foram nascendo. «O que queremos é proporcionar uma evangelização direta na Igreja, em relação catequese e também à formação cristã dos adultos», afirma o sacerdote.

«Lançar a semente»

Na Paróquia da Arrentela há catequese de crianças, de adultos, de catecumenato e também é feito algum trabalho com jovens, não só no grupo de jovens mas também nos Escuteiros. Diz o Padre David que o principal desafio numa comunidade é sempre o da dinâmica pastoral: «Como avançar, como aprofundar, como desenvolver? Este é o principal problema. E ficamos sempre insatisfeitos porque há sempre qualquer coisa que gostávamos que estivesse melhor e há sempre a sensação que há mais para fazer».
E acrescenta: «Temos que trabalhar mais com casais, com jovens, aproveitar os momentos como casamentos, batismos e funerais para lançar a proposta. O principal é saber lançar a semente e aproveitar todos os momentos para isso. O resto está nas mãos de Deus. Isto não é uma obra humana, é uma obra divina».
Presente na Arrentela há quase vinte anos está uma comunidade de Irmãs Doroteias que tem exercido a sua atividade tanto no apoio à Eucaristia, como na organização da catequese e dos grupos sócio caritativos. «Vieram, curiosamente, para servir este núcleo composto pela Arrentela, Seixal e Paio Pires mas nunca foram solicitadas nas outras paróquias e acabaram por ficar na Arrentela. São uma presença importante na pastoral da Paróquia, e é o que me tem valido», refere o pároco.

Torre da Marinha e vigário paroquial trazem vida nova

Com quase com setenta e oito anos, o Padre David Esteves admite que a paróquia da Arrentela precisava, já há mais tempo, de ter um Padre novo. «Chega a uma altura em que estamos limitados e a saúde não deixa, há uma certa dificuldade. Creio que, agora, o Padre Daniel poderá, com a sua juventude, fazer mais e melhor. Ou qualquer que seja o sacerdote que venha para cá no próximo ano», desabafa.
Muitas das preocupações partilhadas pelo Padre David, são também preocupações do Padre Daniel Nascimento. Chegado à comunidade em Setembro, enquanto vigário paroquial, garante que vem só por um ano e que só o Bispo diocesano saberá dizer qual o sacerdote que ficará à frente dos destinos da Paróquia da Arrentela no próximo.
No entanto, avança com as suas impressões e perspetivas da paróquia. «Esta é uma comunidade que está também em mudança. Agora, com a nova Igreja da Torre da Marinha, parece ter ganho novo fôlego. No início do ano tínhamos apenas uma missa dominical na Arrentela e outra na Torre da Marinha. Depressa chegámos à conclusão que as duas missas na Arrentela tinham que continuar, porque as pessoas que aqui vinham, continuam a vir e na Torre da Marinha tem aumentado a cada dia», destaca o Padre Daniel.
Conta ainda o vigário paroquial que, quando chegou, desde logo se apercebeu que na Arrentela a comunidade é dinâmica e envolvida. «Chamou-me logo a atenção uns jovens que apresentaram um musical sobre Fátima, até para angariar fundos para a nova Igreja. Isto é um sinal da envolvência da comunidade», afirma.
No entanto, este pároco jovem, salienta que há trabalho a fazer, não só com os jovens, mas também com os adolescentes: «Há dias estava a fazer uma estimativa das crianças que estão na catequese e é preocupante. Até ao sexto volume há um número considerável, mas a partir daí há um grande decréscimo. E o mesmo acontece nos Escuteiros. Nos Caminheiros, os mais velhos, não são sequer um clã. São só dois ou três».

«Combati o bom combate»

Relativamente a coisas novas que possam surgir na Paróquia, o Padre David Esteves diz também: «Gostaria muito que houvesse aqui alguém que pudesse motivar muito para o aspeto litúrgico e que agarrasse bem e dinamizasse bem essa área. É preciso um leigo que tenha uma ligação entre o altar e a assembleia e que ponha a comunidade a mexer. Para além disso, temos também que motivar os pais das crianças da catequese porque muitos mandam-nas para cá, mas não as acompanham. Mas isso já ficará para o Padre que vier».
«Aprendi muito aqui na Arrentela. Quando aqui cheguei, vinha muito ingénuo nestas coisas da pastoral e fui aprendendo. Chego ao fim e já sei algumas coisas mas já não tenho forças para as transmitir. No início tem-se forças mas não se sabe. No final, já se sabe mas a capacidade física não deixa. Mas, fiz tudo o que pude. Combati o bom, combate e quando sair, não quero que me batam palmas. O louvor é todo para Nosso Senhor».

Anabela Sousa

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03 de Abril de 2012