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Conhecer Jesus

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Se nos dizemos cristãos temos de procurar a raiz, a essência fundamental dessa nossa qualidade, desse projecto de vida, desse modo de ser que nos empenha totalmente.

Ser cristão não é uma afirmação leviana nem genérica, não é sentir-se levemente aderente a uma maioria dominante, não é simplesmente uma recusa de entrar em luta e combater uma cultura tradicional secular que afinal se insere bem num modo de viver cómodo, prático, sem grandes exigências de comportamento, tirando embora algumas regras e pequenos compromissos de que facilmente nos podemos descartar. Enfim, ser cristão para muita gente poderá ser a atitude mais fácil, mais simples, mais confortável de viver nesta civilização ou nesta sociedade. É comum ouvir: “Eu também sou cristão, não faço mal a ninguém”, “eu sou cristão porque tenho princípios – não roubo, não mato, não prejudico”, “eu sou cristão como os meus pais também foram lá na terra, aliás, tenho uma tia que vai todos os dias à Igreja e sou amigo de um padre que conheci uma vez”.
Isto é o mesmo que dizer-se cristão sem uma mínima referência a Cristo. Para muitos “cristãos” a pessoa de Jesus é inteiramente dispensável, obsoleta, esquecida, ignorada. Para além de um vago nome nada mais interessa nesta figura mítica, perdida na História, sem qualquer presença e importância no mundo actual. No mundo moderno mencioná-Lo é sinal de retrocesso, conservadorismo, arcaísmo. Contudo, Jesus Cristo é o centro, é o fundamento, é a base de toda a vida do cristão. Não se trata de um sistema moral, não se trata de princípios de uma civilização, não se trata de um contexto cultural, não se trata de uma tradição prolongada visível na arte, nos costumes, nas ideias básicas e vagas; trata-se sim de uma pessoa que se cruzou connosco, que nos cativou, que nos pusemos a seguir, a acompanhar, a assimilar, a absorver. Por isso é indispensável, antes de mais, conhecer Jesus.
Existem centenas de estudos sobre a pessoa de Jesus, publicaram-se bibliografias de Jesus, comentários sobre a sua vida e sobre os seus actos de todos os tamanhos, tendências e gostos imagináveis. A grande variedade de trabalhos escritos sobre Jesus, qualquer que seja o ponto de vista considerado, pode deixar perplexo e à sorte do que lhe cai na mão, alguém que recta e sinceramente quer conhecer Jesus.
Atrevo-me hoje a uma proposta muito séria e consciente. Tenho pegado em muitos estudos sobre a figura de Jesus, alguns muito desenvolvidos e abrangentes. Um, porém, que me foi oferecido recentemente e tenho vindo verdadeiramente “a devorá-lo” com todo o interesse, alegria e entusiasmo foi escrito por um homem de quem eu não esperava tal obra: Joseph Ratzinger. Digo não esperava – pela sua idade, pelo cargo absorvente que exerce, pela sua formação doutoral e, possivelmente, pela complexa especulação teológica a que se entregou – que o Papa actual produzisse esta formidável oferta a todos os cristãos – a sua obra “Jesus de Nazaré”. Trata-se de uma reflexão de profundidade intelectual mas também de grande sensibilidade, apresentada em palavras comuns e ideias simples, revelando um domínio completo de toda a Escritura Santa e um dom particular em relacionar as diversas citações para assim fazer descobrir o sentido dos acontecimentos. Fá-lo num discurso corrente e fácil que nos deixa um gosto e desejo de continuar a compreender melhor Jesus. A sua sensibilidade nada tem de sentimentalismo e lamechice que venha transtornar o nosso desejo de verdade e imparcialidade. Tudo é simples, claro, convincente, compreensivo e profundo nesta reflexão de alguns temas evangélicos com que o Papa nos presenteia. Vale a pena até porque a tradução é também ela excelente. Que rica dádiva Pascal.

Pe. Manuel Soares

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16 de Abril de 2012