Para lá da cidade sadina, já nos concelhos de Alcácer do Sal e de Grândola, está a Paróquia da Comporta que, apesar da distância, pertence à vigararia de Setúbal. Fomos até lá falar com o Padre Adalberto Saraiva, pároco daquela comunidade há mais de cinquenta anos.
De Setúbal à Comporta, de carro, demoramos mais de uma hora. Pelo caminho, e mesmo ao chegar, respira-se um ambiente bucólico. Pelas ruas, é pouca a gente que passa mas residem ali cerca de mil habitantes.
«A Comporta surge aos nossos olhos, ainda hoje, como uma aldeia mas isto era pior – conta-nos o Padre Adalberto já com os seus oitenta e quatro anos – Era uma zona muito isolada. Não havia aqui, quando para cá vim, um metro de caminho e predominavam as cabanas onde residia muita gente pobre. Quando aqui vim pela primeira vez questionei-me se, de facto, a Comporta era Portugal».
Hoje a realidade é diferente. As ruas já são de asfalto, as habitações mais condignas e a população residente já tem um nível de vida mais elevado. Ainda assim, é gente que vive muito das atividades agrícolas e piscatórias. «A vida das pessoas foi melhorando muito e hoje, na Comporta, vive-se já com algum nível. Uma das atividades que ajudou à melhoria do nível de vida foi a exploração da ostra», explica o prior.
No Verão, a população da Comporta aumenta devido às suas extensas praias. É um destino turístico de eleição, sobretudo para famílias mais abastadas. Um prestígio criado pelas ações publicitárias associadas à Herdade da Comporta, propriedade da família Espírito Santo. Os campos de golfe, as vinhas e muito, muito mais área, é tudo propriedade daquela família. O mesmo acontece com a Capela de Nossa Senhora da Saúde.
«Onde estou, aí sirvo»
A Comporta tem ali pároco residente porque os donos da herdade, «gente de fé», como diz o Padre Adalberto, disponibilizam o espaço. «Do ponto de vista religioso isto esteve abandonado durante muitos anos, sem padre residente. Era um padre de Alcácer que aqui vinha e dava resposta apenas às coisas mais imediatas, como por exemplo, um funeral», conta o prior.
«Hoje, é de facto, a família Espírito Santo que tem a propriedade da Igreja, mas, quem quer seja o proprietário, não pode fazer o que quer no que diz respeito ao culto. A Igreja nisso é intransigente. Cheguei a ter algumas dificuldades com funerais. Os velórios são feitos no espaço da Igreja porque não há outro espaço e havia quem quisesse que não se celebrasse missas de dias de guarda por causa de alguns velórios. Isso não pode acontecer», salienta o Padre Adalberto.
Integrada na Comporta, que pertencia à diocese de Évora, está também Tróia que pertence ao concelho de Grândola e pertencia, anteriormente, à diocese de Beja. «Na altura, quando devido à proximidade física a Comporta foi atribuída a Setúbal, eu estava aqui e não me importei de deixar de pertencer a Évora. Em todo o lado é Igreja de Cristo e onde estou, aí sirvo porque é para isso que Nosso Senhor me quer», refere o pároco.
«Onde há fome, dá-se de comer»
«Na altura, pediram-me para iniciar o culto em Tróia. Entrei em diálogo com os responsáveis e lá consegui, mas houve até alguma reação negativa. Antes do 25 de Abril havia uma resistência muito grande. Por exemplo, para sinalizar o lugar de culto havia várias placas com a indicação da capela e horários das missas, no entanto, houve um administrador que mandou arrancar essas placas. Mas havia um local de culto pequeno e funcional. Infelizmente, depois da compra e destruição da Torralta, a capela foi destruída e agora estamos a aguardar a construção de um novo local de culto», assinala o Padre Adalberto Saraiva.
Comporta e Tróia são, assim, os locais de culto daquela Paróquia que tem uma ação pastoral muito pobre. «Havia, antigamente, algumas crianças na catequese. Hoje, essas crianças são já avós. Depois, com o tempo, eu fui-me disponibilizando para ir aos vários locais dar catequese e levar catequistas comigo mas só apareciam uma ou duas crianças e com o tempo, nem uma. Já estiveram cá cursistas, escuteiros, o apostolado da oração mas hoje não há quase nada», indica o prior.
«Existe aqui uma catequese organizada mas as pessoas não aparecem – lamenta o Padre Adalberto – Até a missa, de segunda a sexta, conto sempre celebrá-la sozinho. As coisas estão organizadas também de acordo com a resposta dada pelas pessoas. Onde há fé, onde há fome, dá-se de comer. Mas se não há interesse em querer conhecer Jesus, que podemos fazer? Aqueles que sabem quem é Jesus, não O abandonam».
Atualmente, existe um seminarista, o Rui Simão, em estágio pastoral na Comporta. «É sangue novo que vem e dá uma ajuda também no que pode – comenta o pároco – Houve uma vez um leigo que aqui esteve e me perguntou se não era frustrante um Padre sozinho celebrar Missa. Respondi-lhe que pela fé em Jesus Cristo tudo vale a pena. A missa é o que há de mais válido. A missa é Jesus, instituída por Jesus para tornar presente aquele acontecimento da sua morte e ressurreição. Hoje já não me faz confusão porque são muitos anos de encontro com esta realidade. No princípio era mais difícil mas cá estamos onde Deus quer».
A Paróquia da Comporta conta ainda com um Centro Social e Paroquial que tem apenas as valências de Creche e Apoio Domiciliário.
Anabela Sousa