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A Fé de Lobito

CNE

Há dias alguém me dizia que era muito difícil trabalhar o conceito de Fé com os Lobitos, porque eles são muito novos e, entre os 6 e os 10 anos, tudo tem de ser muito concreto, caso contrário as crianças não entendem. Discordei veementemente e explico nestas linhas porquê.

Os lobitos reúnem várias características que os tornam aptos a uma adesão à Fé e consequente vivência bastante profundas: capacidade de deslumbramento, capacidade de viver com o mistério, capacidade de entenderem o que não veem, humildade na incompreensão, alegria da simplicidade. Reflitamos sobre cada uma destas características.
Capacidade de deslumbramento: as crianças encantam-se muito com o que as rodeia. Lembro- me de ter um conjunto de vinte lobitos deslumbrados com o facto de termos organizado uma corrida de caracóis num parque da cidade para ocupar uma hora que tínhamos sem fazer nada. Esta capacidade de deslumbramento, quando bem orientada, permite chamar-lhes a atenção para o que de mais belo existe no mundo: a criação. É fácil levar as crianças a observar o que as rodeia e convidá-las a fascinarem-se. O fascínio que colocam nas pequenas coisas torna-as aptas a acreditar nas maravilhas que as rodeiam, condição absolutamente indispensável para acreditar no poder infinito de Deus.
Capacidade de viver com o mistério e o invisível: associado ao deslumbramento vem a capacidade de se viver com a incompreensão. O Lobito não tem o cinismo dos que têm de entender tudo o que os rodeia. Vivem com a surpresa, acreditam na fantasia, gostam de mistérios e circulam num mundo cheio de fenómenos fascinantes que não compreendem. Esta vida repleta de mistério não é diferente de uma vida na Fé, em que temos de acreditar mesmo quando não compreendemos, confiando que existe uma explicação que nos transcende.
Humildade na incompreensão: exatamente porque lida bem com o mistério, a criança não tem medo do que não compreende. Aliás, reconhece que é normal que haja, na sua vida, muito que é incompreensível. Na escola, confia no adulto que lhe diz que, quando crescer, aprenderá o que ainda não sabe. Entende que a aprendizagem se faz gradualmente e sabe olhar para os mais velhos como alguém que sabe mais. Vive o que não entende sem dramas e acredita que, um dia, será capaz de entender mais e melhor se se esforçar e contando com os que mais sabem. Ao contrário dos mais velhos, não desconfia do que não sabe ou assume que o que não compreende está errado. Assumir que somos demasiado pequenos para entender algumas coisas e ter a humildade de aceitar que há quem saiba mais do que nós são boas condições para uma vida na Fé.
Alegria da simplicidade: uma coisa boa de ser criança é viver na simplicidade com alegria. Uma caixa de cartão pode proporcionar momentos de verdadeira alegria, quando acreditamos que é o baú de um tesouro, um barco em que viajamos ou o esconderijo secreto em que nos enfiamos. Enquanto brincamos, acreditamos; e não vale a pena virem dizer-nos que aquilo em que acreditamos é mentira. A criança não precisa de teorizar, relativizar, tornar tudo muito complicado. Vive com o que é simples e é feliz. A nossa Fé é simples, embora encerre mistérios complexos. Se nos alegrarmos com a simplicidade, estamos a tomar das crianças o melhor exemplo de aceitação.
Parece-me, portanto, que é precisamente nos Lobitos que encontramos os traços principais para se proporcionar uma vivência da Fé excelente. Basta-nos conseguir contagiá-los e deixá-los ter experiências de Fé. Os Lobitos não precisam que se trabalhe o abstrato e o difícil. Precisam apenas que se lhes mostre o que é deslumbrante e encantador e que se lhes traduza o que os rodeia como forma de expressão do amor de Deus.
Depois, vem o desafio principal – proporcionar crescimento na Fé. Muitos não passam da experiência de Fé proporcionada em criança e, subitamente, perdem-na. Já não são crianças e não são orientados para experiências de Fé adolescentes ou adultas. Pede-se apenas o deslumbramento, sem se convidar ao aprofundamento. É fundamental que a Fé do Lobito seja testemunho para todos. Acredito que se, como adultos, nos deixarmos contagiar pelo encantamento, alegria, simplicidade e humildade das crianças, aprofundaremos a Fé com maior solidez.

João Costa (Chefe Regional)

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05 de Novembro de 2012