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Generosidade e sentido apostólico

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Laranjeiro-Feijó, na vigararia de Almada, é a última Paróquia a ser retratada depois de termos percorrido as cinquenta e sete Paróquias das sete vigararias da Diocese de Setúbal. É uma Paróquia suburbana onde os problemas sociais têm vindo a ganhar expressão mas onde a comunidade cristã, generosa, se mobiliza para lhes responder. Diz-nos o pároco, Padre Francisco Mendes, que é uma comunidade viva, com muito para dar, que se entusiasma com as propostas que são feitas mas que precisa de ganhar sentido apostólico.

 

«Esta comunidade é feita daqueles problemas que todas as comunidades suburbanas são feitas – explica-nos o prior – Há aqui muita gente mas com um grau de anonimato enorme que vive, apesar de próxima, extremamente isolada. Existem algumas comunidades de origens étnicas um pouco mais gregárias mas, genericamente, é gente muito voltada para si, para a sua vida, com muito pouca vida comunitária». 

Depois de noutros tempos ter recebido ali pessoas que iam trabalhar para o Alfeite ou para a antiga Lisnave, é agora também uma comunidade que começa a dar sinais de envelhecimento. «Tirando Vale Flores, que é a parte das urbanizações novas, não há no Feijó construções e os casais mais novos quando casam, acabam por ir viver para a periferia e não tanto aqui, onde o espaço urbano está mais consolidado», refere o Padre Francisco. 

Ainda assim, tem uma grande presença de juventude visível, não só nas crianças que estão na catequese mas também no agrupamento de Escuteiros 461 Feijó que, de acordo com o pároco, é um dos que tem maior efectivo na região. «Temos cá gente jovem só que alguns já não estão propriamente aqui. Vêm cá porque os pais cresceram aqui e é aqui que continuam a fazer a sua caminhada cristã, mesmo já morando noutros lados», indica. Na Paróquia há ainda um grupo de jovens, um grupo bíblico para estudar a Sagrada Escritura, o Renovamento Carismático, o grupo do Bom Pastor e um grupo dos Cursilhos de Cristandade. 

 

«Ser veículo de Jesus Cristo»

 

Para combater o anonimato e o isolamento em que vivem as pessoas, sobretudo os mais idosos, o pároco aposta naqueles que já estão integrados: «É preciso, em primeiro lugar, tentar que as pessoas ganhem consciência que não há outro modo de chegar a quem anda isolado senão através delas. Quem aqui vem e participa na vida da comunidade cristã tem que ser veículo de Jesus Cristo». 

Por outro lado, há também o trabalho de mostrar mais a comunidade cristã no exterior, não só através de eventos públicos, como as procissões e festas que se fazem, mas também através do rosto sócio caritativo da comunidade, quer na ação do grupo de voluntariado quer nas atividades do Centro Comunitário. O Padre Francisco procura ainda ter a porta da Igreja aberta todos os dias para que as pessoas ali possam ir rezar: «Infelizmente não temos a Igreja aberta durante todas as horas, mas durante a maior parte do dia para fazer com que a comunidade esteja de portas abertas, se divulgue e se mostre». 

 

Crescer e responder às carências sociais 

 

Numa Paróquia com duas comunidades, Feijó, onde está a Igreja Matriz, e Vale Flores, onde se celebra na Escola Primária, mas que procura um terreno para a construção de uma Igreja, muitos são os desafios que se apresentam. 

«Estamos a tentar que a comunidade de Vale Flores cresça e ganhe o seu espaço e o seu lugar mas não tem sido possível. É uma comunidade muito pequenina, frágil, com alguns problemas internos de coesão e precisava de crescer mais nessa coesão para que isso também desse os seus frutos – afirma o Padre Francisco. Há o desejo de uma Igreja há muitos anos mas ainda não foi possível concretizá-lo. Houve um projeto mas absolutamente para lá das nossas possibilidades». 

Outro dos grandes desafios com que a Paróquia se depara são as carências sociais: «Temos gente a viver completamente isolada, com carências enormes, casos gritantes de pobreza envergonhada, e com esta crise isto só tem avolumado. Estamos a acudir a muita coisa que nunca pensaríamos ser possível acudir num tempo como o nosso e num país como o nosso. As situações são mesmo gritantes e o isolamento só as piora. Há idosos a viver sozinhos em águas furtadas e gente a viver em caves, a serem completamente explorados por senhorios sem escrúpulos, gente que tem trabalhos precários e tem muita dificuldade em conseguir um crédito e tem que se sujeitar a condições miseráveis de vida», afirma o prior do Feijó. 

Foi para responder a necessidades como estas que, há dois anos e meio, nasceu o grupo de voluntariado da Paróquia que, diz o Padre Francisco, «visa apoiar as atividades do grupo de Vicentinos, que funciona muito bem e tem uma atividade preciosa, e apoia o Centro Comunitário dando uma ajuda nas ações do centro de dia. É preciso fazer, no Feijó, com que a comunidade ganhe sentido apostólico, de presença cristã, e ganhe sentido de mostrar a sua vida e responder, sobretudo, a estes desafios sociais que estão muito presentes». 

 

«Não podemos deixar ninguém à porta»

 

De facto, o Centro Comunitário de Promoção Social é outra das respostas sociais que a Paróquia tem e que desde o agudizar da crise económica tem sido constantemente solicitado pelas pessoas. Com sede no Feijó e uma extensão no Laranjeiro, já no território da Paróquia do Miratejo, tem uma atividade que apoia as famílias, os idosos e a infância. 

«Há muita gente a bater à porta e sobretudo com menos possibilidades de se bastar a si própria. Em termos de apoio social nas freguesias do Laranjeiro e do Feijó, nós que temos acordo com a Segurança Social para noventa processos de atendimento social, com todo o encaminhamento através das nossas assistentes sociais, estamos neste momento com oitocentos. Estamos a multiplicar quase por dez o acordo que temos», esclarece o Padre Francisco Mendes. 

«É muito importante estre trabalho de encaminhar as pessoas, porque muita gente que se vê numa situação de grande carência, sobretudo quando isto é muito repentino, não sabe que soluções tem nem a que canais recorrer. São pessoas com processos que não estão lá todos os dias mas a que é preciso dar apoio, fazer telefonemas, ver se noutras instituições há capacidade de atender o problema, que programas há para responder a estas pessoas, ou que tipo de apoios podem ter», explica. 

O mesmo acontece com a cantina social que, tendo um acordo para oitenta refeições diárias, está já para lá porque as necessidades são muitas. «É para ser ver a dimensão da crise que aqui vai», diz o pároco. 

A sustentabilidade de todas estas coisas, para além dos acordos com a Segurança Social, vem da generosidade dos paroquianos. «Não só o extra da cantina social como todos os setecentos e dez processos extra para atendimento social! Somos nós que estamos a assegurar porque não podemos deixar ninguém à porta. Não seria cristão nem humano», sublinha ainda o sacerdote.

 

Remodelar as instalações e trazer beleza ao espaço litúrgico

 

Ainda que no Feijó a igreja-edifício tenha poucos anos de existência na sua forma atual, o Padre Francisco Mendes diz que é preciso torna-la mais condizente com as necessidades da comunidade que tem. «Não é que a comunidade não tenha feito um esforço inacreditável para ter uma Igreja condigna mas faltam-lhe espaços para funcionar – afirma o pároco. Quando queremos reunir com mais do que três grupos ao mesmo tempo, já não é possível ou então funcionam-se em condições mais ‘atamancadas’. Tem que se recorrer às instalações do Centro Comunitário. Não é que isso seja mau, mas podendo evitar estar sempre a recorrer para tudo às instalações do Centro, seria melhor», refere. 

É nesse sentido que já começaram, na Igreja de S. José Operário, as obras de remodelação, que vão permitir ter outro tipo de instalações e, diz o prior, «dar outra beleza ao espaço litúrgico que tem ainda que ser composto». Ainda que a crise económica possa afigurar-se uma dificuldade para a prossecução das obras, o Padre Francisco Mendes acredita que a generosidade da comunidade se vai continuar a fazer sentir. 

 «Já com a construção do coro alto, no ano passado, demorámos menos de um ano a pagá-lo entre empréstimos, dádivas, atividades e festas que a comunidade vai promovendo. É óbvio que se nota uma dificuldade grande das pessoas em corresponder. Não é uma comunidade de gente abastada, é de gente que está a acabar a sua vida ativa e está a reformar-se ou já está reformada, e cujas possibilidades não são grandes. Mas é uma comunidade com boa vontade e de gente muitíssimo generosa, que mesmo no pouco que tem, partilha imenso. Quando não consegue partilhar em dinheiro e há necessidade de géneros alimentares para os Vicentinos, corresponde sempre com uma generosidade enorme. É uma comunidade que prima pela generosidade», conclui. 

 

Anabela Sousa

 

 

 

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05 de Abril de 2013