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Construir um Santuário interior

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Em Almada, na diocese de Setúbal, mas de braços abertos para Lisboa, encontramos o Santuário Nacional de Cristo Rei. Fomos até lá falar com o reitor, Padre Sezinando Alberto, que nos contou como pretende mais do que edificar o santuário de pedra, construir um santuário interior em cada um dos visitantes e peregrinos daquele espaço.

«Um dos objetivos do Santuário é cultivar a dimensão da espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus que é uma mensagem de misericórdia. E hoje o mundo precisa de ouvir falar dessa misericórdia», diz-nos o Padre Sezinando Alberto, reitor do Cristo Rei desde 2003. É por isso que, desde que chegou ao Santuário, o sacerdote tem vindo a promover a criação de estruturas físicas para que todos os que ali se deslocam, sejam meros turistas ou peregrinos, não fiquem à margem desta espiritualidade.
«Procurámos criar um dinamismo de Santuário que não é fácil. Há gente que vem com espírito peregrino, e são muitas, mas há gente que não vem com espírito peregrino e que depois devido ao que vão vendo e às propostas que vão sendo feitas, interiorizam a mensagem. Há depois aquele que é o mero turista que vem por curiosidade e quer só ver a vista, mas até a esses nós queremos chegar porque o objectivo principal do Santuário é esse: transmitir a mensagem cristã para que as pessoas sintam que este é um local especial», afirma o reitor.
Assim, o santuário tem apostado em embelezar o espaço utilizando, sobretudo, obras de arte do arquiteto Sousa Araújo. «Começámos a embelezar a capela lá de cima, a ter alguns sinais religiosos no terreno, como a via-sacra junto ao miradouro para fazer perceber às pessoas qual é a mensagem», explicou o Padre Sezinando.
Para além de cultivar uma espiritualidade do Santuário, o Padre Sezinando procurou também a melhoria dos espaços exteriores: «Recordo-me que não havia aqui praticamente nada nos terrenos. Existia mato e nem um banco havia para as pessoas se sentarem. Eu percebi que para atrair pessoas, para que o local fosse mais apetecível, teria que haver um conjunto de melhorias».
Foi assim que nasceu um parque de merendas e a remodelação do edifício da reitoria com um refeitório, cozinha e camaratas para que os grupos eclesiais pudessem ali pernoitar. Todas estas melhorias, fez com que começassem a chegar mais pessoas ao santuário.

Um local de peregrinação

«Quando aqui cheguei a média de casamentos celebrados aqui no santuário era de sete, e os baptismos cerca de quinze. Agora estamos na casa dos cinquenta quer num quer noutro. É fruto das melhorias que se fizeram nos espaços e que atrai as pessoas a vir cá», sublinha o Padre Sezinando.
Um dos marcos importantes que ajudou a cultivar esta espiritualidade, e a trazer mais gente ao Santuário de Cristo Rei foi a celebração dos cinquenta anos da sua criação. Diz o reitor: «Percebi claramente que Deus nos dava uma oportunidade única. Procurei prepará-la e vivê-la para depois colher o fruto. Estes cinquenta anos foram preparados com toda a dedicação e com todo o trabalho».
Foi a partir dessa altura que o sacerdote diz ter tomado consciência que Cristo Rei existia, de facto, nas comunidade cristãs mas que continua a ser um desafio atrair essas pessoas: «Vêm muitos turistas, muitos peregrinos estrangeiros, mas penso que o grande desafio é, foi, e continua a ser que o Santuário se torne local de peregrinação das Paróquias. Como se vai a Fátima ou a Santiago de Compostela, vamos ao Cristo Rei. Isto aumentou a partir dos cinquenta anos e há muita procura. O ano passado foi um ano de crise mas as peregrinações aumentaram».

Oração, reparação e lausperene da diocese

Por outro lado, o reitor aposta também na colaboração quer das Irmãs Oblatas do Divino Coração que ali estão há oito anos e que dão uma grande ajuda na logística da reitoria e nos serviços de sacristia, quer na Comunidade Shalom que chegou ao Cristo Rei há dois anos e que ajuda no acolhimento, organizando também as visitas guiadas ao Santuário.
«Como o Santuário também se quer local de oração e de reparação, a Comunidade Shalom dá uma ajuda muito preciosa noutro campo. Temos o Santíssimo Sacramento exposto todos os dias, excepto à segunda-feira, das 10h até às 17h, na Capela dos Confidentes, aqui no edifício de acolhimento. Há pessoas que já sabem, quando chegam ao local tocam à campainha e vão à capela do Santíssimo. Mas mesmo que não venha ninguém de fora há sempre alguém da Comunidade a rezar. É um local de lausperene da diocese», diz o Padre Sezinando.
Outra coisa que veio ajudar a esta dinâmica espiritual do Santuário, foi o facto de a Santa Sé ter concedido Indulgência Plenária perpétua ao Cristo Rei. «Ainda não foi muito divulgada porque estamos a trabalhar o texto para brevemente, espero no mês de Maio, enviar um panfleto às Paróquias de todo o país a dizer o que temos aqui, o que se pode fazer, uma proposta de visita guiada ao Santuário, um dia de peregrinação. Vamos apostar nas Paróquias do país e nas Paróquias da nossa vizinha Espanha», revela o reitor.

É preciso continuar a levar pessoas ao Cristo Rei

Apesar de o Santuário ter ainda uma dívida referente ainda ao edifício de acolhimento e ao restauro a que o monumento foi sujeito, que não chega a um milhão de euros e que o reitor espera ter paga daqui a dez anos, o Padre Sezinando acredita que, para continuar a levar pessoas até Cristo Rei, o investimento não pode parar.
Há por isso já alguns projetos que serão concretizados num curto espaço de tempo e que ajudarão a santificar o espaço do santuário. A implementação de uma via-lucis, a colocação dos sacramentos, a oração do Pai-nosso e os cânticos evangélicos nos pórticos de entrada do Santuário para além de um espaço museológico sobre a história e a espiritualidade daquele espaço, são alguns deles.
Vai ser ainda inaugurada uma imagem de Nossa Senhora com os braços abertos a apontar para o Filho e a dizer, ‘Fazei tudo o que Ele vos disser’, para além de uma pequena monografia com seis páginas e em várias línguas de forma a chegar a todos os turistas, visitantes e peregrinos.
No entanto, a grande obra que está para breve é o revestimento de azulejos pintados com motivos bíblicos, com salmos, no miradouro do Santuário. «Já temos feita uma parte do pedestal onde assenta a imagem de Cristo. Vamos colocar aí a passagem bíblica do profeta Isaías quando Jesus vai à sinagoga de Nazaré, ‘O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu’. E em cima, em várias letras em bronze a dizer ‘Deus é Amor’. Isso já está feito e tem que ser colocado. Depois, à volta do miradouro, vai ficar o Cântico das Criaturas. Isso ainda não está feito. A ideia é que desde o rés-do-chão até lá acima haja uma pastoral. Um conjunto de imagens que procure santificar o espaço», explica o Padre Sezinando.

O sonho da construir uma Igreja e uma casa de retiros

Quanto a outras obras de fundo, o reitor explica-nos que há neste momento um projeto que já foi enviado à Diocese de Setúbal, que passa pela construção de uma Igreja grande, para cerca de mil pessoas sentadas devido às condições meteorológicas, por vezes adversas, por um altar exterior para as missas campais, e por uma capela do lausperene permanente onde terá confessionários mas também quartos para que as pessoas possam dormir durante a noite. Esse projeto inclui ainda uma réplica da Capelinha das Aparições para se fazer a ligação a Fátima.
«Este projeto – diz ainda o Padre Sezinando – contempla ainda a construção de uma grande casa de retiros que a diocese não tem. Esta casa de retiros, quando surgir, terá duas vertentes. Uma espiritual para acolher os grupos das paróquias e movimentos que queiram aqui fazer o seu retiro e pernoitar, mas também vai ter outra vertente que aquela vertente da pessoa que é turista, peregrino, não tem nada organizado e quer ficar em Cristo Rei a dormir. Também seria sonho meu que essa casa de retiros, se eu for cá reitor na altura em que essa casa se fizer, quero deixar uma pequena ala para Padres mais velhos porque o Santuário, com infra-estruturas, é um local com muita afluência de pessoas e para Padres que já não exercem o seu ministério na paróquia, e vivendo num local onde há muita gente, podem aqui confessar, podem ser uma presença para apoio aos peregrinos».

Mais do que um santuário de pedra

O reitor do Santuário diz ainda que este ano verificou que o Santuário tem que dar outras respostas. «Há certas coisas que fazemos aqui que não é do carisma do Santuário mas temos que ter para servir o peregrino. Por exemplo, a cafetaria. Porque é longe da cidade, não há aqui quase nada e as pessoas precisam de uma garrafa de água ou alguma coisa do género e onde é que vão comprar? Agora até temos sentido procura de um certo tipo de produtos que nós não temos e temos que passar a ter. Então, brevemente, vamos também adaptar a cafetaria para termos condições de servir refeições rápidas».
Para além disso, o sacerdote diz que é possível que venham mais congregações religiosas para o santuário. «Ainda não há condições e precisam de ser criadas. Já houve uma comunidade religiosa, não portuguesa, que manifestou interesse em vir para cá. Brevemente há esta perspetiva, para dar apoio na parte dos artigos religiosos, que é muito importante. Serão freiras de hábito porque isso é muito importante para dar testemunho, é um sinal importante. É só ter espaço».
«Estes projetos materiais, se não visarem o aspeto espiritual de nada valem. Se não tiverem esta dimensão, isto torna-se um edifício bonito mas depois não tem estrutura. O nosso maior desafio é cada vez mais santificar o espaço e colocar aqui pessoas a peregrinar, a acolher os grupos e explicar-lhes a mensagem. Fazer um santuário de pedra é fácil, desde que haja dinheiro. O Santuário interior é que e mais difícil porque tem a ver com a própria pessoa e é a essas que temos que chegar», conclui o reitor.

Anabela Sousa

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17 de Abril de 2013