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Homilia de D. Gilberto dos Reis, Bispo de Setúbal, na Missa da Solenidade de Santa Maria da Graça, Padroeira da Diocese de Setúbal

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A Imaculada Conceição da Virgem Maria – nossa padroeira sob a invocação de S. Maria da Graça – está no centro da celebração deste dia e ilumina a grande esperança do Advento.

 

 

 

Maria, escolhida por Deus para ser a Mãe do Redentor da humanidade, foi por Sua graça única, concebida sem pecado e dotada dum coração repleto do Amor de Deus donde corre sem parar um rio de amor de misericórdia e de ternura sobre os que a Ela se confiam. Nós somos desse povo!

Na Virgem, a Igreja contempla a humanidade nova animada e alimentada pelo amor de Deus e dos irmãos em contraste com o mundo de Adão e Eva caracterizado pela desconfiança para com Deus e entre eles mesmos. Como é diferente o mundo de Adão e o mundo da Virgem Maria!

Em Adão observamos o homem voltado sobre si mesmo; cativo dum egoísmo que cria exclusão, solidão e tristeza até no meio dos bens materiais; egoísmo que faz crescer a indiferença perante quem sofre e que – buscando o lucro pelo lucro – lança na miséria um mar de gente; egoísmo que cria injustiças, violências e divisões doentias entre pessoas, grupos, partidos e nações.             

A esta vida, centrada e alimentada no egoísmo, contrapõe-se o modo de viver de Maria, animado pela confiança no amor de Deus e pelo amor entre as pessoas. Amor que é fonte e alimento da cultura de acolhimento e inclusão do pobre; da cultura da alegria na esperança mesmo nas horas difíceis; da cultura da sobriedade para servir a solidariedade com abundância; da cultura do respeito sagrado pelo outro e da misericórdia que busca a ovelha perdida, sem desanimar.    

Maria, na Imaculada Conceição, mais que modelo excelso ou intercessora- que é também – , é a nova criação prometida no Génesis; é a alternativa de Deus ao mundo de Adão e Eva; é resposta de Deus às crises da sociedade e aurora da civilização do amor; é a certeza de que o amor triunfa,  por entre as dores. Com Maria, a humanidade já não é escrava de Adão, pois tem dois caminhos: desconfiar de Deus como Adão ou dizer com Maria: eis a Serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa Palavra.

Estamos felizes pela graça presente em Maria e que recebemos no Batismo?

Que caminho estamos a seguir e a indicar?  

A vida nova no Amor, presente em Maria, é para os judeus e os gentios, ou seja para todos, como ouvimos na Carta aos Romanos. E na verdade há sinais desta vida em todo o mundo pois que o Espírito que encheu Maria de Graça, atua onde quer. Mas a Igreja, de que somos membros vivos por dom de Deus, é o sacramento especial da presença da nova e atual civilização do amor.       

Nós somos privilegiados porque, antes de outros, recebemos a vida divina que Deus anseia para todos. Cantemo-Lo por esta graça; cultivemos esta vida não aconteça termos o coração de Adão apesar de usarmos a roupa de Deus; aprendamos a descobrir sinais do amor de Deus fora dos limites visíveis da querida Mãe Igreja quer em pessoas como Ghandi ou Mandela quer em tantas pessoas que cultivam o amor mesmo sem fé em Jesus. Testemunhemos a esperança em vez de o desânimo e demos a todos razões da esperança, pois ninguém as tem como nós. Vivamos para o Senhor, servindo-O no cuidado dos outros, sobretudo dos pobres. Estejamos no mundo sem ser do mundo, como luz de Cristo, cultivando a civilização do Amor, com palavras e obras de amor. Como Maria, deixemo-nos envolver no amor de Deus e, sem desistir, procuremos os que sofrem para os envolver em amor tão sincero e simples que, mesmo em suas carências, se sintam amados, cheios de esperança, atraídos à fé e possam dizer para consigo: como me fez bem estar com aquele cristão!

Para serviço da civilização do amor Jesus instituiu o ministério ordenado e hoje vai dar-nos três novos ministros: um presbítero e dois diáconos em ordem ao presbiterado.   

Na verdade – embora a Igreja inteira tenha a missão de anunciar a todos o Amor de Deus com vida santa e com palavras e gestos apropriados – no entanto, só o padre por desígnio de Deus tem o poder de gerar, no coração humano, o Amor divino que contemplamos em Maria Imaculada!    

O sacerdote é criador e recriador no homem da Vida Divina. É artífice da civilização do amor; é semeador da alegria na esperança porque – haja o que houver – o Amor que ele gera vence o egoísmo e a morte! Como é bom ser padre, hoje e aqui! Como é bom receber um novo padre, hoje. Como é bom contar com os nossos queridos padres e diáconos! Para que a alegria de ser padre cresça, deixe-se, cada sacerdote, envolver mais no amor de Deus no seio da comunidade cristã e do presbitério. Vivendo esta comunhão terá mais luz e força para ser e criar comunidades de fé e de amor, formadoras de ‘discípulos missionários’, como pede o Papa Francisco.

Que a contemplação da Cheia de Graça aumente o nosso desejo de crescer no amor divino , de levar este amor às outras pessoas a começar pelas mais pobres e de pedir ao Pai o Seu Espírito de Vida e de Amor para os ordinandos; e nos prepare para receber o Pão que é Jesus vivo na Eucaristia.

           


 

+Gilberto, Bispo de Setúbal

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16 de Dezembro de 2013