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BILHETE-POSTAL

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Caro Alfredo, Recordo que no meu tempo de criança ninguém queria ir para o hospital e todos iam pedindo aos seus a caridade de os não levarem para lá, mesmo que tal fosse a vontade do médico. Queríamos morrer em nossa casa, no meio dos nossos e das nossas coisas. No entanto, e um pouco paradoxalmente, quando se falava em doenças más, isto é, hipoteticamente incuráveis, logo se dizia: Deus nos dê doença com que lá, no hospital, nos aceitem.

É que havia enfermidades, por exemplo, aparentadas com a lepra, às quais um hospital comum fechava as portas. Hoje, as coisas já não serão bem assim, logo pelo modo como os doentes são recebidos, acompanhados e tratados num hospital. Eu já podia fazer um pouco da história do hospital de ontem e do hospital de hoje, do de hoje até com modos humanos e cheios de competência com que os doentes são tratados. Já por três vezes, me senti na obrigação moral de escrever ao Diretor de Estabelecimento Hospitalar a agradecer os cuidados com meus familiares que no hospital acabariam a sua vida terrena. A propósito, deixa-me que traga para esta conversa um aspeto que em alguns hospitais me fere e até dói muito: refiro-me às áreas destinadas às urgências. Fico doente, quando corro a ver o que se passou ou passa com pessoa amiga que teve de recorrer a esses serviços – demoras? – Vamos entendê-las. O pior tem a ver com os espaços exíguos onde os doentes se acotovelam. Entre os tantos e tantos pelos quais passamos, deparamos com alguns que já nos parecem mortos ou em agonia. Misturam-se idades, doenças, acompanhantes e depois… depois os catres onde se arrumam antes de diagnósticos ou destinos definitivos. Tem graça (até nem tem graça nenhuma) que, ao passar ao papel estes sentimentos, recebo um telefonema de uma senhora lá dos profundos interiores, dando-me conta de que se sentiu, há semanas, mal, tendo de recorrer aos serviços de urgência do hospital da terra, onde esperou cinco longas e desconfortáveis horas por atendimento (acrescentou que sem beber, mas nisso não acredito!). No fim de tudo isto, fico-me a pensar: mas terá que ser mesmo assim? – Creio que não e tudo acabará por ser melhor. Deus me ouça! Mtº Ded.º + Manuel

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28 de Janeiro de 2014