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Uns com os outros, a crescer

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Fundado em Outubro de 1992 por alguns elementos do Agrupamento 690 Barreiro, o 1011 Lavradio tem hoje cerca de centro e trinta efectivos. Em franco crescimento, iniciou agora o novo projeto de abertura de uma Alcateia junto da comunidade dos Fidalguinhos. Apesar de estarem localizados numa zona mais pobre, olham para todas as atividades como oportunidades e ninguém deixa de participar por não haver possibilidades financeiras. É assim a família do 1011, onde todos são iguais.

Andreia Rodrigues é a atual Chefe de Agrupamento do 1011. Escuteira ali, desde a fundação do Agrupamento, conta-nos como nasceu o Escutismo no Lavradio. «O 690 foi o Agrupamento padrinho do 1011 porque todos os dirigentes fundadores eram oriundos de lá. Como eles moravam cá, vieram para cá, e escolheram como símbolo do Agrupamento, a fénix porque tentara que houvesse um renascimento das cinzas». Paulo Lopes, Vítor Comércio, Luís Ferreira e Emanuel Góis foram alguns dos nomes de dirigentes fundadores.

Iniciando apenas com três secções e trinta elementos, rapidamente conseguiram ter Clã. No entanto, confessa Andreia, essa sempre foi a secção mais difícil de manter. «Há alturas em que estamos um ou dois anos sem ter Clã, ou porque há necessidade de colocar as pessoas nas equipas de animação, ou porque não há elementos suficientes. Felizmente, hoje, as coisas estão a estabilizar nesse sentido», afirma.

Localizados numa zona populacional mais pobre, Andreia Rodrigues, diz que de ano para ano vão aumentando as situações de pessoas carenciadas. «É uma área com que nos preocupamos muito para dar resposta porque são esses que mais precisam do Escutismo e não os outros – sublinha a Chefe de Agrupamento – Temos que fazer um esforço extra para conseguir dar resposta. Sabemos que não conseguimos fazer nada sem gastar dinheiro. Qualquer sítio onde a gente pernoite, tem que se pagar um valor e tudo somado, é difícil para alguns miúdos e famílias».

Para tentar colmatar esta dificuldade, tentam espaçar as atividades de forma a que todos possam participar nelas. Mas, além disso, optam também pela redução custos, quer através de angariação de fundos, quer através do banco do uniforme. «Tem funcionado e tem sido uma boa ajuda para muitos. Ninguém, até hoje, ficou sem participar em qualquer atividade por falta de dinheiro», sublinha Andreia.

Os novos projetos e a indisponibilidade dos adultos

 Um novo projeto que está a nascer no 1011 é o de uma nova Alcateia na comunidade dos Fidalguinhos, uma zona que está a crescer em termos demográficos. «A Assistência do Agrupamento, o Padre Rodrigo e o Padre Valdemar, pediram-nos para abrirmos um Agrupamento nos Fidalguinhos porque, desde que foi construída a igreja dos Fidalguinhos, um pavilhão multiusos, começou a haver catequese e há lá miúdos até ao 4º volume – explica Andreia Rodrigues – mas não é uma questão muito simples porque, apesar de termos dezassete pessoas nas equipas de animação, mas estamos com dificuldade em fidelizar os adultos por causa do seu dia-a-dia e dos trabalhos de cada um».

Foi por este motivo que apenas decidiram avançar com uma Alcateia: «Há dois recursos de adultos em formação na nossa Alcateia, neste momento, para depois irem para lá. É uma experiência de dois anos que vamos fazer e depois logo vemos o que se fará. É uma zona de prédios, com muita gente, muitas crianças, muitos casais jovens».

 Os recursos de adultos no Escutismo

 A ausência dos adultos no Agrupamento faz com que tenha que os dirigentes sejam provenientes do recurso de adultos. «O Escutismo vive um pouco de recurso de adultos porque são pessoas que estão mais estáveis e nós com os Caminheiros não temos isso – refere Andreia – Enquanto estão na faculdade andam cá, ainda que a meio gás, mas quando terminam a faculdade, têm que ir para outra cidade ou outro país e por isso, temos que ter adultos para acompanhar os miúdos».

No entanto, a Chefe de Agrupamento do Lavradio considera que seria uma grande mais-valia se não fosse necessário ter recursos de adultos no Escutismo. «Eles têm a maior vontade do mundo, mas têm muito medo de fazer as coisas. Desde sempre foi assim, mas o movimento ganhava se mantivesse gente que faz o seu percurso escutista, do que ter gente vinda de fora que não tem os mesmos conhecimentos do que uma pessoa que foi Escuteiro a vida toda. Uma coisa é termos sido Lobitos, outro é conhecer os Lobitos», destaca Andreia.

Por outro lado, os dirigentes provenientes dos recursos de adultos, diz ainda Andreia, apesar de terem muita vontade, disponibilidade e presença, «a longo prazo, quando começam as questões que assolam toda a gente sobre o tempo que o Escutismo ocupa, o afastamento torna-se mais fácil».

 AcaReg, Jamboree e crescimento espiritual

 Para o futuro, Andreia Rodrigues, vai ter o agrupamento presente no AcaReg e pretende levar alguns elementos ao Jamboree Mundial, no Japão, em 2015: «É um pouco mais sonhador porque é caro. No último, na Suécia, levamos uma criança completamente carenciada que não pagou um cêntimo. Nós olhamos para este tipo de atividades como oportunidades, e não atividades de ricos ou pobres. E, por isso, não negamos nada à partida. Apresentamos a atividade, os custos, e tentamos. É uma atividade mundial e ninguém deve ser privado dessa possibilidade».

Outro dos objetivos é fazer um trabalho de maior proximidade com a Igreja, apesar de, ultimamente, as coisas estarem muito mais interligadas e não existir a separação que existia. «Fazemos parte das reuniões de catequistas, temos dirigentes que são catequistas e isso ajuda. Nós somos o grupo da Paróquia que se mantém há mais tempo. Agrupamento nunca foi suspenso por qualquer motivo. Temos alguma força juntos. As pessoas começaram a ver que temos uma participação positiva», destaca a Chefe.

Outro dos pontos onde o 1011 Lavradio quer melhorar é na área espiritual: «Queremos que os elementos consigam ir à Eucaristia por vontade própria e não por imposição. Acreditamos que, com a insistência, eles vão passar a querer ouvir alguma coisa e não colocar tanto de lado. No que se refere à espiritualidade os adultos, eu acho que se não começarmos por cima não vamos conseguir e por isso tentamos sempre participar no que vai aparecendo, quer seja a formação da escola da fé ou até a formação que um senhor da paróquia nos dá todas as semanas. Temos que ter conhecimento que nos sustente a fé para conseguirmos transmitir. Não podemos ir só atrás do rebanho».

 Gerir os conflitos

 Na relação entre os adultos, Andreia Rodrigues diz que, por vezes, existem conflitos, e que já sentiram isso ‘na pele’. «Nós sabemos que os conflitos existem e tivemos cá um exemplo disso, uma chefe de unidade que saiu. O Agrupamento abala e vai abaixo. São coisas que não são normais de acontecer, mas acontecem. Houve muitas coisas, no mesmo ano, a acontecer. Nessa altura, eu cheguei a ser chefe de unidade de duas secções. Felizmente, conseguimos recuperar e ter as pessoas que precisamos».

Para resolver os conflitos, a Chefe Andreia diz que, apesar de ser das mais novas no Agrupamento, tem tentado ser correta com todos e que não tem tido problemas de maior. «Tentamos gerir o conflito e fazer com que eles não passem em branco. Não há nada como conversar. Temos feitios mais complicados e é com essas pessoas, que não têm filtro e dizem tudo o que lhes vem à cabeça, que eu tenho que ter mais cuidado», afirma.

 Um espírito de família, mesmo com os jovens

 Contudo, o espírito que se vive no 1011 Lavradio é um verdadeiro espírito de família, com amizades muito fortes entre os dirigentes e que passam para as crianças, jovens e adolescentes: «Há pioneiros que vão a minha casa porque vão a minha casa desabafar qualquer coisa. Temos boa relação com os miúdos e queremos manter e cultivar isso. É bom saber que os podemos ajudar e que muitas vezes trazem, até nós, outro tipo de problemas. É sinal que sentem confiança e conseguem desabafar connosco».

Quanto ao novo sistema de progresso, o Agrupamento do Lavradio foi um dos agrupamentos-piloto na região e isso, apesar de ter dado muito trabalho, permitiu que uma implementação adequada. «A parte difícil deste sistema educativo – diz Andreia –foi fazer com que os miúdos percebessem e partisse deles a iniciativa, dissessem, por exemplo, ‘eu, para ser solidário, o que tenho que fazer?’».

Ser Chefe de Agrupamento é o cargo que Andreia menos queria ter no Escutismo: «Por vezes é um trabalho ingrato. Há Chefes de Agrupamento que têm a sorte de conseguir ser só Chefe de Agrupamento. Eu sou, também, Chefe de Clã e isso tira-me muitas noites de sono, mas faço isto com gosto. Mas ser Chefe de Agrupamento é fácil porque toda a gente colabora e trabalha».

 

Anabela Sousa

 

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06 de Maio de 2014