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Educar e evangelizar, com Festa

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O ano dedicado à Vida Consagrada, decretado pelo Papa Francisco, iniciou no passado dia 30 de novembro e prolongar-se-á até fevereiro de 2016. É neste âmbito que, no Notícias de Setúbal, iniciamos o retrato de todas as formas de vida consagrada que existem na diocese. Começamos, esta semana, por uma congregação que está, atualmente, a celebrar setenta e cinco anos da sua presença em Portugal: as Filhas de Maria Auxiliadora, mais conhecidas por Irmãs Salesianas. Fomos até à Casa de Santa Ana, em Setúbal, onde nos recebeu a Superiora, Irmã Maria de Lurdes Gomes.

A comunidade de Setúbal, hoje composta por quinze consagradas, chegou ali em 1947 com apenas três Irmãs: «Nós viemos para cá quando já estávamos na Casa Pia de Évora – conta a Superiora – Na altura, a senhora que era dona desta casa, Ana Maria Gamito, resolveu doar isto para crianças e jovens abandonadas que precisassem de apoio. Queria que se formassem aqui mulheres que pudessem singrar na vida e no futuro. Ora, isto vai totalmente de encontro ao nosso estilo educativo em que, segundo Dom Bosco, o nosso fundador, nós devemos ajudar os jovens a ser bons cidadãos e melhores cristãos».

 

Atualmente, a Casa de Santa Ana, que pertencente à Paróquia de Santa Maria da Graça (Sé de Setúbal), é uma casa para a educação e evangelização que acolhe vinte e seis jovens internas no Lar de Infância e Juventude e cerca de trezentas e cinquenta crianças externas divididas entre o Pré-escolar e o Primeiro Ciclo. Para além disso, há ainda um Centro de Catequese que funciona à quarta-feira, um grupo de jovens pós-crisma e um grupo do Movimento Juvenil Salesiano, ainda que, de acordo com a Irmã Maria de Lurdes, «muito incipiente».

 

Ir pelo coração

 

O Lar, dividido em três residências, tem acordo com a Segurança Social para receber, em regime de internato, trinta raparigas entre os quatro e os dezoito anos de idade. Sublinha a Irmã Superiora que algumas das raparigas acolhidas vão a casa aos fins-de-semana porque o objetivo é que possam, um dia, voltar a integrar-se na família. «Isso é o mais importante do projeto de vida delas», afirma.

 

No entanto, algumas acabam por ficar além dos dezoito anos de idade: «Normalmente analisamos as situações caso a caso. Imaginemos que uma rapariga ainda está a estudar aos dezoito anos. Nós incentivamo-la a terminar os estudos e acolhemo-la até ao final da faculdade, por exemplo. Temos até o caso de algumas que já ficaram aqui a trabalhar e o resultado é muito bom. Inserem-se muito bem», destaca a Irmã Maria de Lurdes.

 

Uma das marcas da Casa e do carisma das Irmãs Salesianas é a «Festa» e, por isso, é através desses momentos celebrativos que muitas vezes são transmitidos os valores do Evangelho. «Na nossa pedagogia salesiana a festa é uma tónica essencial – explica a Superiora – e ficámos muito contentes que o Santo Padre implementasse a Alegria em toda a Igreja porque nós, como característica salesiana, vivemos essa mesma alegria. Dom Bosco dizia que uma casa salesiana sem música é como um corpo sem alma e, por isso, nós vamos pelo coração».

 

Ultrapassar limites e testemunhar autenticidade

 

É semeando desta forma simples que as Irmãs acabam por ver, mais tarde, os frutos a acontecer, mesmo sem os procurarem. «Nós só semeamos e não devemos andar à procura de colher os frutos porque eles serão para outros. Uns são os que semeiam, outros são os que colhem, já dizia o Senhor – refere a Irmã Maria de Lurdes – Mas nós temos muitos pais antigos alunos e há algumas internas que depois regressam, com os filhos, a dizer que os tempos passados nas nossas casas foram tempos que marcaram profundamente as suas vidas».

 

Este é um sinal claro que, apesar do estigma da institucionalização, os valores transmitidos pelas Filhas de Maria Auxiliadora marcam os corações das jovens: «Nós estamos cá para as ajudar a ultrapassar os limites e dificuldades que têm porque estão, constantemente, a esbarrar com situações muito duras. Estão cá, mas pensam na família e em muitas outras coisas».

 

A comunidade quinze Irmãs Salesianas que reside em Setúbal é mais envelhecida e, por isso, explica-nos a Superiora, a maioria da atividade pedagógica e pastoral está nas mãos dos leigos. «Uma das apostas dos nossos capítulos gerais – indica – é tentar formar os leigos para continuarem a levar a chama, uma vez que há poucas vocações e o carisma não se pode perder. Não nos devemos preocupar com esta questão de não haver vocações. Vivamos! Isso é que é importante. Nós temos que viver e testemunhar a nossa autenticidade. Depois, o Espírito Santo age e faz o resto porque Deus tem os seus caminhos».

 

A oração no pátio

 

O dia-a-dia das Irmãs, ainda que mais velhas, faz-se entre as crianças e jovens. «Nós temos como característica estar no meio das crianças, quase até ao fim. O nosso lema é um pouco este ‘se podes mexer-te, vai para o meio das crianças’. Para além disso, também não rezamos muito – afirma a Irmã Maria de Lurdes sorridente – Dom Bosco dizia que nós não podemos estar sempre na Igreja. A nossa oração deve ser no pátio, no meio dos jovens».

 

Ainda assim, regularmente, o dia das Irmãs começa com mais de uma hora de oração, entre Laudes, Eucaristia e meditação. Têm ainda uma visita ao Santíssimo Sacramento ao meio do dia que é individual durante a semana por causa dos trabalhos, mas que ao fim-de-semana é comum. Ao final da tarde rezam o terço, têm um leitura espiritual, e terminam com Vésperas. Quando termina o dia, há o chamado momento de «boa noite» em que, aproveitando um facto do dia, um acontecimento nacional, internacional ou da Igreja, as Irmãs meditam num pensamento. Por vezes, nessas alturas, há também um tempo de partilha. Antes do deitar, cada Irmã, individualmente, faz o seu exame de consciência.

 

Levar as jovens, e os pais, a Jesus

 

Quando questionada pelas dificuldades e desafios da Casa de Santa Ana, a Irmã Maria de Lurdes não hesita em diz que o maior desafio é chegar ao coração das jovens que ali residem: «O jovem tem que sentir que é amado, dizia Dom Bosco, e é muito difícil fazer entender a estas jovens que as nossas vinte e quatro horas são para elas e elas muitas vezes não entendem. Um dos maiores desafios é levar estas nossas jovens a Jesus pois são as periferias que o Senhor nos oferece mas também fazer delas cidadãs empenhadas na construção do seu projeto de vida e que possam ser na sociedade elementos de paz, de unidade, de solidariedade, que possam ser felizes com a riqueza que lhes vai no coração».

 

Outro dos desafios e também uma das preocupações da Superiora e do Bispo de Setúbal, D. Gilberto dos Reis, sempre que visita a Casa é a evangelização dos pais. «Não sabemos ainda como chegar à evangelização dos pais. O nosso desafio é chegar ao coração deles e vamos tentando passar-lhes os valores através das reuniões de pais, de reflexões e das festas que realizamos. Vamos entrando em bicos de pés, quase sem se dar conta, para não os chocar. No entanto, precisamos ainda que fazer mais», destaca.

 

O Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora foi fundado por São João Bosco em 1872, no Norte da Itália, tendo sido Santa Maria Domingas Mazzarello a sua primeira Superiora e co-fundadora. O nome de Filhas de Maria Auxiliadora foi atribuído por São João Bosco porque queria que as Irmãs fossem monumento vivo de gratidão a Nossa Senhora.

Para além dos setenta e cinco anos de presença em Portugal, este instituto religioso celebra também sessenta anos da constituição da Província portuguesa. Duas efemérides a que acrescem as comemorações do bicentenário do nascimento do seu fundador, São João Bosco.

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22 de Dezembro de 2014