A Comissão Diocesana de Arte Sacra está a promover um curso de desenho, pintura e escultura em Arte Sacra que iniciará em Janeiro e terminará em Junho. Aproveitando a ocasião, o professor do curso, o escultor Hugo Maciel, fala-nos sobre os objetivos desta formação, sobre a sua obra, a ligação à Diocese de Setúbal e a sua perspetiva sobre a Arte Sacra.
Dirigido a todos os que se interessam pelas áreas desenho, pintura e escultura e Arte Sacra, independentemente da sua faixa etária, o curso, com a duração de um semestre, promovido pela Comissão Diocesana de Arte Sacra, quer chegar não só a quem já tem formação artística e pretende desenvolver competências na criação de Arte Sacra, mas também a quem não tem qualquer formação artística e pretende iniciar uma formação focada nas temáticas religiosas, através das práticas artísticas.
Com um programa maioritariamente prático, as questões temáticas centrada na religião católica assumem um papel primordial no curso e são, de acordo com o escultor Hugo Maciel, um reforço e auxiliar do estudo bíblico a partir de uma abordagem lúdica e de ensino artístico, com a representação de imagens religiosas de Nossa Senhora, Jesus Cristo e Santos, bem como de representações alegóricas de passagens bíblicas.
No entanto, e apesar da sua componente prática, haverá também uma componente teórica para compreensão da simbologia religiosa: «Este curso abrange uma componente de enriquecimento artístico como o aprofundamento do conhecimento das temáticas religiosas católicas e irá dotar os alunos dos conhecimentos necessários à execução de trabalhos de expressão plástica bidimensional e tridimensional, bem como à aquisição de competências e compreensão dos fundamentos tecnológicos no manuseamento de ferramentas e materiais», explica Hugo.
O professor espera ainda que o curso tenha uma boa recetividade por parte da comunidade, de forma a conseguir melhorar e proporcionar mais formação de qualidade no campo artístico e religioso. «Sendo um curso criado de raiz, ainda não está definitivo quanto a sua organização programática, mas é preciso tempo para o amadurecimento do projeto – refere – Para além disso pretende-se que o curso se expanda para além dos dois locais onde se vai iniciar, na Cúria Diocesana de Setúbal e na Paróquia de Corroios, e possa ser acolhido por outras paróquias ou mesmo outras instituições não religiosas».
Medalha das bodas de prata de D. Gilberto
Hugo Maciel é formado em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e está, neste momento, a concluir o Doutoramento em Belas-Artes na mesma instituição. Diz que a sua obra «ainda não tem uma linguagem definida e vincada», estendendo-se por diferentes áreas e tipologias da escultura. A Arte Sacra é, no entanto, uma área mais recente.
«As obras de Arte Sacra que tenho desenvolvido recentemente – indica – têm-se firmado como novos desafios aos quais tinha mais liberdade. Falo das questões iconográficas das imagens religiosas, que são um elemento novo para o meu trabalho e desafiante, mas também tem sido gratificante perceber o peso da escultura de Arte Sacra no seio das comunidades».
A sua ligação com a Diocese de Setúbal iniciou em Corroios, quando ali começou a sua caminhada cristã. No entanto, a proximidade de Hugo Maciel, enquanto artista, só se tornou mais próxima depois de ter participado na exposição «Visão do Infinito», promovida pela Diocese, na galeria municipal de Almada. Aí, a recetividade à escultura que expôs proporcionou o interesse em convidá-lo para desenvolver alguns projetos de escultura, nomeadamente a execução da medalha comemorativa aos vinte e cinco anos de ministério episcopal de D. Gilberto dos Reis, o Bispo de Setúbal.
Conservação da Arte Sacra é insustentável
Quando se fala de Arte Sacra em Portugal, Hugo diz não encontrar dificuldades na criação de obras, mas antes na conservação das já existentes: «Penso que estejamos a caminhar no bom sentido e a bom ritmo – afirma – No entanto, vejo dificuldades na conservação de Arte Sacra que carece de grande manutenção e por vezes essas intervenções são financeiramente insustentáveis para as comunidades. Por outro lado, assistimos também à destruição de património com infelizes intervenções de conservação e restauro».
Considera ainda o artista que a contemporaneidade da Arte Sacra é, também, um desafio: «Não é fácil criar Arte Sacra quando esta foi executada durante séculos de determinada maneira, sendo constante na sua linguagem, quase exclusivamente figurativa. Ainda assim, esta questão torna-se, pelo menos para mim, num estímulo de criar Arte com outras linguagens mas que seja aceite pelo público e que corresponda afirmativamente e enalteça a liturgia bíblica no seio da comunidade católica».
Escultor a tempo inteiro, e apesar de ter uma carreira curta, Hugo Maciel tem algumas obras especiais, contudo, a que realizou este ano na Argentina, e com a qual ganhou o segundo prémio dessa competição, considera que é a sua favorita: «Foi uma escultura executada na cidade de Resistencia, a norte da Argentina, numa competição internacional de Escultura, integrada na Bienal del Chaco, o segundo maior evento cultural da América do Sul. O âmbito da competição era executar uma escultura pública em aço inox com o tema “Homos Novus”, ao ar livre durante sete dias».
Anabela Sousa