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Ao encontro do outro

Grupo de Jovens

As Irmãs Doroteias chegaram à Diocese de Setúbal em 1990 para servir três paróquias: Arrentela, Paio Pires e Seixal. Hoje, à beira de completar de vinte e cinco anos de presença na diocese e na vigararia do Seixal, têm uma ação pastoral e social intensa apenas na Paróquia da Arrentela com a presença de três consagradas. Fomos falar com a Irmã Arminda Oliveira, inserida naquela comunidade desde o seu início, que nos contou como vivem, ali, o desafio de «chegar às periferias».

As Doroteias são uma congregação dedicada à educação e, explica a Irmã Arminda que, nesta educação seguem a pedagogia do Evangelho: «ajudamos as pessoas, individualmente ou em grupo, a construir comunidade ao jeito de Deus, mais concretamente na catequese, nos jovens e nos pobres».

Se antes a congregação se dedicava apenas à educação em colégios e orfanatos, há cerca de quarenta anos começaram a voltar às origens da fundadora, Santa Paula Frassinetti, que iniciou a sua ação precisamente numa comunidade de inserção paroquial. «Voltámos a ir ao genuíno da congregação», afirma a Irmã Arminda.

À Diocese de Setúbal chegaram três Irmãs, em 1990, quando os párocos de Seixal, Arrentela e Paio Pires pediram ao Prelado de então, D. Manuel Martins, a presença de uma comunidade religiosa que pudesse apoiar estas três paróquias, não só na catequese mas também em grupos de jovens. Mais tarde, fruto de circunstâncias, acabaram por ficar a apoiar apenas a paróquia da Arrentela, que incluía a atual Paróquia de Pinhal de Frades.

Hoje, são também três Irmãs: Arminda Oliveira, Deolinda Anjos e Ana Barrento. São elas que, continuando numa perspetiva de «pastoral de conjunto», aproveitam a catequese para, por exemplo, incentivar à oração. «Este ano, a cada semana, uma família recebe um ícone acompanhado por um guião e uma vela, e é convidada a rezar em família – conta-nos a Irmã Arminda sobre uma forma de dinamização da comunidade – Procuramos incentivar estes momentos para dar sentido e significado à vida».

 

O trabalho na catequese e com os jovens, além da Paróquia

 

Uma das preocupações das Doroteias na Arrentela é «chegar às periferias», como pede o Papa Francisco: «Um dos exemplos desta nossa preocupação é a realização de um terço vivo no estádio de futebol da Arrentela – refere a Irmã – queremos também procurar as famílias que não tenham os filhos na catequese para que também elas encontrem espaços de oração em família».

Outra as vertentes da catequese paroquial é a catequese familiar. «Temos tido muito bons resultados e as pessoas têm sido fiéis – diz – já vamos no segundo ano e as pessoas não desistem. Os pais percebem, interessam-se e procuram querer saber mais para conseguirem dar catequese em casa. Desta forma, os pais acabam por ficar na comunidade e não vêm só ‘largar os filhos’».

Também com os jovens as Irmãs desenvolvem momentos formativos ao longo do ano. «São momentos que os ajudam a viver no gratuito e no serviço de voluntariado. No Verão vão para campos de férias de ‘Serviço a um Povo’, fazem evangelização na praia e vão em missão para outros países. Este ano, a missão internacional é no Brasil. Esta formação ajuda-os também a dinamizar a Paróquia, visitando lares, convocando jovens de outras paróquias, desenvolvendo orações vicariais, entre outros», indica.

Um dos outros trabalhos pastorais que, nestes anos, também teve a marca das Doroteias, nomeadamente através da Irmã Arminda, foi o trabalho com jovens além dos limites paroquiais. Em conjunto com o Padre Rui Pedro, missionário scalabriniano que esteve na Paróquia de Amora, iniciaram a Equipa Vicarial da Pastoral Juvenil (EVIPAJIL) que ainda hoje se mantém como congregadora de todos os jovens das paróquias da vigararia do Seixal.

 

Ação social tem rosto na associação «Dá-me a tua mão»

 

No entanto, para além da intervenção pastoral na catequese paroquial da Arrentela e do acompanhamento ao grupo de jovens, têm também uma ação social forte, com o rosto vísível na Associação «Dá-me a tua mão». Diversas equipas de voluntários, distribuem, diariamente, refeições quentes indo ao encontro de mais de mil pessoas que, no concelho do Seixal, se encontram em situações de grave carência social e económica.

«A organização dos alimentos, das equipas de rua, de jantares em épocas mais festivas, são tudo coisas que requerem trabalho e participação de muitos voluntários – destaca a Irmã Arminda – Por vezes, coordenar tudo e organizar de forma harmoniosa para que a comida não falte a quem apoiamos, para conseguirmos ir ao encontro dos pobres todos os dias, não é fácil».

Com a preocupação de «chegar às periferias» em todas as ocasiões, também os voluntários são acolhidos nesta associação humanitária, quer sejam pessoas inseridas no meio eclesial ou não. «As pessoas vêm com sentido de gratuidade e, independentemente de serem Igreja ou não, nós acolhemos porque as pessoas têm que sentir e ter o seu tempo para ser gratuitos. Damos oportunidades às pessoas que tenham gestos gratuitos e de voluntariado», afirma.

 

Missão individual que converge para o todo

 

O dia-a-dia de cada uma das três consagradas que ali está, explica a Irmã Arminda, inicia-se com as Laudes que é ponto de encontro da comunidade. Depois, cada uma tem a sua missão: «É uma missão que converge para o todo, e este todo é estar ao serviço da comunidade paroquial da Arrentela. Tudo o que fazemos é sempre em função de ajudar ao crescimento e o desenvolvimento integral do ser humano. Isso é a finalidade. Se é através da catequese, sou eu e a Irmã Ana que damos, se for através da parte social, estou mais eu e a Irmã Deolinda. A Irmã Ana dá também aulas no nosso colégio de Lisboa, no Campo Grande».

Às segundas-feiras têm também o chamado ‘encontro comunitário’ com um tema de reflexão mais aprofundado que é fornecido pela Província, ou então recorrendo a um documento do Papa ou da Igreja. A Eucaristia é vivida diariamente na Paróquia mas, uma vez por trimestre, convidam os sacerdotes a celebrar Eucaristia na capela da sua casa. Outro dos momentos da comunidade é um dia de retiro de silêncio, uma vez por mês: «Articular esse dia com os serviços na paróquia não é, muitas vezes, fácil», confessa a Irmã Arminda.

Neste ano dedicado à vida consagrada, as Doroteias vão realizar um dia de encontro, com Eucaristia e jantar partilhado, com as vizinhas da Paróquia de Amora, as Scalabrinianas. Para além disso, vão também organizar, na Arrentela, um dia de formação para a comunidade paroquial sobre a vida consagrada, além de participarem em tudo o que a diocese dinamiza.

 

Procurar e acolher

 

Em todos os serviços em que estão inseridas, as Doroteias da Arrentela sentem que aquela é uma zona muito dispersa. «As pessoas não são daqui, não têm aqui raízes e isto é um grande dormitório – sublinha a Irmã Arminada – Nós sentimos que todo o trabalho de evangelização se torna mais complicado e, por isso, chegar a estas zonas é o desafio. Como chegar a estas periferias? Como nos desinstalamos? O que fazemos?».

Por outro lado, interpela ainda a consagrada: «Temos também aqueles que nos procuram, os poucos que vêm. Como é que os vamos acolher? É como diz Isaías… ‘a chama que ainda fumega’. Muitas vezes, em vez de a suscitarmos, ainda a apagamos». Apesar de tudo, e de ainda sentir que há muito a fazer, quer a nível pastoral quer a nível social, nestes quase vinte e cinco anos de comunidade, a Irmã Arminda sente que há frutos e que as pessoas são comprometidas, responsáveis e com desejo de ir ao encontro do outro.

 

Anabela Sousa

 

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12 de Janeiro de 2015