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Um convite que chegou de Roma

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Helena Lobato é pintora, tem 44 anos, e nunca foi batizada. Numa altura mais conturbada da sua vida escreveu ao Papa Francisco. «Foi uma carta escrita com lágrimas», diz. Nas linhas que escreveu, pediu-lhe Luz. O Papa respondeu e convidou-a para ser batizada, em Roma, na Vigília Pascal, para receber a verdadeira Luz que é Cristo. Helena aceitou e está atualmente em plenos preparativos para a noite do próximo dia 4 de Abril.

Helena Lobato não se considerava crente nem tinha qualquer relação com a Igreja. O único contacto tinha sido, há cerca de vinte anos atrás, quando casou, na capela do Alfeite, com

​disparidade de culto. É através do concurso «Os Artistas e a Fé» promovido pela Diocese de Setúbal, no Ano da Fé, que toma contacto mais próximo com a Igreja e que acaba por impulsionar tudo o que se segue.

 

A artista plástica toma conhecimento da existência deste concurso através da Faculdade de Belas Artes. Não consegue explicar porquê, mas mesmo sem qualquer ligação à Igreja sempre retratou nas suas pinturas muitas igrejas. Concorre com um quadro do Santuário do Cabo Espichel e, em Março de 2013, entrega-o no Seminário de Almada. Diz-nos que logo nessa altura sentiu uma grande empatia com Carlos Sécio, seminarista que à data recebia as obras dos artistas.

 

A pintura de Helena acaba, no entanto, por não ser selecionada e a artista atravessa, por outros motivos, um período mais difícil da sua vida. Sente que precisa de ajuda e lembra-se do simpático seminarista a quem tinha entregue o seu quadro. Tenta falar com ele para pedir alguma orientação mas acaba por não conseguir.

 

«Nunca pensei que a carta fosse ter resposta»

 

É então que, a 13 de Março de 2014, no primeiro ano de pontificado do Papa Francisco, e um ano depois de ter entregue o seu quadro no Seminário de Almada, Helena Lobato, dá por si a escrever ao Sumo Pontífice.

 

«Sempre que via o Papa Francisco na televisão, embora não tivesse ligação à Igreja, era o homem em si, e tudo aquilo que ele representava, que me deixava ‘curvada’ – conta Helena – Eu estava a almoçar, a ver o telejornal, e quando fizeram a retrospetiva do seu primeiro ano de pontificado, daquilo que ele era, como ali chegou, as mudanças que tinha operado, as grandes obras que ele tinha feito, eu chorava compulsivamente».

 

Nesse momento levanta-se da mesa, vai para o escritório e escreve a carta ao Papa. «Sempre a chorar, agarrei em folhas brancas, numa caneta, sentei-me onde eu faço a criação das minhas pinturas e comecei a escrever, direto. Não houve rascunho, não houve tentativas. Nada. Enviei uma carta, com cerca de cinco folhas manuscritas. E foi uma carta escrita com lágrimas», afirma Helena.

 

Depois de ter deixado a carta nos correios, regressa a casa e dá-se conta do que acabou de fazer. «Dei por mim a pensar: Mas o que é que tu foste fazer? Tu não és batizada, não pertences à Igreja, não és crente, não és nada. O que é que foste fazer? Mas pronto, já estavava – conta – E nunca pensei que aquela carta fosse ter resposta».

 

A chegada do convite

 

Entretanto, os momentos difíceis da sua vida continuam e Helena consegue, finalmente, falar com Carlos Sécio no final de Junho. «Eu não sou uma pessoa muito audaz – confessa – mas acabo por enfrentar as coisas que preciso, no momento certo, sem grandes constrangimentos. Disse-lhe que precisava de ajuda. Tivémos uma longa conversa e ele disse que ia encaminhar-me para quem me pudesse ajudar».

 

No dia 08 de Julho de 2014, Helena Lobato é surpreendida. Ao abrir a sua caixa de correio lá estava um pequeno envelope proveniente da Nunciatura Apostólica. Abre a carta, assinada pelo assessor, Monsenhor Peter Wells, e lê as palavras que lhe são dirigidas. O Papa está a rezar por Helena, para que ela possa ter Luz, mas tem um convite para lhe fazer: ir a Roma, receber das mãos do Santo Padre o sacramento do Batismo, para poder usufruir da Luz verdadeira que é Cristo.

 

Helena diz que ficou «aflita» e, sem saber muito bem o que fazer, recorre novamente ao seminarista Carlos Sécio. É através dele que chega, no final de Agosto, à Paróquia da Cova da Piedade para falar com o Padre José Pinheiro. «Houve aqui um período de agonia – conta a pintora – a carta quase que me queimava as mãos porque eu não sabia o que haveria de fazer».

 

Já só depois de falar com o prior da Cova da Piedade e de este lhe ter proposto que intregrasse um grupo de catequese de adultos, ainda antes de saber o convite que tinha sido endereçado pelo Papa Francisco, é que Helena mostra a carta ao Padre José Pinheiro: «A minha decisão foi tomada só depois de falar com o Padre José. Eu não conseguia tomar uma decisão porque me sentia muito pequenina. Só no final da nossa conversa e que o Padre me disse ‘vamos a isto’, é que eu decidi aceitar».

 

«Eu só lhe pedi Luz»

 

Desde aí, o prior da Cova da Piedade tratou de todas as questões e encaminhou toda a documentação necessária para a Roma. A resposta final, contudo, chegaria apenas a meados de Fevereiro. «Quando o Padre José me telefonou e disse que o meu Batismo, pelas mãos do Papa Francisco, estava confirmado, eu caí na cadeira. O convite já tinha chegado, é certo. Mas quando, efectivamente, recebi a confirmação é que me dei conta de tudo isto. Esta história já não é minha, é de Deus em mim».

 

E remata: «Eu não faço a mínima ideia do teor das coisas que as pessoas pedem ao Papa, mas eu só lhe pedir Luz. Não lhe pedi para me tirar ou dar alguma coisa. Eu só lhe pedi Luz. Sei que a determinada altura fiz a ressalva, em algum sítio daquela carta, a dizer que não era batizada e que nem deveria ter a audácia nem a ousadia de me dirigir a Sua Santidade».

 

Helena Lobato está atualmente a frequentar um grupo de catequese de adultos que funciona aos sábados, na Paróquia da Cova da Piedade. Brevemente, daremos a conhecer este grupo, os catequistas, e o prior que têm acompanhado o caminho catecumenal de Helena.

 

Anabela Sousa

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22 de Fevereiro de 2015