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Contemplativos no meio do mundo

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A Fraternidade dos Irmãos de Jesus está presente em Setúbal desde 1973. Atualmente, é a única comunidade desta fraternidade que existe em Portugal. «Contemplativos no meio do mundo», é assim que se caracterizam, procuram viver junto dos mais pobres e oprimidos da sociedade. Esta semana fomos falar com o Irmão Henri que está, na cidade sadina, desde a chegada dos Irmãos de Jesus a Setúbal.

O Irmão Henri tem 82 anos e chegou a Setúbal integrado na primeira comunidade dos Irmãos de Jesus, em 1973, a pedido de D. João Alves, vigário episcopal para esta região a sul do Tejo. Na altura, acolhidos pela Paróquia da Anunciada, onde permanecem até hoje, diz o Irmão que foram muito bem acolhidos pelo pároco de então, Padre Manuel Vieira. «Aqui havia condições para encontrar trabalho mais facilmente e era uma zona muito descristianizada e, por isso, muito boa para a nossa comunidade», afirma o Irmão Henri.

Na altura da criação da Diocese sadina, foi D. Manuel Martins o responsável pela manutenção da fraternidade em Setúbal, e consequentemente, no país. Desta forma, o Irmão Henri mostra-se muito grato pelo acolhimento do então Bispo de Setúbal, uma vez que foi essencial para a permanência dos Irmãos de Jesus na cidade, escrevendo uma carta ao responsável da Fraternidade, com este pedido. Hoje, residem em Setúbal dois Irmãos: Henri e Luís.

 

Oração, trabalho e comunidade

 

No que se refere ao seu carisma, o Irmão Henri refere: «Nós não temos uma vocação apostólica de ter cargos paroquiais. A nossa vocação é estar perto das pessoas marginalizadas em relação à Igreja, porque lhes parece uma coisa poderosa e burguesa. Ao mesmo tempo, procuramos seguir a vida de Jesus de Nazaré, que durante trinta anos viveu do seu trabalho».

Assim, a sua forma de atuar assenta em três pilares: a vida de oração, a vida de trabalho, e a convivência com a comunidade onde estão envolvidos. A espiritualidade dos Irmãos de Jesus inspira-se nos escritos deixados por Charles de Foucauld e no seu percurso de vida, após a sua conversão. Os Irmãos fazem os votos de pobreza, castidade e de obediência à Igreja, e procuram partilhar as mesmas condições dos pequenos e dos pobres e ser tratados como eles. Vivem, normalmente, uma vida contemplativa no meio do mundo, residindo em pequenas comunidades, em casas comuns nas cidades.

 

Uma presença evangelizadora na cadeia

 

Uma das tarefas do Irmão Henri, para além de pequenos trabalhos que faz de relojoaria, é visitar a cadeia, serviço que faz desde 1982. «Aquele é um lugar de encontro, onde as pessoas, quando me encontram, gostam de desabafar. E este é um serviço para ajudar as pessoas. Normalmente faço a Celebração da Palavra, mas a convivência com as pessoas também é muito importante», destaca.

Assim, os Irmãos de Jesus procuram ter uma forma de atuar discreta. «A nossa presença é estar junto das pessoas – reforça o Irmão – dizer bom dia, pode ser muito simples, mas é sinal de proximidade com a comunidade e de uma presença evangelizadora». O importante, sublinha ainda, é o trabalho no bairro, com as pessoas: «É toda a vida humana, partilhada, celebrada e vivida no olhar de Deus».

 

O dia-a-dia da comunidade

 

No seu dia-a-dia, têm, por norma, laudes e tempo de oração comunitária, em silêncio na Capela da casa onde residem. Depois, cada um dos dois Irmãos ali residentes se direciona para os afazeres que lhe são confiados, e depois a noite é um tempo mais livre. «Por vezes rezamos vésperas juntos – diz – mas nem sempre».

Com uma vida contemplativa no meio do mundo, indo de encontro às pessoas. É assim que vivem o seu dia-a-dia. «Normalmente a vida contemplativa – refere o Irmão – é concebida dentro de um mosteiro, fechado. Mas a nossa maneira de viver é contemplativa na medida em que procuramos estar em comunhão com Jesus, na forma de ver e acolher as pessoas. Estamos mais perto dos leigos do que das congregações».

 

Tempos de descristianização generalizada

 

Por ocasião do Ano da Vida Consagrada, os Irmãos de Jesus participaram nas atividades propostas na diocese para os Institutos de Vida Religiosa e Consagrada. No entanto, este é também um tempo de reflexão devido à chamada ‘crise de vocações’.

«Só temos um noviço em todos o mundo e nunca tivemos tão pouco, é verdade. Mas, primeiro, há poucos jovens. Depois, há uma descristianização generalizada e não há um terreno fértil para as vocações. Isso complica. A nossa fraternidade está presente em trinta países, aqui somos só dois, e em todo o mundo, menos de duzentos», indica o Irmão Henri.

 

No entanto, afirma que a congregação «está nas mãos de Deus. Ele é que sabe. Quanto a mim, prefiro não ter vocações do que falsas vocações. É importante um bom tempo de formação porque, se for uma verdadeira vocação, não se perde».

 

Anabela Sousa

 

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13 de Julho de 2015