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Mensagem de Natal de D. José Ornelas

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A celebração do Natal evoca sempre o ambiente e o espírito de família, de carinho e de vida, mesmo que tudo isso esteja associado a preocupações, dificuldades e dramas. Para muitos, de facto, mais do que uma realidade e uma festa, o Natal é vivido frequentemente como saudade de um passado longínquo, ou então como ideal futuro, desafio e esperança.

O primeiro Natal – o Nascimento de Jesus – assumiu toda essa alegria e esse drama das famílias humanas, a começar pela surpresa, júbilo e espectativa dos esposos – José e Maria – perante a nova vida que eles acolheram e ampararam. Foi um dom muito especial, pois o próprio Deus se implicou diretamente na vida desse Menino e se revelou, através do seu nascimento e de maneira totalmente nova, Pai da humanidade.

Mas o acolhimento e a alegria da família de Jesus foi também cheio de trepidação, dificuldades e angústia. Encontrava-se fora do aconchego da própria casa e da terra natal, do cuidado e ajuda dos familiares e amigos. Teve de contentar-se com recursos muito pobres e inadequados às circunstâncias do menino que estava para nascer. Foi vítima da arbitrariedade imperial e da violência dos tiranos e obrigada a fugir, na situação de refugiada no Egito, pensando no futuro com preocupação e envidando todos os esforços para proteger o tesouro que nela se desenvolvia.

Por outro lado, em contraposição com a oposição ou indiferença dos grandes e abastados, a família de Jesus deparou igualmente com a simpatia, solidariedade e partilha de pessoas simples como os pastores das redondezas e os magos vindos de longe, que lhes proporcionaram um abrigo oportuno, partilharam os dons simples que possuíam, se alegraram com eles, dando assim as boas-vindas à nova presença de Deus entre os homens.

Neste ano, que a nossa diocese consagra especialmente à família, não é difícil encontrar no Natal de Belém uma imagem do Natal das famílias de hoje, com a sua alegria e ternura, mas igualmente com os dramas da miséria, da falta de recursos, da ausência de amor e da recusa de acolhimento e solidariedade. Por isso, o Natal é o tempo propício, antes de mais, para apreciar e cultivar o dom da nossa própria família, apesar das dificuldades e imperfeições que ela sempre encontra. A família é um tesouro que Deus confia às nossas mãos. Jesus, o tesouro da presença transformadora de Deus no mundo, nasceu bebé e foi confiado à energia do amor carinhoso e diligente de uma família. Foi no seio desta família que Ele foi, por assim dizer, aprendendo a traduzir em palavras e gestos humanos o amor persistente e carinhoso de Deus, Pai da humanidade.

Mas o Natal de Jesus e de cada família apresenta-se igualmente como apelo à solidariedade, acolhimento e partilha das outras famílias. Como o anjo para os pastores e a estrela para os magos, o Natal guia a nossa atenção para as famílias em dificuldade e necessitadas de atenção e ajuda. A estrela de Belém paira hoje sobre as casas onde se encontram famílias sem meios para viver com dignidade, onde há vítimas de violência e de abusos, onde esmoreceu a chama do amor, onde há anciãos abandonados e sem cuidados. O presépio faz convergir a sua luz desafiadora sobre os campos de refugiados, na mesma situação de Jesus no Egito, onde milhares de famílias e crianças sem família fogem da violência e da miséria, em busca de pão, casa, carinho e nova esperança.

Nestas situações, nas nossas casas e em tantas outras casas e abrigos de fortuna encontra-se um tesouro de humanidade ou um abismo de desumanização. O carinho do Natal não pode ser apenas um slogan vazio, mas surge como desafio a construir a nossa família e a caminhar solidariamente até às grutas e presépios onde um menino e seus pais, esperam uma visita de carinho, de partilha, de ajuda, de apoio e esperança.

Boas Festas de Natal,

com a alegria do Deus Menino,

que veio partilhar as nossas dificuldades

e dar-nos nova vida e nova esperança.

 

Setúbal, 12 de Dezembro de 2016

+ José Ornelas Carvalho

Bispo de Setúbal

 

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19 de Dezembro de 2016