comprehensive-camels

Artigo de opinião do Pe Manuel Soares

padre manuel soares

Na sucessão dos dias, tanto mais rápida quanto mais nos habituamos a essa sequência, há momentos marcantes, datas relevantes que queremos salientar, realçar com maior consciência, atenção, esmero. O último dia do ano civil é um desses dias que nos leva a olhar para trás para reconsiderar o que aconteceu nos doze meses que passaram e já quase esquecemos. Este pode ser um exercício útil para perceber onde estamos e atentar ao terreno que pisamos.

A Igreja, a nossa Igreja petrina e paulina, romana e universal, de santos e de mártires ontem e hoje, e também de pecadores e decaídos, das origens e das esperanças escatológicas, a Igreja por Cristo fundada, vive no nosso tempo com a alegria da lucidez e testemunho do seu pastor supremo atual, o Papa Francisco, simples e pobre, despojado mas cheio de espírito evangélico, alegre mas sensível ao sofrimento, de coração elevado mas perto de nós. Nele sentimos fé e segurança, fervor e esperança, força e coragem. Percebemos que o mundo o respeita, o escuta, o estima e aprecia. Na nossa diocese, um Bispo a começar a sua ação pastoral, sentimo-lo empenhado, dedicado, amando o seu rebanho, transmitindo a mensagem do Evangelho com clareza e jovialidade, consciente das dificuldades, limitações, estorvos, mas disposto a novas soluções, novos caminhos, novas esperanças. Estes são os nossos pastores, homens como todos, mas os timoneiros que nos foram brindados e tributados para continuarmos confiados.

No governo das coisas do mundo, alguns assumiram a responsabilidade. Pela natureza dos assuntos materiais e devido ao sistema preferido, sabemos e sentimos que a política é um jogo, um equilíbrio permanente para não cair e estatelar-se. Atualmente, o otimismo reina: os governantes sorriem, tranquilizam, prometem melhorias, mostram simpatia, asseguram milagres como fazer voar as vacas, se necessário. Esta quietude, serenidade e calma transmitida à população que vive o seu dia-a-dia na aflição, ou na ansiedade, ou na ambição de mais e melhor, não deixa de transmitir uma paz que, se não é profunda, é superficial, atenta e prudente. Porque, quando a esmola é grande o pobre desconfia, porque muitos não querem manter os olhos fechados nem viver de ilusões…

O desporto nacional acompanhou bem a onda de otimismo que invade o país, sobretudo o futebol que atingiu o ponto mais alto do seu prestígio com a conquista do troféu europeu. Inimaginável esta vitória, que nem o mais otimista (se excetuarmos o selecionador na sua grande fé) conjeturava. Mas aconteceu efetivamente, para espanto de todos, embora com uma única vitória clara no fim do tempo regulamentar: empates, prolongamentos, penalties, bastaram ao campeão perante o desespero dos seus competidores. Numa outra ocasião, há já uma dúzia de anos, a esperança era alta em alcançar o triunfo, mas na final não tiveram pernas nem engenho para desfeitearem os gregos que astuta e valorosamente souberam conquistar o galardão. E, nesse ano, em nossa própria casa, como nos saberia a mel beijar aquela taça. A acompanhar esta vitória, uma outra coube-nos, já há muitos anos procurada em compita com “nuestros hermanos”: o europeu de hóquei. Este ano os hoquistas portugueses venceram-nos e logo com meia dúzia de golos…Pequenas satisfações patrióticas que não tiveram continuidade nos Jogos Olímpicos pois aqui conseguimos apenas uma medalha de terceira posição e mesmo essa partilhada, tendo os atletas voltado para casa com as mãos (melhor, os pescoços) muito esvaziados…Mas o desporto é ganhar ou perder, sem lugar para desalentos nem presunções…

Quanto a ideias e mentalidades, evoluções e futuro, o ano que acabou não deixa perspetivas excelentes. Estamos agora envolvidos numa sociedade de medo, de susto, de terror, de inquietação e sobressalto. De repente, surge o acidente, o terror, o cataclismo, a guerra, o ataque súbito, sem aviso nem advertência. Por outro lado, a mentalidade que entre nós se desenvolve torna-se monolítica, em que o Estado é tudo e só ele sabe e pode fazer, educar, apoiar, desenvolver, dirigir e ordenar, tornando a iniciativa privada e pessoal inoperante, inválida, desaproveitada, inútil, ineficaz. Os cidadãos tornam-se autómatos e incapazes quando alheios ao serviço do Estado ou do partido político. Esta orientação é perturbante e asfixiante. Tal tendência verifica-se já na área do ensino, da saúde, da comunicação social, da arte, e, em breve, também no serviço social, nas manifestações públicas, na cultura… E essa tendência é nefasta e perversa.

Para todos um Ano Novo feliz e risonho.

Pe Manuel Soares

Partilhe nas redes sociais!
02 de Janeiro de 2017