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Editorial

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Para mim, escrever o Editorial sempre se revelou uma tarefa que fiz a contragosto: já que é a peça que define a «política» editorial e «posição oficial» do jornal (por sair da pena do Diretor em pessoa) fi-lo o menos possível e com muita parcimónia, não porque não goste de escrever mas porque, sinceramente, não acho que as minhas palavras sejam assim tão importantes para a maior parte do público, só porque são da «autoridade máxima» do periódico.

Contudo, este é um caso especial, e escrevo-o com imenso gosto e imensa alegria, e por quatro razões:

1) Neste dia – 25 de Março de 2017 – o nosso bispo criou o Tribunal Diocesano de Setúbal e dotou-o dos responsáveis necessários para procederem ao cuidado dos nossos diocesanos, sobretudo no que diz respeito às causas matrimoniais. É um anseio de há muito, uma urgência e uma justiça: como diz um padre meu conhecido, a Igreja ainda será recriminada e paga já uma fatura muito alta pela demora em tratar de fazer justiça às pessoas que infelizmente sofrem neste campo. Pagamos uma fatura muito alta porque só nos preocupamos com questões ditas «sociais» e menosprezámos durante muito anos a necessidade evidente de mandar preparar pessoas em Direito eclesiástico para ajudar a pôr vidas em ordem. Já vem muitíssimo tarde este Tribunal, mas ainda bem que vem. Peço ao Senhor que os seus responsáveis sejam cumulados de toda a sabedoria que vem do Alto.

2) Neste mesmo dia o nosso bispo cria também o Gabinete de Comunicação Diocesano, com objectivos e atribuições que há muito eram pedidos, mas que nunca a clarividência humana tinha permitido pôr no terreno e em marcha. Quando a cristalização do pensamento e das formas de agir se torna bloqueante é toda a Igreja que sofre, e se bem que isto se possa dizer de quase toda a atividade diocesana até há cerca de ano e meio, foi no âmbito da comunicação que tal se tornou particularmente evidente, com o afogar de qualquer possibilidade de mudança. Assim, fomos obrigados a um esforço absolutamente estrénuo e heróico para manter à tona um mínimo. Obrigou até – já o posso confessar agora – a agir por vezes à margem do bloqueio, sabendo que se deve obedecer mais a Deus que aos homens, e que o bem da Igreja de Setúbal estava em fazer aquilo que se deve, não aquilo que alguns queriam ou não queriam; muito mal foi evitado e algum bem foi conseguido, infelizmente não tanto como teria desejado. Mas o que importa agora é o futuro que já assoma neste presente, e agradeço ao nosso bispo a capacidade de tornar tudo isto possível.

3) Com o advento do nosso Gabinete de Comunicação Diocesano, e com a entrada em funções da sua responsável, cessam também, e a partir de 1 de Abril, as minhas funções de Diretor deste Jornal Diocesano. O «Notícias de Setúbal» surgiu há 15 anos em papel, e desde há um trimestre «anda» exclusivamente online, mercê da evolução dos tempos e da necessidade de evolução de um modelo que, naturalmente, ficou datado. Foi um tempo muito trabalhoso, mas bom: nas suas páginas – tanto em papel como nas electrónicas – ficou bem visível a história e a vida diocesanas, nos seus grandes momentos, e o seu entrelaçar com a história da Igreja Universal, com a marcha do nosso país e do mundo. Não, não fomos um jornal devocional, como uns queriam, nem um jornal de opinião, como outros ainda desejavam, nem o retomar de um outro projeto com o mesmo nome havido anos antes. Fomos um jornal verdadeiramente diocesano, noticioso, de reportagem, cuja missão indicada – dar a conhecer a diocese à diocese – foi a sua grande marca. E com a heróica equipa que o fez e faz, tornou-se possível cumprir o «milagre»: nunca um cêntimo de prejuízo, nunca uma única falha na sua saída. Fica um agradecimento enorme ao Miguel Delgado, o designer e paginador do jornal desde o seu nascimento, pois este foi o seu «filho primogénito», ainda antes dos outros três que agora tem; ao Bruno Leite, pelo seu vestir da camisola e pela sua versatilidade e alegria; à Vera Cardoso e ao Joaquim Ramos, nossos primeiros jornalistas; à Fernanda Peralta, a administradora, que sofreu bem mais que eu na pele a dificuldade de fazer este «milagre» em termos financeiros, e a quem toda a equipa, toda a diocese e eu em particular devemos estar muito gratos. Agradeço ao senhor bispo, D. José Ornelas, a confiança demonstrada e a palavra de discernimento oportuno.

4) Propositadamente deixei ficar para último a quarta razão, a nomeação da Anabela Sousa: a nomeação da minha sucessora à frente do jornal, e a escolhida pelo Senhor Bispo para chefiar o Gabinete Diocesano de Comunicação. Pessoalmente agradeço muito à Anabela Sousa a sua presença, o seu estilo e disponibilidade e tudo aquilo que deu ao «Notícias de Setúbal». Também ela, a partir de um esforço pessoal enorme, fez um trabalho extraordinário: com tantas voltas que deu á Diocese, em entrevistas sucessivas aos mais variados responsáveis, tornou-se alguém que conhece Setúbal como poucos, muito mais que muitos sacerdotes. É em reconhecimento deste percurso, da sua enorme capacidade de trabalho e da sua capacidade técnica, bem como das suas naturais características que é agora chamada para esta missão, um chamamento com o qual me alegro profundamente, que agradeço de coração ao senhor Bispo, e que me dá a certeza de que fica tudo bem entregue em boas mãos. À Anabela Sousa fica esta palavra muito especial de incentivo, e com a intercessão do Arcanjo São Gabriel, o responsável das Comunicações Celestes, e de S. Francisco de Sales, o padroeiro dos Jornalistas, possa desempenhar com muito zelo a sua missão e sem empecilhos, sejam estes empecilhos pessoas ou ideias de pessoas.

Como Moisés no Monte Nebo, fico-me por aqui, pedindo perdão de algo que tenha sido menos bom ao longo de todos estes anos e agradecendo a todos, em particular ao nosso bispo, a confiança depositada e, sobretudo, a vontade de avançar.

Bem hajam!

Pe. Francisco Mendes

25 de Março de 2017, Solenidade da Anunciação do Senhor

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25 de Março de 2017