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Procissão do Corpo de Deus 2017

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Na passada quinta-feira, dia 15 de junho, a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, popularmente conhecida como Corpo de Deus, foi vivida na cidade episcopal com três momentos distintos e importantes. De manhã, na Sé, a instituição dos novos ministros extraordinários da comunhão. À tarde, a adoração ao Santíssimo Sacramento, seguida da oração de vésperas e procissão eucarística pelas ruas da cidade.

Fotografias da Procissão disponíveis no Facebook da Diocese de Setúbal, clicando aqui.

D. José Ornelas, o Bispo diocesano, presidiu às diferentes celebrações. Logo na Eucaristia, de manhã, onde instituiu quarenta novos ministros extraordinários da comunhão, o Prelado colocou em destaque que “a comunidade se forma à volta da mesa da Eucaristia” e que “Cristo é o Pão da Vida”.

Ao terminar a Procissão do Corpo de Deus, que saiu da Sé e terminou na Igreja de São Julião, o Bispo diocesano sublinhou a importância de caminhar com Cristo no meio da cidade e destacou que Cristo mostra a verdadeira libertação, como caminho de dignidade e de humanização. Por outro lado, afirmou que é o Povo de Deus, caminhando junto, que afirma o compromisso de continuar a presença de Cristo-Eucaristia nas comunidades e no meio da cidade, transformando o mundo, sem medos.


Alocução de D. José Ornelas no final da Procissão do Corpo de Deus 2017

Caminhando com Cristo no meio da cidade

Esta é uma das poucas ocasiões em que a comunidade cristã sai solenemente para as ruas da cidade, trazendo consigo o dom mais precioso que recebeu: Cristo presente na Eucaristia.

Viemos a partir da igreja-mãe da nossa diocese, para uma igreja central desta cidade, que simboliza as diversas igrejas e as diversas cidades da diocese de Setúbal, hoje representadas nesta procissão.

Viemos modelados e motivados pela palavra que escutámos na celebração eucarística desta manhã e trazemos essa mensagem para a vida, para a construção da cidade e do futuro comum que partilhamos com todos os que nos rodeiam.

É à luz dessa Palavra que gostaria de deixar a mensagem que nos trouxe a peregrinar pelas ruas desta linda cidade de Setúbal.

1. Caminhar juntos, expressão de libertação

O primeiro sentido desta manifestação da comunidade cristã é precisamente o caminhar juntos com Cristo, no meio da nossa cidade, das nossas cidades, do mundo.

Este caminhar juntos evoca, antes de mais, a caminhada do povo de Deus da escravidão para a liberdade, descrita no livro do Êxodo. Foi essa libertação que Jesus celebrou com os discípulos na última ceia, durante a qual lhes mandou que continuassem a celebrar esta festa, agora ligada à libertação por Ele operada com a sua morte e ressurreição.

Uma libertação – a do êxodo – operada por Deus, mas tornada concreta pela ação de Moisés, de Aarão e de tantos outros. Este caráter humano e divino é sempre uma caraterística da ação de Deus na história humana. A verdadeira libertação das pessoas tem de ter sempre esta dupla dimensão. É por isso que hoje nos fazemos acompanhar pelo Senhor da Libertação em absoluto, que nos liberta e nos conduz a sermos libertadores.

Enviado do Pai, Cristo mostra-nos a verdadeira libertação, como caminho de dignidade, de humanização, de consciência de povo, para além das fronteiras que dividem a humanidade. De contrário, os movimentos de libertação rapidamente se tornam em sistemas de opressão e de repressão e de violência. Cristo-Eucaristia, é afirmação da dignidade dos filhos de Deus e irmãos/ãs com a libertação da miséria, da opressão, da injustiça, de toda a espécie de tirania e da guerra.

Por isso, é necessário que aqueles que se esforçam pela libertação sejam, eles próprios, profundamente libertados do egoísmo, das manipulações do poder, das divisões e nacionalismos que separam os homens, da limitação materialista de horizontes que exclui Deus do processo de libertação.

Sendo a celebração da morte e ressurreição de Jesus, a Eucaristia vence o medo e o sofrimento, afirmando a presença do Senhor ressuscitado no meio da comunidade, e levando os seus discípulos/as a empenharem-se com coragem na transformação do mundo, confiados no poder e no amor de Deus, e sobretudo, representa a libertação do poder universal da morte, pela afirmação da presença do Senhor Jesus, que não teve medo de oferecera sua vida até uma morte infamante, que ressuscitou e está vivo: tão vivo que caminha connosco e nos faz caminhar juntos.

A imagem desta libertação encontramo-la no Homem Novo, absolutamente livre: Jesus Cristo. Ao celebrar a primeira Eucaristia com os discípulos e ao mandá-los continuar a celebrá-la como fazemos hoje e aqui, Ele mostra-se livre de tudo, de todos e dos seus próprios limites como humano, porque inteiramente em comunhão com o Pai e totalmente entregue como fonte de vida para a humanidade.

Por isso, estamos cá juntos, oriundos de todas as paróquias, cidades, vilas e povoações da nossa Igreja de Setúbal e unidos a milhões de outros que no mundo inteiro celebram assim a Eucaristia. Trazemos à cidade Cristo Libertador.

2. Caminhar unidos: Um Povo novo

A segunda palavra que a Palavra de Deus nos trazia esta manhã é a da comunhão e a unidade que constituem a comunidade cristã.

Ninguém se liberta sozinho e ninguém se torna libertador se não for livre ele próprio. É por isso que caminhamos juntos, para começar a construir, a partir desta vida, a libertação operada por Deus. Apenas juntos poderemos realizar o sonho de Deus de uma humanidade próspera e em paz, na justiça e na dignidade.

A Eucaristia é expressão deste movimento de comunhão libertadora. Juntos encontramo-nos a escutar a Palavra de Deus que ilumina, liberta e dá força. Somos alimentados pelo mesmo pão que nos une a Cristo e uns aos outros. Assim configurados e unidos, tornamo-nos expressão da Sua compaixão para com a humanidade vítima da fome, da injustiça, da violência e a empenhamo-nos, como Ele e com Ele, na construção de um mundo justo, digno e fraterno, sem nunca perder de vista a libertação total que apenas o Senhor Ressuscitado pode oferecer.

Caminhando juntos, em atitude de Eucaristia, fazemos memória da humanidade e da sua história de drama, de luta de sonho e de frustração, de desalento e de esperança. Fazemos memória do Deus libertador que sempre a acompanhou no seu percurso, mostrando novos caminhos, alargando horizontes, motivando corações, dando força e direção a tantos que deram a vida por esta humanidade. Fazemos memória de Cristo que se fez solidário com os mais desprotegidos, abandonados e pecadores, oferecendo por eles a sua própria vida.

Juntos, afirmamos o compromisso de continuarmos hoje a presença congregadora de Cristo-Eucaristia nas nossas comunidades e no meio das nossas cidades. De continuarmos a partilhar o pão para os que têm fome de alimento, de educação, de carinho, de perspetivas de vida, de anúncio da libertação de Deus. Como irmãos e irmãs, alimentados pelo mesmo Pão-Eucaristia, lutamos solidariamente por um Igreja e uma humanidade livres de muros e exclusões.

Juntos, proclamamos a nossa fé no Senhor Jesus, que continua a caminhar connosco, sua Igreja peregrina, aceitando os desafios do nosso tempo, buscando caminhos novos para novas realidades e sobretudo, sendo sempre expressão do seu amor e do seu carinho para com todos, mas especialmente para com os mais frágeis e desprotegidos.

Celebrando a memória da morte e ressurreição de Jesus, vivemos e anunciamos a confiança e a esperança no poder de Deus, que é capaz de transformar este mundo e de alargar os horizontes da nossa vida, para além das realizações, sempre limitadas, que podemos ver e projetar. O Senhor-Eucaristia que nos conduz através da nossa e das nossas cidades é Aquele que nos abre o caminho para a Cidade Eterna, para onde convergem todos os nossos esforços e esperanças e todos os caminhos da história humana.

É este Senhor que agora nos abençoa. Abençoa todos os que estamos presentes; todos os que não peregrinaram connosco; todos os que pensam diferente; toda esta cidade de Setúbal e todas as cidades e vilas da nossa diocese, com aqueles/as que a elas presidem. Abençoa, de um modo especial, todos os que sofrem a dureza da vida, da pobreza, da doença e do sofrimento; todos os que, perto ou longe, sentem a exclusão…

Para todos pedimos a bênção do Senhor-Eucaristia.

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17 de Junho de 2017