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Ordenação Presbiteral do Padre João Paulo Duarte: Homilia de D. José Ornelas

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Homilia de D. José Ornelas na Ordenação Presbiteral do Padre João Paulo Duarte

Chamado e eleito

A breve cerimónia de apresentação que acaba de ter lugar, revela, na sua simplicidade, a grandeza daquilo que estamos a celebrar. Na presença de toda a comunidade, do Colégio Presbiteral e dos Diáconos da nossa Diocese, que foram publicamente interrogados para este efeito, o Diácono João Paulo foi apresentado e proposto ao Bispo, pelos responsáveis da sua preparação e discernimento, para ser ordenado presbítero, com bem ouvimos: “Pede a Santa Mãe Igreja que ordeneis este nosso irmão para o ministério do Presbiterado“.

Assegurado o testemunho da idoneidade, em nome da Igreja e com o auxílio de Deus, o Bispo tornou atual e confirmou, o chamamento que Deus dirigiu ao Diácono João Paulo, há já vários anos, e que ele foi discernindo, seguindo e preparando: “Com o auxílio de Deus e de Jesus Cristo nosso Salvador, escolhemos este nosso irmão para a Ordem dos presbíteros.

Ao longo deste processo de preparação, a Igreja reconheceu o dom do chamamento que Deus lhe dirigiu, que ele acolheu no coração e, por isso, o propôs e apresentou ao Bispo para este ministério.

Caro irmão e Diácono João Paulo, esta é a primeira palavra que, pela minha boca, a Igreja te dirige nesta solene liturgia: Acabas de ser escolhido, eleito, através do chamamento da Igreja, que fez ecoar hoje, para ti, o chamamento de Deus; o mesmo chamamento e missão que dirigiu aos profetas, o mesmo convite que Jesus fez aos discípulos à beira do lago da Galileia, a mesma revelação que mudou Paulo no caminho de Damasco, a mesma vocação que, ao longo dos séculos, foi dirigida a tantos diáconos, presbíteros e bispos, para o serviço do povo de Deus.

Considera sempre um dom gratuito e um privilégio de Deus este chamamento e esta escolha, não pelos teus méritos, mas pelo amor que o Pai do céu te dedica. Recorda-te com frequência desta assembleia que te apresenta; dos teus irmãos Diáconos e os que vão ser teus irmãos Presbíteros, junto de quem estarás em união com o Bispo e com toda a Igreja. Guarda no coração, com gratidão e humildade, e sê sempre fiel a este chamamento e eleição.

Ungido para levar a Boa Nova aos Pobres (Is 61,1-3)

As leituras que propuseste para a tua ordenação, sugerem bem os nobres propósitos que te vão na alma e que queres que orientem o teu ministério. A primeira leitura é um texto do profeta Isaías, que o Senhor Jesus aplicou a si próprio, na sinagoga de Cafarnaum: “O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou para levar a boa-nova aos pobres“.

Uma imagem fundamental e linda do ministério que és chamado a desempenhar: A unção do Espírito para trazer boas notícias aos humildes, aos pobres, aos aflitos. Na realidade a todos, mas a começar de baixo, dos que mais precisam… mas todos nós precisamos e é a toda a humanidade que és enviado.

É o mesmo óleo do Espírito que já recebeste no batismo e na confirmação, na cabeça, mostrando quão precioso tu e todos os batizados são para Deus. Nesse Espírito aprendeste a tratar Deus como Pai e a sentir a sua mão carinhosa e protetora. Como filho, aprendeste igualmente a reconhecer irmãos e irmãs os membros da Igreja a quem és enviado.

Daqui a pouco, serás ungido nas mãos, sinal da ação, pois és enviado para servir. Mãos que hão de ser expressão do Espírito que derrama a água do purificadora do batismo, que perdoa os pecados, reconcilia os crentes na Igreja, une e abençoa o amor dos esposos, acarinha e consola nas enfermidades e fragilidades, acolhe e abre as portas da Igreja aos que estão fora e a faz sempre sair pelo mundo a anunciar o Evangelho. E, através de todos esses gestos sacramentais, o Espírito há de dar-te um coração de misericórdia, especialmente sensível aos mais pobres e excluídos da sociedade.

Como o profeta, é com esta atenção aos mais pobres e frágeis que hás de assumir este ministério. Começar pelos pobres e débeis, não é uma opção de classe, que exclua quem quer que seja, mas hás de seguir esta ordem de precedência para que ninguém se sinta excluído da tua atenção e carinho, que hão de ser expressão do amor universal de Deus por todos aqueles a quem és enviado.

Com todas as distâncias e humildade, a nossa assembleia deve dizer hoje, como Jesus em Nazaré, quando leu esta leitura: “Hoje cumpre-se esta palavra que acabais de ouvir“. Hoje, caro João Paulo, és tu quem é chamado a ser continuação de Jesus que tem compaixão das multidões, dos pobres, dos que não são capazes de fazer ouvir a sua voz ou de ouvir a Palavra de consolação e de esperança do Evangelho, de mover-se na vida e de abrir os olhos à esperança.

Implora, e conserva-te sempre à escuta deste Espírito que hoje recebes, para que Ele te transforme em verdadeiro profeta da Palavra transformadora e alentadora de Deus, para aqueles que precisam de escutar a Boa Nova da salvação.

Padre à imagem do Bom Pastor (Jo 10, 1-18)

A leitura do Evangelho que escolheste apresenta o Bom Pastor como modelo da missão que te é confiada. Torna-te verdadeiro discípulo do Senhor Jesus e considera sempre que Ele é que é o Pastor; antes de mais, o teu Pastor. Que possas fazer a experiência e a alegria de ser conduzido por Ele, mesmo nas horas de desalento e dúvida. Escuta atentamente a sua voz e aprende a conhecê-lo e reconhecê-lo, como Ele te conhece, pois, as ovelhas devem conhecer o coração do Pastor. Faz essa experiência de ser membro do seu rebanho, com os irmãos e irmãs, pois só assim podes ser pastor, à imagem do Bom Pastor.

Não sejas mercenário, centrado em ti próprio, na tua grandeza, importância ou interesse, mas assume, com humildade e alegria o papel de orientar e guiar, imitando o Senhor manso e humilde de Coração, no serviço que Ele te pede à sua comunidade. Sê pobre e desprendido, para que nada te falte para a missão a que te dedicas.

Não condenes ninguém, mas ajuda a todos a discernir o que é bom e a evitar o mal. O que celebrarás no sacramento da reconciliação seja a norma do teu viver: nunca feches as portas do teu coração e da Igreja na cara dos que a ela batem, mas vai à procura das ovelhas tresmalhadas, ajuda a curar as feridas dos que sofrem e erram, acolhe com misericórdia os que regressam e ajuda os que têm dificuldade de aguentar o passo dos mais ágeis.

Mas, sobretudo, ama os membros do rebanho do Senhor e entrega por eles a tua vida, como fez o Bom Pastor. Quando abençoares e partires o pão para a comunidade – dizendo “Isto é o meu Corpo… este é o meu Sangue da aliança” – considera, antes de mais, que foi por ti que o Bom Pastor deu a sua vida que te alimenta e transforma. Mas une-te igualmente àquele que se torna presente pelas tuas mãos, a fim de seres, para o teu povo, dom de pão que o Senhor multiplica, vinho de alegria, até à oferta total da tua vida, pelo rebanho do Senhor.

Aberto à missão universal da Igreja (Act 10,34-43)

A leitura dos atos que escolheste, narra a primeira abertura da Igreja aos não judeus, no dia em que o apóstolo Pedro, guiado pelo Espírito do Senhor ressuscitado, deixou o conforto da tradição judaica e ousou entrar na casa do centurião Cornélio, um pagão com coração crente.

Esta é a terceira palavra que desejo dizer-te, hoje, caro João Paulo: Não és ordenado padre apenas para aqueles que já estão na Igreja, que já fazem parte do rebanho do bom Pastor. Tens de sentir bem no coração a sua preocupação e o seu desejo: “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Também estas Eu preciso de as trazer e hão de ouvir a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor.

Cuida com amor e zelo da tua comunidade, mas sai com ela pelas praças e ruas das cidades. Cuida dos que estão seguros, mas vai à procura dos que vacilam, dos que estão longe. Sente o apelo da Igreja missionária que queremos e somos chamados a ser. Sê um padre missionário, numa Igreja missionária, em saída, pois esse é o dinamismo do Espírito Santo que agora vamos implorar para que venha sobre ti.

Como o profeta dos pobres, como o Bom Pastor à procura da ovelha perdida, como Pedro abrindo novos caminhos à Igreja, sê um padre missionário atento e misericordioso, aqui e onde quer que Deus te envie, para anunciares a Boa Nova do Seu amor transformador, modelado pelo seu Coração de Bom Pastor.

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17 de Junho de 2018