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Vigário Geral da Diocese, Padre José Lobato, celebrou bodas de ouro sacerdotais

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No passado dia 29 de junho, o Vigário Geral da Diocese de Setúbal, Padre José Lobato, celebrou cinquenta anos de ordenação sacerdotal, com a celebração da Eucaristia festiva na Paróquia de São Simão, em Azeitão. Na ocasião, o sacerdote afirmou que tem sido um “privilégio” estar ao serviço da Igreja nesta Diocese sadina, que acompanhou desde o seu nascimento.

“Aqui vim parar, em outubro de 1968, enquanto vigário paroquial do Montijo e Sarilhos Grandes, ainda quando Setúbal era uma região pastoral do Patriarcado de Lisboa, e nunca mais de cá saí. Fui espetador, ator e participante na criação desta Diocese. Hoje, com o nosso Bispo, D. José Ornelas – sem esquecer D. Manuel Martins e D. Gilberto dos Reis – continuo disponível para estar ao serviço da Igreja, enquanto tiver capacidade, para formar uma comunidade atenta e missionária”, afirmou o sacerdote no final da Eucaristia.

D. José Ornelas, o Bispo diocesano, também marcou presença na Eucaristia, e sublinhou que, no seu primeiro contacto com a Diocese de Setúbal, foi muito importante encontrar pessoas como o Padre José Lobato: “Quando aqui cheguei, dei graças a Deus pela generosidade de tanta gente que aqui esteve, aqui semeou, e aqui se deu. Uma dessas pessoas é o Padre Lobato a quem muito se deve, nesta Diocese de Setúbal. A sua leitura da vida, da vida da Igreja, a sua serenidade marcada pela fé e a sabedoria e humanismo que o habita, dão-me uma grande tranquilidade”.

Já o Padre Luís Ferreira, pároco de Azeitão e Vigário Episcopal para a Pastoral, que tomou a iniciativa de organizar este momento de festa, afirmou sobre o Padre José Lobato: “Muito do que sou devo-o ao Padre Lobato e, por isso, não queria deixar que este dia passasse sem celebrá-lo festivamente, aqui, em Azeitão, nesta que também é a sua comunidade, e agradecer a este homem simples, grande, sábio, discreto”.

Após a celebração da Eucaristia, seguiu-se um jantar comemorativo que contou com alguns testemunhos de quem, ao longo destes cinquenta anos, caminhou com o Padre José Lobato, nomeadamente, representantes do Movimento dos Cursilhos de Cristandade, da Equipa de Casais que acompanha, de amigos e familiares.

(Leia, depois das fotografias, a homilia do Vigário Geral da Diocese de Setúbal)

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Homilia do Vigário Geral da Diocese de Setúbal, Padre José João Aires Lobato, por ocasião do 50.º aniversário da sua ordenação sacerdotal (29 de junho de 2018)

Pedro e Paulo

Pelos anos 41-44 da nossa era, estando o Apóstolo Pedro em prisão de “alta segurança”, foi milagrosamente liberto para poder continuar a cumprir a sua missão. Com Paulo (e Silas), veio a acontecer milagre idêntico em Filipos (cf. At 16, 25-34). Passados alguns anos, acabaram-se os milagres e tanto Pedro como Paulo foram cruelmente assassinados em Roma, na perseguição de Nero, por volta do ano 64 d. C. E assim, aconteceu com muitos outros e continua a acontecer hoje: muitos discípulos de Jesus são perseguidos, aprisionados e assassinados por causa da sua fé, sem anjos que lhes cortem as correntes ou lhes abram as portas das prisões. E, no entanto, o milagre, o grande milagre – a força da fé e o sonho constante de levar o Evangelho de Jesus a todos – continua a manifestar-se para todos os dias nos maravilhar e incentivar ao testemunho corajoso, sem medos nem hesitações. E continua também o milagre permanente da oração da Igreja, consciente da grande importância do ministério apostólico. É importante rezar pelo Papa, pelos Bispos, presbíteros e diáconos, assim como pelo despertar de vocações para o ministério ordenado, para que, como Paulo, cada um possa dizer: «O Senhor esteve comigo e deu-me forças, a fim de que, por meu intermédio, o anúncio fosse plenamente proclamado e todos os gentios o escutassem». Todo o discípulo missionário, fortalecido pela Graça de Deus e pela oração da Igreja, é chamado a viver a imensa felicidade de quem «guardou a fé» e cumpriu a sua vocação missionária com fidelidade. (Cf. 2ª leitura).

Este, sim, é o milagre quotidiano – milagre mais deslumbrante do que uma ajuda pontual, oportuna e eficaz sem dúvida, mas excecional.

O texto evangélico de hoje consta de duas partes: a resposta de Pedro acerca da identidade messiânica de Jesus, Filho de Deus e a promessa do primado que Jesus confere a Pedro.

Jesus já era considerado como profeta pelo povo, mas os Doze foram formando uma opinião diferente acerca de Jesus, expressa aqui por Pedro: Jesus é o Messias, o Filho de Deus! Não se tratava, ao contrário do que eles – e nós – poderíamos pensar, de uma descoberta pessoal. Essa opinião era fruto da ação do Espírito Santo neles: “não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu”.

A este reconhecimento – que é um dom – Jesus responde com outra revelação: Pedro será a rocha sobre a qual Jesus edificará a sua Igreja. A Pedro e aos seus sucessores é confiada a missão de serem a expressão visível da realidade invisível que é Cristo Ressuscitado. O poder de ligar e desligar, expresso na metáfora das chaves, indica a autoridade-serviço sobre a Igreja. Morto e sepultado na colina do Vaticano, em Roma, Pedro ali continua hoje, não apenas nos seus restos mortais que lá repousam, mas sobretudo nas pessoas daqueles que lhe sucederam na missão que lhe foi confiada pelo próprio Cristo, até ao papa de hoje, Francisco. Nele, Pedro continua a ser “a rocha”, sobre a qual Cristo continua a edificar a sua Igreja, sinal da unidade para “aqueles que invocam o nome do Senhor”.

Pedro, Paulo… de quem estamos a falar?

Pedro era natural de Betsaida, Galileia, onde exercia a profissão de pescador. Paulo era de Tarso, fabricante de tendas. Foi perseguidor acérrimo da Igreja, converteu-se no caminho de Damasco. Homens muito diferentes na origem, na cultura, na personalidade… Ambos escolhidos pessoalmente por Jesus, em contextos diferentes, para a mesma missão de evangelização.

Hoje, somos nós todos, povo de Deus, com os Bispos – entre eles e à frente de todos o Bispo de Roma, sucessor pessoal de Pedro – os presbíteros, diáconos, homens e mulheres consagrados, missionários, homens e mulheres leigos, famílias… que, escolhidos por Cristo, continuamos a missão, entusiasmados e livres, mesmo que perseguidos e acorrentados, sabendo que a Palavra de Deus não pode estar acorrentada (cf. 2Tm 2, 9).

Celebrar os Apóstolos Pedro e Paulo é proclamar a fé na Igreja “una, santa, católica, apostólica”. Pedro, e Paulo são os últimos elos de uma corrente que nos liga a Jesus.

O ministério sacerdotal como “officium amoris” (S.to Agostinho)

A epístola aos Hebreus, falando do sacerdote, diz que ele foi “tomado de entre os homens” (Cf. He 5, 1). Também o sumo sacerdote Jesus Cristo, sendo Filho de Deus, quis ser o Filho do Homem, um homem, em tudo semelhante a nós. O sacerdote é um homem, irmão de todos os homens e mulheres. Continua, depois de nele ter sido infundido o Espírito Santo pela imposição das mãos (sacramento da Ordem), a “partilhar a sorte do homem, a sorte dos fracos, a sorte dos cansados, dos desanimados, dos intratáveis e dos pecadores[1]”. “Eles pregam a Fé que vence o mundo e concedem a Graça que transforma os homens pecadores e perdidos, em homens santos e salvos. Eis que chegam como homens. Eles chegam e dizem através da sua humanidade: Deus tende piedade daqueles que são como nós[2]”.

Não há razões para colocar um sacerdote no centro de qualquer celebração. Não celebramos um homem. Celebramos o sacerdócio de Jesus Cristo. É Ele que está sempre no centro de cada celebração. Celebramos a Igreja, à qual todos pertencemos. Celebramos o ministério, mais do que o ministro; a missão, mais do que o missionário.

O sacerdote é, simultaneamente, impotente e omnipotente. Impotente, porque nada pode fazer por si mesmo; omnipotente, porque o poder de Deus age nele e por ele, apesar das suas fragilidades, realiza aquilo que aos homens é impossível: a salvação, a comunicação da Graça, a Vida eterna.

E, no entanto, o sacerdote não é um funcionário. A sua pessoa e a sua missão não são meros instrumentos do poder de Deus. Ainda que a grandeza da missão que lhe é confiada exceda em muito as suas capacidades pessoais, o sacerdote não é um “distribuidor” de sacramentos; ele é sacramento, enquanto especialmente revestido da sacramentalidade da Igreja em favor de todo o Povo de Deus. Por isso, para que seja sacramento de Cristo, ele tem de cultivar em si «os mesmos sentimentos de Cristo Jesus» (Fil 2, 5). Ele anuncia a Palavra e vive da Palavra. Comunica a Graça e vive a Graça. Celebra o Banquete eucarístico para a vida do mundo e come o Pão que lhe dá, também a ele, a Vida. Concede o perdão dos pecados e procura o perdão dos seus próprios pecados. Como pastor conduz os irmãos para Deus, continuando a ser sempre um “aprendiz de Deus”. O seu ministério é, na expressão de S. Agostinho um “amoris officium”, um serviço de amor; «non tam praeesse quam prodesse», não tanto estar à frente, comandar, mas servir. E servir em Igreja em comunhão com os outros servidores.

50 anos…

«Aqui ao leme sou mais do que eu: / Sou um povo que quer o mar que é teu» (Fernando Pessoa, O Mostrengo).

Ser Padre não é uma aventura pessoal. A responsabilidade de um padre sobre o “leme” que lhe foi confiado não pode ser pretexto para exibição pessoal ou exercício de poder. Ele é um de entre o povo que é Igreja em caminho, em saída permanente.

Por isso, agradeço a Deus ter-me dado, ao longo de 50 anos, juntamente com o dom do ministério sacerdotal, muitas oportunidades de o viver em diversas dimensões e com tantas e tão variadas pessoas (padres, leigos, religiosos/as, famílias, instituições …) que sempre foram para mim convite e exigência de um modo fraterno e solícito de exercer o ministério. Graças a Deus e a todos estes, nunca me senti ao leme de um projeto individual. Nunca me senti senhor do leme, nem do barco, nem da rota.

Por isso, muito sinceramente:

Agradeço a todos os que, ao longo destes 50 anos, me abriram as portas das suas casas, da sua família, das suas vidas, do seu coração, permitindo-me saborear melhor o dom que Deus me concedeu de ser sacramento da Sua Palavra e da sua Graça nos momentos felizes e também nos difíceis das suas vidas.

Agradeço a todos os que me pediram para, em nome de Deus e da Igreja, abençoar o seu matrimónio, contribuindo para me fortalecer no amor e na fidelidade ao meu “sim” a Cristo e à Igreja.

Agradeço a todos os casais que me pediram para celebrar o Batismo dos seus filhos, lembrando-me deste modo a minha condição de padre-pai e da missão de reunir e ajudar a caminhar para o Pai do Céu todos os seus filhos.

Agradeço a todos os que me confiaram os segredos do seu coração e, por meio de mim, pediram a Deus e à Igreja o perdão dos seus pecados, lembrando-me, assim, a minha condição de pecador e convidando-me a procurar o perdão no sacramento da reconciliação.

Agradeço a todos os que me sobrecarregaram de trabalhos, de ocupações e preocupações, e assim contribuíram – nem sempre com o desejável sucesso – para que não me esquecesse de que o sacerdócio implica o dom total de si mesmo.

Agradeço a todos os que me chamaram a atenção para as minhas fragilidades e hesitações, ajudando-me a caminhar com sabedoria e discernimento.

Peço a todos perdão por aquilo que não fui, não fiz, não amei.

Peço a todos oração.

E muito obrigado a todos por terem querido estar comigo neste dia.

Um muito obrigado especial àqueles que contribuíram para que esta celebração esteja a acontecer.

Pe. José Lobato

[1] Karl Rahner, Os sacramentos da Igreja, Para uma Missa Nova, Ed. Paulistas, 1992.

[2] Id, Ib

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03 de Julho de 2018