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Padre Rodrigo Mendes celebra Jubileu Sacerdotal a 18 de agosto

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O Padre Rodrigo Mendes, pároco de Santa Maria – Barreiro, que foi Vice-Reitor do Seminário de Almada durante doze anos, celebra no próximo dia 18 de agosto, 50 anos de ordenação presbiteral. Nesse dia, o sacerdote celebrará Eucaristia, naquela Paróquia, pelas 18h30.

Do programa das celebrações consta, ainda, um concerto de “Louvores Marianos” com a cantora Teresa Salgueiro, no dia 17 de agosto, pelas 21h30. Já no dia 18 de agosto, após a Eucaristia e a confraternização, atuará o artista Rão Kyao.

Leia, em seguida, a entrevista que Cláudio Anaia, paroquiano de Santa Maria – Barreiro, fez ao Padre Rodrigo Mendes, por ocasião do seu Jubileu Sacerdotal.


50 anos de Sacerdócio do Padre Rodrigo Mendes: “Através deste passado, eu possa continuar a construir o futuro”

O Padre José Rodrigo da Silva Mendes, com 74 anos, comemora no próximo dia 18 de Agosto de 2018, 50 anos de Sacerdócio. Nascido em Bitarães, concelho de Paredes, foi um cidadão do mundo, onde a sua missão passou por França, em Paris, onde viveu o Maio de 68.

Como assistente geral da congregação religiosa Filhos da Caridade, nas décadas de70 até 90, deu apoio aos colegas em grandes cidades como Brasil, Canadá, Estados Unidos, Colômbia, México, Cuba e Países do Leste.

Esteve na paróquia do Lavradio vários anos e foi também, durante 12 anos, responsável do Seminário de Almada.

Atualmente é o pároco da Igreja de Santa Maria – Barreiro.

Cláudio Anaia (CA) – O que leva um jovem de Bitarães, na década de 50-60, a querer ser padre?

Padre Rodrigo (PR) – Eu tanto quanto me lembro, esta dimensão espiritual da vida era fundamental por aquilo que eu vivi na minha família, era uma família unida, em que se rezava e eram momentos que a vida encontrava o seu sentido e a sua coesão. Lembro-me também de certas pessoas da minha família que me marcaram, devo reconhecer, um tio meu que foi padre, já falecido, irmão do meu pai, que viveu o ministério sacerdotal de uma maneira muito digna e interessante. Também o facto de ser da família de D. António Ferreira Gomes, o Bispo do Porto, que desde o princípio da minha meninice, sempre fui muito marcado por essa figura, até cheguei a visitá-lo no exílio.

CANo fim da década de 60, antes do 25 de Abril, vai para Paris, onde estará junto da classe operária

PR – Eu sou um jovem do meu tempo, fiz o seminário no Porto e em determinada altura, como outros jovens, entrei em choque com os valores dominantes dessa altura, tanto na sociedade como na igreja. Uma sociedade em que não podíamos exprimir aquilo que verdadeiramente sentíamos e queríamos. Este facto fez com que eu, como seminarista fosse para França, da mesma forma que muitos outros jovens.

CAAcaba o seu curso em Paris, não é?

PR – Sim, terminei o meu curso, fiz o último ano de teologia e a universidade em Paris, mas iniciei tudo no Porto. Fui para França com os seminaristas. Nessa altura, cerca de 100 mil jovens, deixaram o país por razões financeiras, militares ou políticas.

De uma maneira ou de outra, aí de facto trabalhei em serviços de manutenção, depois liguei-me a um instituto religioso, os Filhos da Caridade, que estava muito próximo dos trabalhadores, de muitos padres operários, não eram todos operários, mas estavam em paróquias operárias, nos grandes arrabaldes de França e do mundo. Portanto, foi com os Filhos da Caridade que fui ordenado. Vivi em França e vim ser ordenado em Amarante, eu sou de Paredes, lá perto, fui ordenado pelo Bispo do Porto, mas através desta congregação religiosa.

CA – Voltemos então de novo a Paris, acha que existe alguma relação entre Maio de 68 e o 25 Abril de Portugal, podemos dizer que é uma revolta da população que está oprimida, e que defende a liberdade de expressão?

PR – Maio 68 e o 25 Abril são diferentes. Em Maio de 68, eu vivi como estudante, estava no Instituto Católico e assisti a toda aquela greve. Maio 68 foi essencialmente, a juventude procurar um estilo de sociedade em que houvesse muito mais criatividade, liberdade, em que as pessoas se organizassem, participassem verdadeiramente e não numa sociedade organizada para eles e onde eles tinham de entrar. Foi de facto um sonho do céu na terra, mas que depois se verificou que não era possível.

CA – Regressa a Portugal e de seguida vai para a América do Sul?

PR – Quando regressei a Portugal, éramos um grupo de padres ordenados e escolhemos uma zona onde houvesse muitos trabalhadores, que nos pareceu ser a zona mais interessante para se ser padre. A zona do Barreiro foi a selecionada.

Depois fui escolhido para animador deste instituto internacional, sou então convidado de novo por mais 5 anos, para animar um grupo de padres, que viviam em zonas operárias. Apoiá-los no sentido de encontrar uma vida mais digna nas cidades dos grandes arrabaldes do mundo. E é nessa altura que começo a visitar os países da América do Sul – México, Cuba, Colômbia, e América do Norte – Estados Unidos e Canadá. Tenho também uma ligação bastante interessante e importante com padres dos países ex-comunistas, principalmente da República Checa, da Hungria e da Polónia – onde os padres procuravam encontrar este estilo de vida simples.

A mudança principal foi encontrar esta espiritualidade que tanto tem a ver com os Filhos da Caridade, em que o padre deve ser um bom pastor e não um fulano autoritário que impõe a sua moral às pessoas, mas era uma pessoa próxima das pessoas.

CADepois da América do Sul, regressa ao Lavradio?

PR – Volto ao Lavradio e tenho responsabilidades a nível da formação no Instituto dos Filhos da Caridade. Em determinada altura, pedem-me para ir para a paróquia de Nossa Senhora do Rosário, e ao mesmo tempo pedem-me que seja o director espiritual dos seminaristas, no Seminário de Almada.

CA – Depois passa a ser responsável pelo Seminário. Um dado interessante é que dos 30 seminaristas, 23 foram ordenados padre. É uma experiência diferente, do que é estar num arrabalde do Brasil ou no México, a vida no seminário é diferente?

PR – Trata-se da formação humana, espiritual e pastoral, o resto da formação intelectual é na Universidade Católica. Fundamentalmente é um acompanhamento dos seminaristas, ajudando-os a consolidar as qualidades humanas que são necessárias para ser padre, assim como as qualidades espirituais.

CA – Na altura era muito falado, que o nosso Seminário de Almada tinha um número elevado de seminaristas, quando comparado com outros seminários do nosso país…

PR – Chegaram a estar 17 jovens no seminário, e ordenados em média cerca de 2 por ano.

Uma experiência muito rica, em que eu estava longe de ser o único. Era uma equipa de padres, só vivíamos 2 no seminário, mas havia muitos outros padres que ajudavam e colaboravam, recebiam seminaristas.

Foi uma boa experiência que eu vivi, sempre sem deixar a pastoral. Vivia no Seminário mas continuava a ser pároco adjunto do Lavradio, vinha cá nos fins-de-semana, mantive sempre uma relação pastoral.

CA – Em 2014 veio para paróquia de Santa Maria no Barreiro e onde está até hoje….

PR – Está a ser uma experiência muito rica. Eu aqui não sou diferente dos outros lugares onde estive. Eu sempre quis parecer que mais importante que fazer, era criar condições para que as pessoas fizessem. Se numa paróquia, num seminário ou num movimento, se sou eu a fazer tudo, faço sempre muito pouco, mas se criar condições para que outras pessoas façam, há muito mais trabalho e um trabalho muito mais interessante. E responde às necessidades das pessoas e também aos apelos do Espírito.

Aqui em Santa Maria, foi primeiramente encontrar toda uma experiência. Padres magníficos, Padre Graça e o Padre Sobral, e por tanto encontrar todo um trabalho feito, e inclusivamente uma logística e pessoas formadas. Também encontrei alguns problemas como é evidente, sobretudo o problema do colégio. Mas aquilo que de facto eu sinto, é que com todo este passado, que agradeço a Deus como é evidente, tenho vontade de dizer que, como disse o chefe de mesa nas Bodas de Caná: “afinal guardaste o melhor vinho para o fim”– porque realmente eu sinto-me bem aqui, sinto que é uma paróquia grande, bastante trabalhosa, mas em que as pessoas colaboram, correspondem, e os problemas vão-se ultrapassando. Sobretudo, vai aparecendo pessoas para participar. Como é que numa paróquia como esta há 5 grupos corais?!

CA – Um dos cânticos que vamos cantar no dia da celebração do seu Jubileu Sacerdotal, a música e o refrão são seus (a letra é do Frei Agostinho da Cruz) – temos aqui um padre poeta?

PR – Isto já vem de muito longe, já no tempo do seminário eu gostava muito de poesia, até ganhei alguns prémios…. Tive a graça de, no Seminário de Almada, consolidar esta relação que existe entre a arte e a religião, toda a gente vê que muita da grande música, escultura, arquitectura, está ligada à religião, porque realmente este domínio da poesia e da música é aquele que nos atira para o domínio do simbólico, não é técnica, é o significado profundo das coisas, esta ânsia de infinito e de perfeição.

CA – Pe. Rodrigo, uma coisa que aconteceu nos últimos anos, que as pessoas acham interessante e não deixa de ser “sui generis”, foi o facto de se aproximar de artistas. Falo de Teresa Salgueiro e de Rão Kyao. A relação que tem com estes dois artistas, que sabemos que irão cá estar nos dias 17 e 18 de Agosto, nas celebrações, porque acontece?

PR – Conheci a Teresa Salgueiro através do Rão Kyao. Eram pessoas que me marcavam, que eu dizia que gostava de conhecer. Rão Kyao, que ia à missa na paróquia da Parede, foi-me apresentado, e convidei-o para vir tocar no seminário. Depois disse-lhe que gostava de conhecer a Teresa Salgueiro, o que se veio a concretizar. Foi precisamente na altura em que a Teresa Salgueiro estava a construir a sua primeira grande obra que é O Mistério.

Tenho que reconhecer que eles me ajudam muito, quando preciso de descansar e encontrar alguma espiritualidade. Faz-me muito bem ouvir o Rão Kyao tocar, e assim como também, ouvir Teresa Salgueiro, porque realmente os poemas dela são um pórtico para o cristianismo magnífico. Pelo seminário, passaram ainda mais alguns artistas, como Mafalda Veiga e outros, que eu poderia ter apoiado, mas eu não podia fazer tudo, não é? –  e então dediquei-me mais a estes dois, propondo-lhes que cantassem e tocassem música litúrgica.

CA – Ambos irão estar presentes neste seu Jubileu aqui no Barreiro?

PR – Sim, a Teresa irá apresentar uma cantata, com cânticos litúrgicos, que ela já cantou ”uma centena de vezes”, em igrejas e catedrais. Com o seminário de Braga construiu esta cantata, com cânticos marianos e que vai cantar aqui. O primeiro deu origem aos Cânticos da Tarde e da Manhã.

Rão Kyao irá tocar na celebração e posteriormente na confraternização.

É uma amizade muito grande que tenho com eles. Procuro apoiá-los, porque sei que isso me faz muito bem a mim, faz algum bem a eles, às pessoas e ao povo de Deus.

CA- E planos para o futuro?

PR- Que através deste passado eu possa continuar a construir o futuro, que eu acredito que ainda está para a frente, porque realmente celebrar 50 anos de padre não é olhar para trás, é simplesmente dizer que Deus me ajude a continuar o meu caminho!

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02 de Agosto de 2018