Completaram-se, no passado dia 01 de novembro, 42 anos da assinatura do decreto de constituição da Cáritas Diocesana, por D. Manuel Martins, primeiro Bispo de Setúbal, cuja partida para o Céu, há mais de um ano, nos deixa muitas saudades, especialmente naqueles que O conheceram e com Ele conviveram.
Os pobres deste país também sentem a sua falta, a falta da sua voz, a sua forma de lutar pelos sem voz nem vez. Nós, os que ainda cá estamos, vamos procurar ser dignos continuadores da sua obra e da sua voz, ao nosso nível, é claro, com as nossas limitações e fraquezas. Do Céu que nos Ajude, na Terra os que acreditam rezem por nós, e os que podem nos ajudem para desse modo minimizar o sofrimento dos outros.
Esta Direção, com pouco mais de dois anos, com muitos desafios e preocupações, aceitou entrar no sonho lindo de ajudar os mais pobres.
Os desafios são muitos porque a empreitada é grande, sendo a segunda maior Cáritas Diocesana do país, com cerca de 150 trabalhadores e 1200 utentes, nas diferentes respostas sociais.
A sustenção dos postos de trabalho, num tempo difícil e num distrito onde há tantas dificuldades de emprego que leva muitos jovens e não só a procurar trabalho noutros distritos, é por si um fator de forte perturbação.
A procura da proximidade com os pobres, todos os pobres, em zonas pobres, faz com que a ação da Cáritas Diocesana de Setúbal seja mais desafiante, mas ao mesmo tempo mais difícil. A precariedade do trabalho e os baixos rendimentos das famílias criam dificuldades na gestão de uma instituição, que pela sua natureza e vocação, não pode nem deve esperar facilidades.
A procura do espaço geográfico da Diocese, por tantos imigrantes, à procura de paz, trabalho e vida digna, deixam-nos com mais amargura pela impotência, muitas vezes sentida, de querer e não conseguir dar a resposta que estas pessoas merecem e às quais têm direito.
O sentir que vivemos numa casa que é comum, que somos um povo de povos e uma cultura de culturas, que estes saberes se esquecem ou simplesmente se ignoram e dão lugar a indiferenças que no mínimo magoam, pela condição a que são votados tantas e tantos que vivem longe da família, não encontram condições dignas de vida e portanto não são respeitados na sua condição de filhas e filhos do mesmo Deus.
O trabalho da Cáritas, assim, torna-se mais penoso e a ansiedade por não encontrar respostas é ainda maior.
Se tivermos presente que vivemos num distrito em que nos últimos dez anos o investimento caiu, o desemprego aumentou, a retoma é tímida e a pobreza mantém-se; sabendo que há trabalhadores, que pelo facto de o serem não deixam de ser pobres; o desconforto de quem tem o dever de diariamente viver de perto e ouvir das dificuldades de tantas e tantos e não conseguir dar as respostas que devem ser dadas, é no mínimo grande…
A previsão de que aquele(a)s que são o(a)s mais pequenino(a)s, porque são doentes, não têm trabalho, não têm casa ou estão/podem estar prestes a perder a casa miserável em que vivem e a instituição não tem capacidade de os albergar ou de lhes permitir melhores condições de vida e com mais dignidade, é doloroso para quem gere, é doloroso para todo(a)s os que diariamente com eles convivem, os ouvem, os ajudam e procuram que a chama já ténue da Esperança não se apague.
Que sociedade, assim dita, é esta? Ignora os seus, Ignora os Pobres…
Temos consciência de que ninguém tem solução para os problemas todos, nem para todos os problemas, mas temos consciência também que muito mais pode ser feito…muitas vezes trata-se apenas de opções.
Aproxima-se o Natal, para uns tempo de fantasia e ilusão, para tantos tempo de dor.
Em nome da Cáritas Diocesana de Setúbal lanço o repto a todas as pessoas de boa vontade para que nos ajudem a fazer da vivência do Natal um tempo de Esperança para os Pobres; um tempo de Esperança para os Desempregados; um tempo de Esperança para os Abandonados; um Tempo de Esperança para os Presos; um tempo de Esperança para os Migrantes e Refugiados.
Aos trabalhadores, voluntários, dirigentes e fundadores, o meu bem-haja; para vós vão as minhas orações, pelos presentes e pelos que já partiram.
Um gesto que gratidão para os que em nós confiam e também para os que nos ajudam.
Eng.º Domingos de Sousa, Presidente da Cáritas Diocesana de Setúbal