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Santuário de Cristo Rei comemorou 60 anos: “Braços abertos à grandeza do amor”

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Quando foi inaugurado, pelo Cardeal Cerejeira, a 17 de maio de 1959, o Santuário de Cristo Rei estava situado no espaço geográfico do Patriarcado de Lisboa. Hoje, ao fazer 60 anos, o monumento ao Sagrado Coração de Jesus pertence à Diocese de Setúbal, mas continua a abraçar em permanência a capital portuguesa e a desafiar à construção de “um mundo de fraternidade, de justiça e de paz”, segundo o Bispo local, D. José Ornelas.

É o mundo que se junta nos braços do Pai. “O Cristo Rei abraça o mundo inteiro, na variedade das suas línguas e culturas, num projeto de paz que, desde a origem, está ligado à alma deste santuário”, lembrou o Bispo de Setúbal, na Eucaristia dos 60 anos do Santuário de Cristo Rei.

No alto do Pragal, em Almada, escutam-se as mais variadas línguas. Há pessoas de todas os continentes. Famílias inteiras, grupos em peregrinação ou simplesmente em turismo, mas também pessoas sozinhas, passeando, olhando, rezando. De máquina fotográfica (ou smartphone) em punho, todos parecem ficar deslumbrados com o monumento. Impressiona o tamanho. Mas também a beleza. Ou as várias belezas do santuário.

De um lado, o Cristo de 110 metros de altura, que é visível a 20 quilómetros de distância; do outro, o Rio Tejo e a cidade de Lisboa, com a sua luz que é considerada única. As selfies disparam. Ora para o monumento, ora para a cidade e a ponte que liga as duas margens. Há também aqueles que se ‘aventuram’ a subir o pedestal de 82 metros e ir lá acima. A ‘façanha’ é agora menos aventurosa, pois o velhinho elevador do Cristo Rei foi substituído, em 2017, por um moderno. Lá do alto, com uma vista panorâmica de 360 graus sobre as duas margens do Tejo, espera-os um Cristo de 28 metros de altura, de braços abertos, com uma distância entre mãos de 28 metros e com um coração de 1,89 metros, onde cabe toda a humanidade, segundo D. José Ornelas.

“A celebração dos 60 anos deste santuário lança-nos o desafio de Cristo, Rei e Senhor, morto e ressuscitado, que, de braços abertos, nos envia com o seu Espírito, a construir um mundo de fraternidade, de justiça e de paz, aberto à grandeza do amor e ao poder misericordioso de Deus. Que esta festa que nós celebramos hoje não seja simplesmente uma evocação do passado, mas seja sobretudo um apelo à misericórdia e à reconciliação e unidade, à comunhão da Igreja, mas um apelo também à universalidade da missão, aqui e em todo o mundo”, salientou o prelado, na homilia da Eucaristia dos 60 anos do Cristo Rei, celebrada no Pavilhão do Rosário, nos espaços do santuário, na tarde do passado dia 17 de maio.

Gratidão

A ideia de criar um santuário dedicado a Cristo Rei surge, pela primeira vez, em 1934, com a visita do então Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, ao Cristo Redentor do Corcovado, na cidade brasileira do Rio de Janeiro. A intenção reúne a aprovação de todos os Bispos portugueses e é oficialmente proclamada três anos depois, em 1937. Em abril de 1940, reunidos em Fátima, os Bispos fazem um voto para construir o santuário caso Portugal seja poupado da II Guerra Mundial. Como a participação portuguesa na guerra não chegou a acontecer, a campanha de angariação de fundos intensifica-se. Quase uma década depois, a 18 de dezembro de 1949, é lançada a primeira pedra da obra, que viria a custar 18 mil contos (90 mil euros).

“Este santuário surge em ligação com os dois conflitos mundiais, os mais destruidores da história humana, afirmando uma realeza, um poder e uma sociedade que recusam a violência e a guerra como caminho para construir o futuro. Que é capaz de assumir, com solidariedade radical, a negatividade humana, para infundir nela a semente e o fermento da fraternidade, da afirmação da dignidade de cada pessoa, da capacidade de aderir e construir um mundo de justiça e de paz, aberto à totalidade da vida em Deus”, afirmou o Bispo de Setúbal, na celebração do 60.º aniversário do monumento, que contou com a presença do Núncio Apostólico, D. Rino Passigato.

Os braços abertos de Cristo Rei

A inauguração do Santuário de Cristo Rei aconteceu a 17 de maio de 1959, perante a imagem de Nossa Senhora de Fátima, de todo o Episcopado nacional, dos cardeais do Rio de Janeiro e de Lourenço Marques (Moçambique), além das autoridades civis e de cerca de 300 mil pessoas.

“Este lindo santuário é expressão da fé de um povo, expressa pelos seus Bispos; fruto do espírito criativo de arquitetos, engenheiros e artistas; resultado do esforço devoto e generoso do povo simples, que se manifesta neste santuário simples e esguio, levantado para o céu e, ao mesmo tempo, abraçando o mundo, com os braços abertos de Cristo Rei”, referiu D. José Ornelas. “Celebrar a dedicação deste santuário a Cristo Rei significa evocar e tornar presente um ideal de vida humana, de sociedade e de fé, que animou aqueles que o idealizaram, projetaram e construíram”, acrescentou.

JMJ

Daqui a três anos, o Patriarcado de Lisboa vai receber jovens de todo o mundo para participarem na Jornada Mundial da Juventude, e o Santuário de Cristo Rei está pronto a acolhê-los, segundo garantiu o Bispo de Setúbal.

“Esperamos que este desígnio universal de reconciliação, fraternidade e paz possa exprimir-se e consolidar-se na alma dos jovens de todo o mundo, que para aqui hão de afluir nas Jornadas Mundiais da Juventude, em 2022. Que à sombra dos braços do Cristo-Rei, que abraça e abençoa o local onde estes eventos vão ter lugar, que se crie uma inspiração de abertura, particularmente para os mais indefesos, para os mais frágeis, para aqueles que buscam uma vida melhor”, frisou D. José Ornelas, na festa dos 60 anos do monumento que, diariamente, abraça e abençoa a cidade de Lisboa.


Entrevista ao reitor do Santuário de Cristo Rei, padre Sezinando Alberto

“Deus, de braços abertos, a todos acolhe”

O reitor do Santuário de Cristo Rei lembra que a mensagem do monumento é relacionada com o desejo de Deus de “conquistar para si todos os homens”. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Sezinando Alberto refere que o 60.º aniversário do Cristo Rei reafirma “a importância” e “o valor” do santuário e “da sua espiritualidade”.

Que santuário é este?

Este santuário marca uma época histórica de Portugal, em dois momentos. Por um lado, ele nasce da afirmação do povo português perante o mundo que se afastava de Deus através dos regimes totalitários. Quando, em 1937, os Bispos aprovam o projeto do Cardeal Cerejeira – que, como homem inteligente que era, sabia que era impossível ser ele próprio a levar isto por diante e conseguiu galvanizar o Episcopado português –, a ideia principal era do sagrado e do apelo à militância católica. O segundo momento é a viragem, porque, com a guerra, os Bispos prometem e fazem um voto ‘secreto’, junto à imagem de Nossa Senhora de Fátima, de que se Portugal não entrasse na guerra fariam este monumento ao Coração de Jesus, como sinal da gratidão nacional pelo dom da paz. Sendo um santuário dedicado ao Coração de Jesus e a Cristo Rei – porque as duas espiritualidades estão ligadas –, podemos dizer que a grande mensagem é esta: Deus, através do coração, através do amor, quer conquistar para si todos os homens. De braços abertos, a todos acolhe.

Que significado têm estes 60 anos da inauguração do monumento?

Estes 60 anos reafirmam a importância e o valor do próprio monumento, do próprio santuário e da sua espiritualidade. Recorda, por um lado, aos católicos de Portugal que este santuário marca a fé dos nossos antepassados, num contexto difícil de pobreza. Por isso, é para nós um alento, neste contexto adverso à fé, de várias ordens, e convida a sermos militantes de Jesus Cristo, que se apaixona pelos homens e que tem de ser testemunhado e vivido. Por outro lado, também diz ao país não tão crente que este santuário é um local a visitar, porque através dele podem interrogar os próprios valores da fé.

As paróquias do Patriarcado de Lisboa costumam peregrinar ao Santuário de Cristo Rei?

São muitas as paróquias de Lisboa que veem ao santuário, e não só em peregrinação. No edifício de acolhimento, há muitas paróquias que cá veem, sobretudo através de grupos de jovens, que fazem no Cristo Rei os seus retiros e as suas formações. Recebemos muitos grupos de Lisboa que procuram o santuário com esse objetivo da formação.

Nos últimos anos, o santuário tem recebido em média cerca de 1 milhão de pessoas. É um bom número?

Desde 2009 que tem subido sempre o número de visitantes. Quando aqui cheguei, a 1 de janeiro de 2003, a média que se fazia, e que estava escrita, é que cerca de um terço das pessoas que vinham ao santuário subia lá acima. Eram, portanto, cerca de 110 mil pessoas. Atualmente, já passa das 300 mil as que sobem ao Cristo Rei. Durante a semana, o santuário tem muita gente, mas ao fim-de-semana está cheio. As pessoas vão à capela, em passeio, vão ao espaço das merendas e sobem o elevador. Claro que temos épocas altas e épocas baixas, mas atualmente a nossa época baixa é igual à época alta de quando nós chegámos, há 17 anos. Trabalhamos para que o Santuário de Cristo Rei se afirme.

Texto: Diogo Paiva Brandão, Jornal Voz da Verdade
Fotos: Isaurinda Pires

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28 de Maio de 2019