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Ordenação dos Diáconos Cláudio Rodrigues e Gilson Garcia: Homilia de D. José Ornelas

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Homilia de D. José Ornelas na Ordenação dos Diáconos Cláudio Rodrigues e Gilson Garcia (2019)

Queridos filhos Cláudio e Gilson – deixai que vos trate assim, não apenas como manifestação de afeto pessoal, mas também como expressão daquilo que a Mãe Igreja, guiada pelo Espírito, hoje sente por vós. Acabastes de ser apresentados pela comunidade para serdes ordenados Diáconos. Pela voz do Bispo, fostes escolhidos para este ministério, para vos tornardes “servos” de Deus, na Igreja.

Considerai, antes de mais, e conservai na mente e no coração este chamamento que a Mãe Igreja vos dirige em nome de Deus. É um sinal de eleição e de preferência do Bom Pastor, que vos associa ao seu serviço em favor da Igreja e ao anúncio do Evangelho no mundo. Deus escolhe-vos como escolheu Maria, porque vos ama e pensou em vós “antes da criação do mundo”, como diz São Paulo aos Efésios (Ef 1,4). E não só vos escolheu, mas também, como a Maria, vos cumulou da sua graça, isto é, do seu Espírito, para serdes seus filhos, pelo batismo. E agora, concede-vos, no mesmo Espírito, o dom de servirdes a sua Igreja e de anunciardes o seu Evangelho aos de fora.

Meditai neste dom e nesta eleição à luz do caminho que fizestes até aqui, guiados pela atitude de Maria, Mãe e modelo da Igreja. Como ela, lembrai-vos da descoberta do chamamento de Deus e da resposta que começastes a dar-lhe a partir do vosso coração, já desde vários anos. Reconhecei a voz que Deus que vos chegou através de tantos seus enviados (anjos), na vossa família, na Igreja, na comunidade cristã, na catequese, no percurso vocacional. Mantende o coração à escuta da Palavra que o Senhor vos dirigiu e continuará a dirigir e vivei em ação de graças, reconhecendo, com a alegria, que tudo o que realizais é fruto do Espírito que, hoje, é gratuitamente derramado sobre vós. Sede servos humildes e felizes, porque o Senhor poderá sempre realizar coisas grandes através do vosso modo de viver, de servir, de anunciar.

Recordai o caminho de preparação para o ministério eclesial e a vida em comunidade – o Cláudio, no Seminário Diocesano e o Gilson na comunidade da Aliança da Misericórdia. O chamamento de Deus conduz sempre a uma comunidade, à Igreja. Foram anos de experiência da fraternidade nascida no seguimento de Cristo, no amor e no serviço entre irmãos. Tende sempre como coluna do vosso ministério, a comunhão da Igreja, a união entre os que estão ao serviço do Evangelho e a caridade fraterna. Deixai-vos inspirar pela família de Nazaré, como ícone da Família Igreja, reunida à volta de Cristo. Não esqueçais também o afeto da família em que nascestes, de modo que ela vos faça descobrir e promover o amor na Família eclesial da qual estareis ao serviço.

Tende presente o percurso de formação humana, bíblica e teológica que tendes percorrido, como aprofundamento da fé e da missão. Nunca deixeis de avivar, atualizar e aprofundar essa linfa da compreensão e do anúncio da Palavra de Deus e da fé. Não deixeis envelhecer o Espírito que hoje recebestes e sempre vos iluminará para um vivo entendimento da fé e para o seu credível anúncio ao povo de Deus e àqueles que não creem. Sede como Maria que buscava a inteligência da fé à luz da Palavra de Deus, da observação dos passos do seu filho Jesus e dos acontecimentos que iam revelando os passos do Verbo conservando e “meditando tudo no seu coração” (Lc 2,19.51).

Recordai também os últimos passos do percurso, a que a Igreja vos convidou, instituindo-vos nos ministérios de leitores e de acólitos. Essas não são etapas provisórias, ultrapassadas pelo sacramento da Ordem, que ides receber no primeiro grau. São dimensões essenciais e necessárias para o serviço a que sois chamados. Proclamar a Palavra de Deus e estar ao serviço da comunidade na Eucaristia, bem como dos outros sacramentos a que presidireis, como colaboradores dos presbíteros e do Bispo, estarão no centro do ministério que ides iniciar na Igreja. Preparai, pois, com cuidado e vivei com dignidade estas celebrações, de modo que a comunidade que delas beneficia possa ser edificada pelo serviço litúrgico.

Mas não reduzais, o vosso serviço simplesmente às celebrações litúrgicas, ou, pior ainda, a uma projeção pessoal ou a um fechamento dentro dos muros das nossas igrejas. Sede, sim, na Igreja e em toda a parte, homens que se alimentam da Palavra e da comunhão Eucarística, meditando, adorando, transformando-se e anunciando o amor de Deus, na comunidade e para fora dela. Lembrai-vos que, unidos aos apóstolos, os diáconos foram servos das mesas da solidariedade e atenção aos necessitados, e da mesa onde Jesus parte o pão para os seus discípulos. Mas foram também as primeiras testemunhas (mártires) do Evangelho, como Estêvão, e desbravadores de novos caminhos de evangelização e missão, como Filipe (cf. At 7-8). Alimentai-vos, pois, na Palavra e na Eucaristia e ajudai a Igreja a viver destas fontes de vida, sendo sempre promotores da caridade e do anúncio do Evangelho, que faça crescer a comunidade, através deste e dos outros sacramentos a que haveis de presidir, especialmente o batismo e o matrimónio.

Imitai, em toda essa ação, os sentimentos do apóstolo Paulo: “O amor de Cristo nos impele… pois foi Deus quem reconciliou o mundo consigo, em Cristo, não imputando aos homens os seus pecados, e pondo em nós a palavra da reconciliação” (2Co 5,14.19). Assumi a atitude de Maria, nossa Mãe, modelo e Padroeira que, tendo acolhido o chamamento de Deus, se apressou a pôr-se a caminho para levar Jesus que acolhera no seu ventre, à sua prima Isabel (cf. Lc 1,39-45). Assim, ela começa a pôr em prática a atitude que o Espírito forja no seu coração e que ela exprime na resposta ao anjo: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Esta disponibilidade de serviço é decalcada na idêntica atitude de Jesus que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela multidão” (Mc 10,45). Servos diante de Deus na escuta e na obediência ao seu projeto de salvação; servos na Igreja e no mundo, no dom de si próprio, para gerar um mundo novo; servos que, sentem a fome e a sede de vida da multidão e repartem o pão da vida, da solidariedade e da esperança… Servos/Diáconos, eis a vossa missão; eis a missão a que Deus vos chama e para a qual vos dá o seu Espírito.

Hoje, a atitude de serviço de Jesus e de sua Mãe, a urgência interior do coração dela para se pôr a caminho; a premência do amor de Cristo, que sente Paulo para anunciar o Evangelho; o testemunho e a audácia missionária dos primeiros diáconos; devem tomar conta do vosso coração, da vossa inteligência e da vossa vontade, para estardes ao serviço do Evangelho, como diáconos missionários, isto é, como servos, para continuar, com  vossa vida e o vosso ministério, a missão de Cristo, na Igreja e no mundo.

É com este propósito que convido toda a comunidade a unir-se a vós, na invocação do Espírito Santo, o dom do Pai, para que Ele vos santifique e consagre para o serviço da Igreja e para o anúncio ao mundo do Evangelho do Senhor Jesus.

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08 de Dezembro de 2019