comprehensive-camels

Eutanásia: democracia, liberdade, totalitarismo e morte

20200220-vela-eutanasia

Opinião do padre e médico João Luís Ferreira, capelão do Centro Hospitalar Barreiro-Montijo.

Do que aprendi e recordo, os Gregos foram os que melhor pensaram a Democracia e, para a defenderem, os que melhor e mais a criticaram.

Para que a população de uma cidade construísse o seu viver sobre os alicerces firmes da verdade, a fim de experimentarem frutos de paz e de justiça no seu mútuo relacionamento, determinaram-se a procurar unidos o bem comum. Eles levaram a sério a capacidade da razão humana procurar a verdade, o real da realidade. Eles compreendiam que o bem pessoal mais excelente é o bem comum. Neles tinha amadurecido a inteira consciência de que os maiores inimigos da família humana, da cidade, eram: a ignorância da verdade e, o mais perigoso, não ver o erro e tomá-lo por verdade.

Daí que estabeleceram que na Assembleia todos se ouviriam mutuamente. As maiorias teriam o maior cuidado de escutar as minorias. O «poder» da maioria poderia ser o seu maior inimigo. O reforço mútuo da convergência no que afirmavam, mais os distrairia e impediria de procurar entender, escutar, o que a minoria dissesse. Eles guardavam a memória da experiência de que muitas vezes o «poder» tomava decisões contra o bem comum da cidade. Não podiam perder a admirável experiência de que por vezes era um único, e por vezes o mais novo, aquele que pela sua sabedoria livrava a Assembleia de tomar uma decisão errada.

O fruto do erro é o mal. O fruto da verdade é o bem.

Nos nossos dias dizemos que seguimos o caminho democrático, mas são poucos os que verdadeiramente defendem a democracia. O que todos os dias vemos fazer é a maioria não querer ouvir a minoria e querer mesmo fazê-la calar. Chegámos ao ponto de, diante do inocente, não o recebermos como um bem, e decidirmos, pela contagem das «armas», se é ou não legítimo dar-lhe a morte e quanto deve ser dado a quem o matar!

Ao desprezar a verdade desprezamos a liberdade.

Por quanto mais tempo a verdade for desprezada, mais frutos de injustiça experimentará a cidade. Não reconhecendo o erro, não encontrará o remédio. Tomarão medidas erradas para corrigir erros e, ao final, os frutos de injustiça serão ainda maiores e mais inesperados. Se semeio trigo esperando colher milho, aproximando-se o tempo da colheita não encontrarei milho, mas antes trigo. Encher-me-ei de incompreensão?!…

O maior sofrimento que vai no mundo e, portanto, o maior sofrimento dos doentes, não é o do seu próprio corpo doente.

O maior sofrimento que vai no mundo é não ver a verdade mas a mentira; não ver a justiça mas a injustiça; não ver a atenção e o cuidado mas a violência da força e do «poder».

Esse é o maior sofrimento dos doentes, a somar-se ao sofrimento que lhe causa a própria doença.

Porém, a humanidade só não encontra remédio para o sofrimento e para a morte porque, orgulhosa do seu «saber» e «poder», se recusa a escutar Jesus. (Também devido ao mau exemplo de muitos que dizendo-se d’Ele, igualmente O não querem escutar).

Defender que um homem manifesta a sua liberdade ao pedir que lhe dêem a morte, antes que continuar doente, é a máxima e inacreditável hipocrisia.

Defender que a quem me pede a morte, porque está doente, eu lha devo dar, é multiplicar a morte e o sofrimento: a morte escondera ao doente a esperança de vida, escondera ao doente o conforto da compaixão de quem o assistia e condenara este último à morte, porque matava o seu irmão.

Sim à vida. Sim a Cristo.

Padre João Luís Ferreira

Partilhe nas redes sociais!
20 de Fevereiro de 2020