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Igreja em Rede: Segunda-feira da III Semana da Quaresma – “Nenhum profeta é bem recebido na sua terra.” (Lc 4, 24-30)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de segunda-feira da III Semana da Quaresma

Comentário do padre José Lobato, Vigário Geral da Diocese.

Na primeira leitura (2 Reis, 5, 1-15), Naaman, general dos exércitos do rei da Síria em meados do século IX antes de Cristo, era vítima de uma doença degradante e mortal. Jesus irá encontrar-se por diversas vezes com leprosos. A lepra tem na Bíblia um significado muito especial. O leproso era como um condenado à morte, um morto-vivo e um marginalizado. A cura dos leprosos significa simultaneamente vida/ressurreição e reintegração na comunidade.

Naaman, para além de leproso, era um estrangeiro. Para os hebreus, um inimigo. E, no entanto, foi curado pelo profeta Eliseu, sem a pompa e circunstância devidas a um general, apenas com sete banhos num pequeno rio. Este é o modo de agir de Deus: sem alarde nem aceção de pessoas. A salvação representada nesta cura é para todos.

Na liturgia de hoje o aspeto a sublinhar neste texto é o da água que limpou a pele e a alma deste estrangeiro emproado, que acabou por reconhecer o Deus do humilde povo de Israel como “único Deus em toda a Terra”.

A Quaresma, tempo original e essencialmente batismal, oferece-nos hoje esta cura/conversão de Naaman como memória e explicação do batismo cristão: a água batismal cura-nos da terrível doença do pecado e dos seus dois principais efeitos: a degradação da nossa dignidade de filhos de Deus e a separação da comunidade/Igreja. Pelo batismo, que se renova no sacramento da reconciliação, o nosso coração é purificado e somos acolhidos na casa do Pai, com a alegria festiva do regresso do filho pródigo.

O Evangelho de hoje (Lucas 4, 24-30) leva-nos a Nazaré, a aldeia em que Jesus viveu desde a infância até iniciar a sua missão. Esta começara no Jordão, em companhia de João Batista. Depois, Jesus atravessara o deserto das tentações decidido a cumprir com inteira fidelidade a missão que o Pai lhe confiara. De novo em Nazaré, na sinagoga, toma a palavra. Lê Isaías e fala da sua missão à luz das palavras do grande profeta que vai oferecer a interpretação de todo o percurso de Jesus, particularmente a sua paixão e morte. Os ouvintes estavam a gostar de ouvir Jesus, mas não gostaram de O ouvir afirmar-se “profeta mal recebido na sua própria terra”, citando alguns exemplos, nomeadamente o de Naaman curado pelo profeta Eliseu que lemos na 1ª leitura de hoje. Lançaram-se contra Jesus e, por pouco, não o matavam. Como pôde acontecer tal mudança de humor e tão repentino ódio? Jesus sabia que muitas outras vezes iria experimentar idêntica reação, Jesus e todos os que têm sido e continuam a ser vítimas de preconceitos religiosos, culturais, nacionalistas e outros, que impedem ou dificultam o acolhimento da novidade de Deus. No entanto, tantos como a viúva de Sarepta e o sírio Naaman, estrangeiros e pagãos, acolhem a salvação, que os seus primeiros destinatários recusam.

Padre José Lobato

 

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16 de Março de 2020