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Igreja em Rede: Quarta-feira da III Semana da Quaresma – “Será grande quem praticar e ensinar os mandamentos” (Mt 5, 17-19)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de quarta-feira da III Semana da Quaresma

Comentário do padre Nuno Pacheco, SCJ, Pároco de São Lourenço de Alhos Vedros e Santo André do Barreiro.

A liturgia deste dia coloca diante de nós um tema que nos estrutura enquanto pessoas e enquanto povo: a lei. Uma visão demasiado pessimista e redutora leva a olhar para ela como algo que nos oprime, que escraviza, que impede a humanidade de ser totalmente livre. O «super-homem» dos nossos dias, que quer fazer de si o centro de todas as coisas e viver a busca de infinito sem qualquer obstáculo aos seus desejos e caprichos, não aceita que lhe seja imposto limites de qualquer ordem. Quem pense desse modo, talvez se sinta chocado ao escutar Jesus no Evangelho de hoje dizer que não veio abolir a lei, mas levá-la até ao seu cumprimento pleno (v. 17). Qual é então o papel da lei no contexto das leituras que a liturgia de hoje nos propõe como alimento espiritual?

A primeira leitura oferece-nos o livro do Deuteronómio para reflexão. Nas páginas imediatamente anteriores, Moisés apelava à memória do povo de Israel para que recordasse a sua história e chegasse à conclusão de que Deus sempre permaneceu fiel, mesmo nos momentos mais sombrios da sua caminhada. Moisés apelava então à fidelidade do povo como resposta ao amor de Deus: da fidelidade à lei nasceu um estilo de vida que caracterizará todo o povo, fazendo com que Israel fosse conhecido diante de todos os povos como possuidor de uma enorme sabedoria, como povo que soube reconhecer com gratidão todos os dons que recebeu de Deus.  Aprendemos, então, que não se trata de cumprir a lei pela lei, mas de a viver, de modo a sermos mais perfeitos.

No Evangelho segundo S. Mateus, Jesus é apresentado como o novo «Moisés» que a todos entrega a Nova Lei: as bem-aventuranças. No Antigo Testamento, Moisés subiu ao monte e, ao descer, com o rosto iluminado, entregou a lei ao povo. No sermão da montanha Jesus deixou bem claro qual devia ser o modo de agir dos seus discípulos e como queria que eles se apresentassem no mundo. Nas bem-aventuranças podemos ver espelhados os dez mandamentos, o que nos faz confirmar que Jesus de facto não veio para os abolir, mas para nos mostrar a todos como devemos pô-los em prática. Nestes tempos de confusão que são os nossos, faz-nos bem recuperar estes ensinamentos de Jesus mas, sobretudo, muito mais necessário pô-los em prática.

Nestes tempos conturbados da nossa história em que nos encontramos num certo isolamento social, devido à nova epidemia que se alastra pelo nosso país e pelo mundo, somos desafiados a obedecer às leis e recomendações que nos chegam diariamente, quer das autoridades civis, quer da autoridade eclesiástica, de forma a conseguirmos, todos juntos, por fim à onda de contágio que não para de aumentar.  Não podemos encarar estas recomendações e leis como simples proibições, mas como resposta de amor a Deus e ao próximo. É a pessoa e a sua salvação que mais importa para a Igreja e isso surge bem explícito no Código de Direito Canónico, no seu último cânone (1752) que nos convida a ter presente «sempre diante dos olhos a salvação das almas, que deve ser sempre a lei suprema na Igreja». Talvez isso nos ajude a compreender melhor a intenção presente nas últimas recomendações dos nossos bispos, nos cuidados que devemos ter no combate a este novo vírus.

Que Maria, a mulher da escuta e da obediência, faça despertar dentro de nós a capacidade de escutar e acolher as leis do Senhor como caminho de purificação interior e de vida plena.

Padre Nuno Pacheco, SCJ, Pároco de São Lourenço de Alhos Vedros e Santo André do Barreiro

 

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18 de Março de 2020