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“D. Bosco agora”: opinião de Bruno Leite

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Quando começou o ano 2020 ninguém podia crer que nos dias de hoje estaríamos confinados aos limites da nossa casa. Não porque estamos presos, não porque nos tiraram a liberdade, mas porque é necessário para travar uma pandemia (já sabem na qual estou a falar). Em apenas alguns dias tivemos que adaptar rotinas, e muitas são as estratégias que nos chegam para levarmos os dias normalmente. Temos acompanhado as medidas recomendadas pelas entidades competentes, e a forma de lidar com este momento delicado.

Mas será que S. João Bosco nos pode ajudar nestes tempos? Neste, e em todos os momentos da vida, o Pai e Mestre da Juventude viveu um acontecimento exemplar que podemos recordar.

Viajemos até julho de 1854, em Turim, quando a cidade foi atingida pela cólera. O epicentro da doença foi o bairro do Dora, a poucos metros de Valdocco. Num só um mês morreram cerca de 500 pessoas.

Como foi espectável, D. Bosco não ficou indiferente a este tempo de crise.

Dirigindo-se aos seus rapazes, o Santo prometeu a todos que, se estivessem na Graça de Deus, não cometessem nenhum pecado e confiassem em Maria Auxiliadora, a cólera não os atingiria. E, assim, atendendo ao apelo das entidades responsáveis da localidade no pedido de ajuda, D. Bosco e os seus rapazes, com as devidas precauções da época, saíram às ruas para auxiliarem os doentes. Segundo relatos deixados naquela época, foram dias de trabalho duro e nada agradáveis. A mãe Margarida também estava ao serviço, providenciando todas as condições no Oratório. Em pouco tempo tudo passou. A cólera foi erradicada de Turim, e os rapazes de D. Bosco voltaram ao ritmo normal da escola, com as aulas e as brincadeiras. Nenhum, mesmo nenhum dos jovens adoeceu. Nossa Senhora foi a protetora.

O que podemos aprender com este relato da vida de D. Bosco, sobre um tema que é real nos dias que se vivem?

Destaco três pontos:

Oração: D. Bosco começou por pôr “mãos à obra” com os seus jovens, com oração e com a confiança de que iria ficar tudo bem. Dar graças e confiar a Deus e pedir proteção a Maria Auxiliadora pela saúde de todos parece ter sido o segredo. Nesta altura em que nos seriam propostos vários momentos de crescimento espiritual interior, como retiros, o encontro da Páscoa Jovem, etc., e que ficaram sem efeito, ajudando também na caminhada até à Páscoa, aproveitemos também para fazer esse caminho. De forma diferente, é certo. Mas este período de Quaresma seja também forma de nos ajudar a vivenciar estes dias.

Prevenção: D. Bosco e os seus jovens foram para a rua. Foram até junto dos doentes, mas primeiro preveniram-se. Naquela época D. Bosco respeitou as autoridades competentes e protegeu os seus jovens e a ele próprio com as medidas de proteção que havia naqueles tempos. Por isso, nos dias de hoje, com toda a informação que nos chega fica mais simples. Ficar em casa ou lavar as mãos são os pedidos simples de todos os dias, continuemos nessa atitude de prevenção. E fica também a sugestão de estar atento àqueles com quem vivemos e aconselhá-los, com caridade, para terem os melhores procedimentos.

Serviço: Relatos desses dias referem que os rapazes mais velhos saíram com D. Bosco. Ou seja, nem todos os jovens foram ajudar, pois não estavam em condições para o fazer. É nesse sentido que os jovens de hoje, com condições para isso, são convidados a ajudar. Muitos são os voluntários que se estão a organizar para ajudar. Os familiares e vizinhos mais idosos, e os “sem abrigo”, são neste momento mais vulneráveis e que mais precisam da ajuda daqueles que correm menos riscos. Está na hora do serviço, com as devidas precauções. Não se trata de sair para a rua sem mais nem menos. Mas a atitude ativa de contactar essas pessoas para saber se se encontram bem ou precisam de alguma coisa pode ser um sinal de serviço. Mesmo estando de quarentena obrigatória podes servir com a ajuda desde casa, contactando telefonicamente ou online com quem está mais só.

Os tempos são estranhos. Mas somos convidados a vivê-los. São uma nova oportunidade para que as nossas vidas tenham sentido. Não entremos em desânimo, entremos em Oração! É-nos pedido um distanciamento social para prevenção, para não haver propagação de um vírus que não se vê, mas que vemos o efeito, com dor e morte. O Amor, através do Espírito Santo, também nunca se vê com os olhos, mas mais do que nunca, sentimo-lo e “vemos” o seu efeito. Unidos no Amor, juntos e a construir pontes neste período das nossas vidas.

Bruno Leite, colaborador da Pastoral dos Salesianos e membro do Departamento da Juventude de Setúbal

©Salesianos

Foto: Salesianos

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26 de Março de 2020