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Dia Mundial da Juventude: “Partilha-te”- Entrega o que és e os dons que tens

Dia Mundial da Juventude 2020: Mensagem da Coordenadora do Departamento da Juventude da Diocese de Setúbal, Ana Lúcia Agostinho

Jovem, Eu te digo: Levanta-te! (cf. Lc 7, 14) – Este foi o tema lançado pelo Santo Padre para a Jornada Mundial da Juventude, que hoje celebramos. À primeira vista, pode parecer desatualizado. Ou, pelo menos, descontextualizado do panorama que a humanidade enfrenta por estes dias.

O mundo grita, num apelo imperativo: “Fica em casa! Protege-te e protege os outros.” Contrapondo a este “fica” as palavras que o Papa dirige aos jovens convidam a sair: “Levanta-te!”, “Não olhes a vida da varanda” (JMJ 2013), “Não fiques no sofá, sê protagonista da História” (JMJ 2016).

Na verdade, estas palavras, certamente inspiradas pelo Espírito, não podiam estar mais atuais e são de facto para ti, para mim, para todos nós. Ficamos em casa, é certo. Mas não acomodados. Não fechados em nós mesmos, nos nossos medos e preocupações. Nem tão pouco trancamos no armário os nossos sonhos e o desejo de ir ao encontro do outro. Continua a ser tempo de sair! Um sair, porém, que se traduz em gestos reinventados.

Vemos nas notícias, nas redes sociais e um pouco por todo o lado, inúmeros exemplos de vizinhos que, apesar da distância, se tornam mais próximos do que nunca, de artistas que exibem a sua arte para uma plateia maior do que as grandes salas do nosso país, de uma humanidade inteira que dá as mãos sem se tocar. Baixam-se as armas de muitas batalhas e conflitos para lutarmos todos juntos por um bem maior: a Vida, este tesouro precioso que de Deus recebemos (e que talvez andasse esquecido).

Este é um tempo onde se torna particularmente visível que todos temos um papel principal e fundamental na História. Ninguém se pode demitir deste protagonismo. Seja de casa ou da linha da frente desta batalha, nos hospitais e nos inúmeros serviços dos quais dependemos, cada um tem a cumprir a sua parte. Somos protagonistas que sabem, como nos diz o Papa Francisco, que ninguém se salva sozinho, que partilhamos todos o mesmo barco (Homilia da Adoração do Santíssimo e Bênção Urbi et Orbi, março de 2020). Somos protagonistas conscientes que, aos olhos de Deus, pouco importa se fazemos grandes ou pequenas coisas, pois tudo é grande se feito por amor. Somos protagonistas como aquele jovem que se encontrava no meio da multidão (cf Jo 6, 1-13), que entrega o que é e disponibiliza o que tem – 5 pães e 2 peixes – na certeza de que com eles o Senhor atenderá às necessidades do Seu Povo.

Neste triénio que a nossa Diocese dedica à Juventude, a palavra “partilha” assume um especial destaque. Uma vez mais, pode parecer um contrassenso, quando estamos impedidos de partilhar objetos, espaços, percursos. Mas ao verbo, junta-se o pronome: “Partilha-te”. Entrega o que és e os dons que tens. O que és e o que tens, quando entregue por amor, não se confina ao metro quadrado limitado que ocupas, mas expande-se através do espaço e do tempo, podendo chegar aos recantos mais escondidos.

Não deixa de ser curioso! Este tema do triénio, inspirado nas redes sociais, onde os jovens sempre passaram grande parte do seu tempo, ganha um especial relevo nos dias que correm, onde os meios virtuais se revelam espaços privilegiados de encontro e de partilha. Os ecrãs tornam-se veículos que, se bem utilizados, podem levar ainda mais longe, a mais gente e tão apressadamente como Maria (cf. Lc 1, 39), o que de bom temos a entregar.

Contudo, seja virtualmente, ou na realidade concreta do dia a dia, mantenhamo-nos sempre abertos a esta atitude de partilha. Com ela, abrem-se baús, desvendam-se novos talentos, descobrimos que para responder às necessidades do outro, podemos ser mais do que aquilo que de nós conhecíamos: padeiros, artesãos, professores, cabeleireiros, fisioterapeutas, artistas, até operadores de câmara. Reinventamos caminhos e formas criativas de ir ao encontro sem sair, de tocar sem usar as mãos. Pois este é um tempo onde somos convidados a uma nova e renovada forma de encontro, com os outros, com Deus e até connosco próprios.

Também a Igreja se reinventa de forma a manter-se aberta e a continuar a sua missão de ir ao encontro de todos, ainda que de portas fechadas. Há missas em direto nas redes sociais, propostas de itinerários espirituais, reza-se o terço e a Via Sacra no Facebook, os fiéis encontram-se para orar em videoconferência, as instituições sociais continuam a trabalhar para fazer chegar aos mais fragilizados tudo aquilo de que necessitam. Claro, que os desafios são muitos e vários. Mas a Igreja não está concluída. Como em todo o lugar da História, está continuamente em construção e conta contigo, comigo e com todos, suas pedras vivas, para completar e perseverar na sua edificação.

“Senhor, que queres que eu faça?” – é a pergunta que deve conduzir sempre os nossos passos. É nesta atitude de constante discernimento que o Senhor nos vai falando e revelando como nos podemos continuar a levantar e partilhar, mesmo que estejamos cercados de sofrimento, de dor e de medo. Mantenham-nos sempre unidos a Ele, que é a nossa força e a nossa esperança!

Ao iniciar a Semana Santa, que este ano é marcada por um outro ritmo e sabor, somos convidados a isso mesmo: a manter o olhar fixo em Jesus, aprendendo d’Ele a viver esta via dolorosa alicerçada no Amor, na entrega e na partilha generosa da própria vida por tantos desconhecidos (como rezávamos na Via Sacra Jovem, deste ano). Sempre com a esperança da Ressurreição, na certeza de que não estamos sós e de que a luz sempre vencerá as trevas.

Recebamos esta Luz que nos vem da Ressurreição do Senhor e sejamos sempre candeias acesas, sinais de esperança no meio do mundo.

E digamos incessantemente com Jesus e em Jesus: “Jovem, Levanta-te. E Partilha-te!

Ana Lúcia Agostinho, Coordenadora do Departamento da Juventude da Diocese de Setúbal

 

 

Dia Mundial da Juventude: «Jovem, Eu te digo, levanta-te! » (cf. Lc 7, 14):

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05 de Abril de 2020