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Igreja em Rede: Quarta-feira da Semana Santa – “O Filho do homem vai partir, como está escrito. Mas ai daquele por quem vai ser entregue!” (Mt 26, 14-25)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Quarta-feira da Semana Santa

Comentário do Padre Carlos, Reitor do Santuário de Cristo Rei e Vice-Reitor do Seminário de Almada

Jesus celebrou a sua última Páscoa no meio de um grande drama, o mesmo que tantas vezes assola a nossa vida: a presença do mal que nos chega em chave familiar… A ceia parece ter sido corrompida pela presença do traidor que o havia vendido pelo irrisório preço de um escravo. Este encontro de Jesus com os seus discípulos desenrola-se em ambiente de deslealdade e de mentira que conduzem à morte! A lembrança dos grandes feitos de Jesus foi obscurecida pela perversidade de um só coração…

Os laços que unem os discípulos com o Mestre parecem frágeis. Parecem tecidos de aparência; o anúncio da próxima traição, e a maldição prevista para quem perpetrasse esta maldade contra Jesus, foram chocantes. Uma terrível suspeita pairou sobre todos. Quando Jesus desvendou o mistério e denunciou Judas, um clima de revolta deve ter tomado conta dos seus discípulos. A convivência com o seu “amigo” traidor parece insuportável.

Mas Jesus cumpria assim a sua obra maior rumo à Páscoa definitiva, exatamente no ponto em que estava confrontado com aquela ‘inimaginável’ traição; no fundo, via-se confrontado com o abandono dos seus ‘amigos’. Descobriu em nós a inimizade ‘escondida’ nas intenções do coração, para nos abrir a possibilidade de uma amizade sem disfarces, face a face: a nossa miséria, e a sua Misericórdia.

A partir deste encontro, jamais o amor pode ser encarado com aquela naturalidade com que nos olhamos casualmente. Em cada um dos rostos dos discípulos, de Pedro a Judas, reconhecemo-nos traidores de um amor divino, ao mesmo tempo que suplicamos a graça de nele poderemos participar. Estava para ser selado o pacto de traição por parte de um amigo, e o coração de Jesus ansiava pela sua Paixão.

Seja esta a Páscoa da nossa vida, precisamente neste tempo que nos dá a viver. Não somente fechados em casa, mas sobretudo paralisados pelo medo de um inimigo invisível. Não temos outro tempo, não teremos outra Páscoa! Somente esta, em que Jesus clama mais alto do que nunca: «desejei ardentemente comer esta páscoa convosco» (Lc 22, 15-16).

Padre Carlos Silva

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08 de Abril de 2020