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Igreja em Rede: Quinta-feira da Semana Santa – “Amou-os até ao fim.” (Jo 13, 1-15)

Igreja em Rede - formato diocese

Liturgia de Quinta-feira da Semana Santa

Comentário do Padre Daniel Nascimento

“O amor nos tempos de cólera” é o sugestivo título de um livro do escritor colombiano Gabriel García Márquez. Talvez não seja descabido adaptá-lo ao dia de hoje, se em vez de “cólera”, que pode significar uma doença, pensarmos naquela outra pandemia que tanto tem feito sofrer.

Isto porque hoje é o dia do amor: é Quinta-Feira Santa, dia da instituição dos Sacramentos da Eucaristia e da Ordem, dia em que o Senhor Jesus nos mostra o que é verdadeiramente o Amor (e a maiúscula é importante), do qual nada nos poderá separar.

Hoje cantamos como refrão do salmo responsorial, “o cálice de bênção é comunhão do sangue de Cristo”. A expressão faz referência à Ceia Pascal judaica, onde um dos cálices utilizados era, precisamente, o da “bênção”. Tomamos parte, portanto, com Jesus, numa Ceia de Páscoa, onde a todas as ressonâncias judaicas de passagem da escravidão à liberdade se junta a “comunhão do sangue de Cristo”. Ora, “comunhão”, nos seus vários significados, é algo de fundamental para um cristão, e é bom que nos lembremos disso nestes dias em que tantos não podem “comungar”, pela falta de acesso direto à Eucaristia.

Mas hoje todos, mesmo os que geralmente comungam na missa somente do pão, são chamados a olhar mais atentamente para o cálice. Na Bíblia, esta palavra aponta frequentemente para um tomar parte no sofrimento, como sabemos de várias expressões de Jesus, por exemplo: “Pai, afasta de mim este cálice…” (Mt 26,39). Mas o significado mais geral é o da porção que Deus determina para cada um, seja ela de angústia ou de alegria. Mais, indica sobretudo uma experiência partilhada!

Por isso olhamos para o cálice da nova aliança no sangue de Jesus e, de alguma forma, vemos nele as alegrias e esperanças, tristezas e angústias da nossa vida, sabendo que as trevas da existência humana são assumidas por Aquele que dá a vida por nós, ensinando-nos a viver o Amor que vem do Pai. Assim, faz sentido rezar como o salmista, ainda que estas palavras, em tempos de “cólera”, talvez nos sejam difíceis de pronunciar: “como agradecerei ao Senhor tudo quanto Ele me deu? Elevarei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor”.

Agradecemos ao Senhor porque podemos partilhar a nossa vida; elevamos o cálice da salvação, na medida em que tomamos parte, com Ele e com os outros, nesta experiência de Amor que é a Vida!

Padre Daniel Nascimento

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09 de Abril de 2020